Page 120 - Revista da Armada
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Qual o objectivo de treino do CTG que se  ção marítima (MIO – Maritime Interdiction  fase muito precoce do meu comando como
         enquadra neste ponto?              Operations) para incluir acções identifica-  COMPOTG, que o emprego da força deverá
           Ao agirmos em defesa de valores interna-  ção, seguimento e abordagem (boarding) de  respeitar um princípio de acção segundo di-
         cionalmente (universalmente?) reconhecidos,  contactos de interesse. Note, que todas es-  ferentes camadas (do inglês, layered): posto
         teremos de assumir uma postura, e de trans-  tas missões foram já identificadas no nosso  de forma simples, as unidades combatentes
         mitir uma mensagem, que se deve alinhar  processo de construção teórico, e que, dado  (FFGH) garantem a protecção (AWW e ASW),
         com a noção de “força para o bem”. O CTG  o treino que tem sido feito noutras vertentes,  constroem um panorama em profundidade
         definiu assim que as acções teriam de aten-  houve a preocupação de privilegiar um deter-  e difundem a informação; as unidades com
         der à necessidade de baixar o ambiente de  minado conjunto de operações, para garantir  menor valor militar (FS), processam os dados
         conflituosidade, para o que foi implementa-  que, ao longo do ano operacional, o proces-  para apoiar o respectivo comandante no pro-
         do, não só um perfil restritivo de Regras de  so de preparação da PO TG se desenrola de  cesso de decisão que conduz à intercepção,
         Empenhamento (ROE – que determinam o  forma equilibrada.              abordagem, escolta, e protecção da navega-
         grau de utilização da força), como                                            ção num espaço interior.
         foi determinado um indicador de                                                 Se para as FFGH este conceito
         vontade política (PPI) que visava o                                           é relativamente linear, havendo
         decréscimo da tensão. Pretendeu-                                              apenas que considerar que estão
         -se, sobretudo, testar a conduta e                                            a operar com navios que não dis-
         o comando e controlo ao nível in-                                             põem de sistemas automáticos de
         termédio, designadamente no que                                               tratamento de dados tácticos (Tac-
         toca à gestão das ROE e, em con-                                              tical Data System - TDS), já para as
         sequência, ao uso da força. A novi-                                           FS pede-se que:
         dade relativamente a outros exer-                                               - saibam operar em força e co-
         cícios é a condução das operações                                             nheçam as regras básicas de defe-
         sob o referido indicador (PPI - X),                                           sa própria, para o que integraram
         aspecto que em ocasiões ante-                                                 as séries tácticas, onde tiveram a
         riores se tem jogado no plano da                                              oportunidade de praticar mano-
         “manutenção do status quo” (PPI                                               bras anti-torpédicas, e de se fami-
         – Y), opção que se pode entender                                              liarizar e executar procedimentos
         como mais permissiva.                                                         de defesa anti-míssil e anti-FBA
           Repare no encadeamento: “ac-                                                (aeronaves portadoras de bom-
         ção em defesa de valores universais” – “força   d. Impõe-se, por fim, identificar e planear  bas). Como todas estas manobras exigem
         para o bem” – “restrições ao uso da força”.  o modo como iremos empenhar as forças e  grande à-vontade e são feitas com os navios
           b. (Onde defender) O cenário aludia a uma  os meios (aspecto mais detalhado do “como  em proximidade, foram também conduzidos
         situação “fora-de-área”, para cuja resolução  defender”). Para o fazer, é importante saber  exercícios de manobras e evoluções que vi-
         Portugal entendeu contribuir através do em-  primeiro que forças e meios estão disponíveis  sam desenvolver as perícias dos oficiais de
         penhamento de uma Força Naval (PO TG). A  e, de seguida, desenvolver um conceito para  quarto à ponte.
         ser verdadeira, tal eventualidade materializa-  o seu emprego.          - construam e mantenham um panorama
         ria uma necessidade de projecção de força,   No caso vigente, a POTG era constituída  de superfície ao nível táctico, para o que se
         o que é um requisito coerente com o enqua-  por uma fragata da classe “Vasco da Gama” (o  procuraram explorar os novos sistemas de
         dramento teórico que se estabeleceu. Dentro  NRP “Corte Real”) e por três corvetas (NRP’s  que os navios dispõem, como o C2PC;
         deste âmbito foram objectivos do CTG tes-  “João Roby”, “Baptista de Andrade” e “Antó-  - garantam, a defesa própria contra amea-
         tar o aprontamento da força, bem                                              ças assimétricas, para o que se rea-
         como a capacidade de sustenta-                                                lizaram séries específicas e se testa-
         ção, na ausência de suporte logís-                                            ram diferentes soluções ao nível da
         tico no teatro de operações.                                                  organização interna dos navios;
           c. (Como defender) As questões                                                - mantenham o controlo próxi-
         relacionadas com a capacidade                                                 mo da situação de superfície, pro-
         ASW, ASUW e AAW, sobre cuja                                                   cesso para o qual pode contribuir
         lógica me pronunciei, foram ob-                                               a integração de novos equipamen-
         jecto de séries dedicadas em que                                              tos, como é o caso da utilização
         se recorreu ao apoio de aeronaves                                             da câmara óptica / infra-vermelhos
         da FAP, bem como a outras uni-                                                (IR) nas tarefas de vigilância.
         dades navais de superfície (LFR) e                                              Todas estas necessidades confi-
         submarinas para agirem como for-                                              guraram igual número de objec-
         ças oponentes (OPFOR).                                                        tivos de treino. Para responder às
           Recordando que num passa-                                                   dúvidas do leitor, repare que se
         do recente se testou a acção de                                               garantirmos a proficiência dos na-
         uma força naval numa situação                                                 vios nestes campos, e entender-
         de apoio humanitário (matéria objecto de  nio Enes”). A Standing NATO Maritime Group  mos como isso pode resultar em benefício do
         um artigo recente na RA), e que os exercí-  1 (SNMG1), força naval permanente da NATO  conceito de emprego atrás enunciado, então
         cios da série LUSÍADA e SWORDFISH en-  comandada pelo CALM Pereira da Cunha e  compreenderemos a utilidade das FS no con-
         volvem, invariavelmente, tarefas de resgate  constituída pelo NRP “Álvares Cabral” e pelas  texto mais alargado das operações militares.
         de cidadãos não combatentes (NEO), o INS-  fragatas FGS “EMDEN” e USS “KLAKRING”,   O relacionamento entre a força portugue-
         TREX foi pensado para exercitar a POTG em  participou a convite da Marinha Portuguesa.  sa e a força da NATO, teve como principal
         missões de apoio marítimo (tradução livre  O NRP “Bérrio”, que se encontrava no mar  objectivo testar as modalidades de coman-
         de Maritime Support Operations – MSO),  em treino assistido, integrou a TG portuguesa  do cooperativo, em particular o conceito de
         que envolviam a protecção e a escolta de  apenas durante parte do exercício.  “comando apoiante” / “comando apoiado”.
         navios mercantes (abrangendo o combate à   Dado o desnível de capacidades entre  Existindo duas forças, foi possível configurar
         pirataria e defensive boarding), e de interdi-  os navios da esquadra, defini, logo numa  um empenhamento num contexto multina-

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