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Qual o objectivo de treino do CTG que se ção marítima (MIO – Maritime Interdiction fase muito precoce do meu comando como
enquadra neste ponto? Operations) para incluir acções identifica- COMPOTG, que o emprego da força deverá
Ao agirmos em defesa de valores interna- ção, seguimento e abordagem (boarding) de respeitar um princípio de acção segundo di-
cionalmente (universalmente?) reconhecidos, contactos de interesse. Note, que todas es- ferentes camadas (do inglês, layered): posto
teremos de assumir uma postura, e de trans- tas missões foram já identificadas no nosso de forma simples, as unidades combatentes
mitir uma mensagem, que se deve alinhar processo de construção teórico, e que, dado (FFGH) garantem a protecção (AWW e ASW),
com a noção de “força para o bem”. O CTG o treino que tem sido feito noutras vertentes, constroem um panorama em profundidade
definiu assim que as acções teriam de aten- houve a preocupação de privilegiar um deter- e difundem a informação; as unidades com
der à necessidade de baixar o ambiente de minado conjunto de operações, para garantir menor valor militar (FS), processam os dados
conflituosidade, para o que foi implementa- que, ao longo do ano operacional, o proces- para apoiar o respectivo comandante no pro-
do, não só um perfil restritivo de Regras de so de preparação da PO TG se desenrola de cesso de decisão que conduz à intercepção,
Empenhamento (ROE – que determinam o forma equilibrada. abordagem, escolta, e protecção da navega-
grau de utilização da força), como ção num espaço interior.
foi determinado um indicador de Se para as FFGH este conceito
vontade política (PPI) que visava o é relativamente linear, havendo
decréscimo da tensão. Pretendeu- apenas que considerar que estão
-se, sobretudo, testar a conduta e a operar com navios que não dis-
o comando e controlo ao nível in- põem de sistemas automáticos de
termédio, designadamente no que tratamento de dados tácticos (Tac-
toca à gestão das ROE e, em con- tical Data System - TDS), já para as
sequência, ao uso da força. A novi- FS pede-se que:
dade relativamente a outros exer- - saibam operar em força e co-
cícios é a condução das operações nheçam as regras básicas de defe-
sob o referido indicador (PPI - X), sa própria, para o que integraram
aspecto que em ocasiões ante- as séries tácticas, onde tiveram a
riores se tem jogado no plano da oportunidade de praticar mano-
“manutenção do status quo” (PPI bras anti-torpédicas, e de se fami-
– Y), opção que se pode entender liarizar e executar procedimentos
como mais permissiva. de defesa anti-míssil e anti-FBA
Repare no encadeamento: “ac- (aeronaves portadoras de bom-
ção em defesa de valores universais” – “força d. Impõe-se, por fim, identificar e planear bas). Como todas estas manobras exigem
para o bem” – “restrições ao uso da força”. o modo como iremos empenhar as forças e grande à-vontade e são feitas com os navios
b. (Onde defender) O cenário aludia a uma os meios (aspecto mais detalhado do “como em proximidade, foram também conduzidos
situação “fora-de-área”, para cuja resolução defender”). Para o fazer, é importante saber exercícios de manobras e evoluções que vi-
Portugal entendeu contribuir através do em- primeiro que forças e meios estão disponíveis sam desenvolver as perícias dos oficiais de
penhamento de uma Força Naval (PO TG). A e, de seguida, desenvolver um conceito para quarto à ponte.
ser verdadeira, tal eventualidade materializa- o seu emprego. - construam e mantenham um panorama
ria uma necessidade de projecção de força, No caso vigente, a POTG era constituída de superfície ao nível táctico, para o que se
o que é um requisito coerente com o enqua- por uma fragata da classe “Vasco da Gama” (o procuraram explorar os novos sistemas de
dramento teórico que se estabeleceu. Dentro NRP “Corte Real”) e por três corvetas (NRP’s que os navios dispõem, como o C2PC;
deste âmbito foram objectivos do CTG tes- “João Roby”, “Baptista de Andrade” e “Antó- - garantam, a defesa própria contra amea-
tar o aprontamento da força, bem ças assimétricas, para o que se rea-
como a capacidade de sustenta- lizaram séries específicas e se testa-
ção, na ausência de suporte logís- ram diferentes soluções ao nível da
tico no teatro de operações. organização interna dos navios;
c. (Como defender) As questões - mantenham o controlo próxi-
relacionadas com a capacidade mo da situação de superfície, pro-
ASW, ASUW e AAW, sobre cuja cesso para o qual pode contribuir
lógica me pronunciei, foram ob- a integração de novos equipamen-
jecto de séries dedicadas em que tos, como é o caso da utilização
se recorreu ao apoio de aeronaves da câmara óptica / infra-vermelhos
da FAP, bem como a outras uni- (IR) nas tarefas de vigilância.
dades navais de superfície (LFR) e Todas estas necessidades confi-
submarinas para agirem como for- guraram igual número de objec-
ças oponentes (OPFOR). tivos de treino. Para responder às
Recordando que num passa- dúvidas do leitor, repare que se
do recente se testou a acção de garantirmos a proficiência dos na-
uma força naval numa situação vios nestes campos, e entender-
de apoio humanitário (matéria objecto de nio Enes”). A Standing NATO Maritime Group mos como isso pode resultar em benefício do
um artigo recente na RA), e que os exercí- 1 (SNMG1), força naval permanente da NATO conceito de emprego atrás enunciado, então
cios da série LUSÍADA e SWORDFISH en- comandada pelo CALM Pereira da Cunha e compreenderemos a utilidade das FS no con-
volvem, invariavelmente, tarefas de resgate constituída pelo NRP “Álvares Cabral” e pelas texto mais alargado das operações militares.
de cidadãos não combatentes (NEO), o INS- fragatas FGS “EMDEN” e USS “KLAKRING”, O relacionamento entre a força portugue-
TREX foi pensado para exercitar a POTG em participou a convite da Marinha Portuguesa. sa e a força da NATO, teve como principal
missões de apoio marítimo (tradução livre O NRP “Bérrio”, que se encontrava no mar objectivo testar as modalidades de coman-
de Maritime Support Operations – MSO), em treino assistido, integrou a TG portuguesa do cooperativo, em particular o conceito de
que envolviam a protecção e a escolta de apenas durante parte do exercício. “comando apoiante” / “comando apoiado”.
navios mercantes (abrangendo o combate à Dado o desnível de capacidades entre Existindo duas forças, foi possível configurar
pirataria e defensive boarding), e de interdi- os navios da esquadra, defini, logo numa um empenhamento num contexto multina-
10 ABRIL 2009 U REVISTA DA ARMADA