Page 135 - Revista da Armada
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nio Pereira, então embaixador de Portugal no alemão de Hitler a fomentar a construção de primeira vez a tomar contacto com a história
Reino Unido, cujo reconhecido gosto e entu- grandes veleiros antes da 2ª Guerra Mundial, do navio.
siasmo pela prática da vela e pelos grandes ve- passando pela sua genuína utilização como O Comandante António Manuel Gonçal-
leiros, a par da sua conhecida influência junto navios-escolas, mas também como transportes ves tem dois pontos do seu curriculum naval
do poder político português da altura, levaram de tropas no Báltico durante aquele conflito, relacionados com a “Sagres” que eu gostaria
a que o Governo português, de que ele veio descrevendo com pormenor os processos de de realçar:
entretanto a fazer parte como Ministro da Pre- partilha desses navios pelos Países Aliados no O primeiro, é o facto de ele ter embarcado
sidência, também se viesse a empenhar forte- pós-guerra, continuando seguidamente com no navio, como cadete, na viagem de instru-
mente junto do Governo ção ao Brasil de 1988,
brasileiro no sentido de com a coincidência de
se conseguir a decisão da ter estado por isso sob o
venda do “Guanabara” a Foto CAB L Figueiredo meu comando; esta via-
Portugal. gem teve a particularida-
Há contudo um por- de de nela se ter atingido
menor do curriculum do a segunda maior percen-
Dr. Teotónio Pereira, bem tagem de navegação ex-
demonstrativo do seu clusivamente à vela em
grande prestígio, que é o grandes viagens – 75%,
facto, não expressamente ex-aequo, aliás, com a da
referido pelo autor, de ele viagem de1984; a percen-
ter sido co-fundador da tagem recorde tinha sido
Sail Trainning Association, alcançada na viagem de
juntamente com o solici- 1982, sob o comando do
tador inglês Bernard Mor- então Comandante Lopes
gan, tal como ele também Cavalheiro, que incluiu a
grande amante da vela e célebre regata Newport/
dos veleiros. Só realmen- Lisboa em que a Sagres
te um cidadão estrangeiro obteve o honroso 1º lugar
de elevadíssimo prestígio O autor do livro, CTEN António Manuel Gonçalves. dos navios da classe A.
poderia ter obtido tão grande honra no Reino a história, viagens de instrução, missões de re- O segundo, reporta-se ao facto de, como
de Sua Majestade. presentação e outras navegações do ex-Albert oficial da guarnição do navio, ter obtido duas
Parece-me evidente poder concluir-se que Leo Schlageter, primeiro como Guanabara e “flâmulas azuis”, das quais se destaca a corres-
a interferência do Dr. Teotónio Pereira foi re- depois como Sagres, ao longo destes seus su- pondente ao quarto das 1600 às 2000 do dia
almente decisiva para o feliz desfecho que o cessivos destinos, e incluindo, por fim, interes- 5 de Dezembro de 1992, no trajecto entre as
caso teve para a nossa Marinha. santes excertos do seu conjunto de Livros de Bermudas e Lisboa, realizado debaixo de forte
A partir daí, ou seja, desde que foi aumen- Honra, cópias dos seus principais documentos temporal, em que o navio alcançou a espanto-
tado ao efectivo da Armada portuguesa em 8 históricos, efemérides respeitantes à sua vida e sa média de 13,98 nós, o record das “flâmulas
de Fevereiro de 1962, tanto no seu contributo diversos elementos sobre as suas característi- azuis”. Nesta viagem o navio estava sob o co-
para a formação de futuros oficiais e de outros cas e manobra, o autor conseguiu, através de mando do Comandante Malhão Pereira.
militares da Armada, como nas importantes uma utilização equilibrada e harmoniosa das No campo das curiosidades estatísticas con-
missões de representação tidas neste magnífico livro,
nacional em apoio da po- julgo também interessante
lítica externa do Estado, evidenciar o total das dis-
o navio tem de facto um Foto CAB L Figueiredo tâncias percorridas pelo
enorme manancial históri- navio até 2007: 594.532
co de relevantes serviços milhas (neste momento já
prestados à Marinha e ao ultrapassou até a barreira
País. E se a isso juntarmos das 600.000 milhas), o
as inéditas experiências, que, para dar uma ideia
peripécias e sentimentos da sua extensão, equiva-
vividos, quer pelos mui- leria a dar cerca de 28
tos milhares de oficiais, voltas ao mundo, seguin-
cadetes, sargentos e pra- do sobre um círculo má-
ças que o guarneceram, ximo, como por exemplo
quer pelas destacadas au- o Equador. Desta distân-
toridades (incluindo Pre- cia total:
sidentes da República) e - 21.278 milhas (o
tantos cidadãos comuns equivalente a 1 volta ao
e jovens que nele embar- mundo) foram percor-
caram, quer ainda pelos ridas, enquanto o navio
milhões de visitantes re- A jornalista Alexandra Borges recebendo o donativo para a Fundação “Filhos do Coração”. foi alemão, nas suas 3
cebidos a bordo nos portos escalados, seria descrições, dos textos e documentos repro- maiores viagens, em que numa delas foram
inimaginável a dimensão de um livro que pu- duzidos, das imagens apresentadas e dos da- escalados portos das Caraíbas e noutra o por-
desse registar tão vastas e, por vezes, tão mar- dos estatísticos, produzir uma excelente obra to do Recife;
cantes memórias e recordações. não só para regalo de todos os que de algum - 64.162 milhas (o equivalente a 3 voltas ao
Contudo, o Comandante António Manuel modo estiveram ligados à vida deste lendário mundo) enquanto o navio foi brasileiro, reali-
Gonçalves, ao lançar-se na aventura de criar navio, mas também para uma agradável sa- zando 79 viagens em que escalou exclusiva-
esta obra, tentou de certo modo fazê-lo. Des- tisfação da curiosidade daqueles que, através mente portos e fundeadouros brasileiros, à ex-
de os antecedentes que levaram o Governo do seu manuseamento e leitura, venham pela cepção de Montevideu;
REVISTA DA ARMADA U ABRIL 2009 25