Page 131 - Revista da Armada

EPÍLOGO 3 Só à vela, percorreu mais de 22 mil milhas, num to- guiu-se o discurso apologético feito pelo então Como-
tal de 314 dias. doro Manuel Sarmento Rodrigues.
4 Como é sabido, estas divisões “a régua e esqua- 17 O pai também morrera com uma idade avança-
Após o falecimento do ilustre Almirante, dro”, feitas em confortáveis gabinetes situados a gran- da (93 anos).
foi o seu lugar na Academia das Ciências de de distância dos territórios delimitados, vieram a causar 18 Nas suas disposições testamentárias, determinara:
Lisboa ocupado por outra brilhante persona- grandes problemas, pois muitas vezes não respeitaram “O caixão, de pinheiro, será pobre, para caber no jazigo
os acidentes naturais do terreno – como montes, rios onde está o meu nome. Vestir-me-ão os calções e casaco
gem: o então Capitão-Tenente Avelino Teixeira ou lagos – nem as áreas ocupadas pelas diferentes et- de caqui, como atravessei a África. Tudo pobre, como
da Mota, que se encarregou de redigir o elogio nias indígenas. nasci. Aliás, nunca fui Almirante a valer, mas autêntico
histórico do seu insigne antecessor, o mesmo 5 Acresce, ainda que a Marinha representava, na geógrafo de campo.”
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Na inscrição por si redigida deixara em branco o úl-
que, duas décadas antes, muito enaltecera a altura, o elo privilegiado de ligação ao Ultramar (ra- timo dígito do ano de falecimento, o qual, naturalmente,
zão, aliás, pela qual os respectivos ministérios eram
sua memória de fim de curso da Escola Naval acumulados na mesma pasta), pelo que os oficiais de não podia prever.
(sobre o problema da determinação da longitu- Marinha deviam estar preparados para desempenhar 20 Escreveu, ainda, argumentos de filmes (que desig-
de na primeira viagem de circum-navegação funções de natureza variada no âmbito da administra- nava por “apontamentos”), os quais nunca terão passa-
do Globo). O discurso foi proferido em sessão ção ultramarina. do ao ecrã por falta de financiamento, embora possam
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ter, eventualmente, servido de inspiração para algu-
Como esta designação sugere, o conflito deveu-se a
solene da Academia a 28 de Fevereiro de 1962. litígios, entre a população nativa, surgidos na sequência mas películas.
Dez anos depois, Teixeira da Mota tomaria a do desvio de alguns produtos hortícolas.
7 A própria equipa é conduzida como se fosse a guar- Fontes
seu cargo a compilação e publicação da obra
nição de um navio, não faltando, inclusive, um conselho COUTINHO, Carlos Viegas Gago, Algumas Deter-
completa do grande Sábio, reunindo textos pu- administrativo para controlar as despesas da missão. minações de Longitude Feitas Ultimamente em África, pela
blicados ao longo de várias décadas e que ver- 8 Ao longo da sua vida, sempre se orgulharia de ter Missão da Fronteira do Barotze: Tanto por Meio da Lua Como
sam temas de índole vária, desde a Geografia efectuado este percurso sem perder um único homem por Meio do Cabo Submarino, Coimbra, Imprensa da Uni-
da sua equipa. versidade, 1915
à História, passando por assuntos cientí- ID., Notas Autobiográficas, Boletim da Sociedade de
ficos em voga na sua época como a Teoria Geografia de Lisboa, Lisboa, Abril-Junho de 1959
da Relatividade Restrita, a Telegrafia Sem
Bibliografia
fios ou a Educação Física (ele que desde a BIOGRAFIA E AUTOBIOGRAFIA de Carlos Vie-
adolescência praticara ginástica de apare- gas Gago Coutinho, CITI, www.citi.pt/cultura/histo-
lhos e mesmo com uma idade avançada ria/personalidades/gago_coutinho/biografia.html
ainda se treinava numas argolas penden- [consultado em 11 de Fevereiro de 2009]
BOLÉO, José de Oliveira, Gago Coutinho e Sacadu-
tes de uma trave do tecto da sua casa na ra Cabral, Lisboa, Sociedade de Geografia, 1972
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Rua da Madragoa) . CANAS, António Costa, “Vice-Almirante Sar-
Em 1967 foi o seu nome atribuído à se- mento Rodrigues (1869-1959) Patrono do Curso de
gunda das três fragatas da classe “Pereira 1973”, Patronos dos Cursos Tradicionais da Escola Naval
1936-2007, coord. Carlos Valentim, Almada, Escola
da Silva”. Em 1999, dez anos depois do Naval, Outubro de 2007, pp. 263-267
abate ao efectivo daquele escoltador oce- CHAVECA, Sebastião de Sousa, Gago Coutinho,
ânico, um outro “Gago Coutinho” veio Génio Invulgar Natural de S. Brás de Alportel, CIC,
Março de 2008
servir a Marinha, desta vez como navio CORREIA, Pinheiro, Gago Coutinho, Precursor da
oceanográfico. O baptismo desta última Navegação Aérea, Lisboa, edição de autor, 1965
unidade naval, pelo tipo de missões que CRUZ JÚNIOR, Abílio, “Sacadura Cabral, o Ho-
mem que Deu Asas à Marinha”, Revista da Armada,
lhe são atribuídas, terá sido, sem dúvi- nºs 330 e 331, Abril e Maio de 2000
da, uma homenagem mais adequada ao ESPARTEIRO, António Marques, Três Séculos no
eminente cientista que adoptou como Mar (1640-1910), 32 vols., Lisboa, Ministério da Ma-
rinha, Colecção Estudos, 1973-1987
patrono. FERNANDES, Tiago Azevedo (publ.), “Coronel
Entretanto, fora o seu nome também es- Sarmento de Beires – Notas Biográficas”, Baixa do
colhido para designar o curso de cadetes Porto, www.porto.taf.net/docs/beiresbrasil.pdf
que entrou na Escola em 1973, uma deci- [consultado em 2 de Fevereiro de 2009]
LEITÃO, António Egídio de Sousa, “Apresenta-
são tomada por ocasião da passagem dos Almirante Gago Coutinho. ção e Carreiras Navais de Gago Coutinho e Saca-
cinquenta anos sobre a histórica ligação dura Cabral”, Comemorações dos 75 Anos da Primeira
transatlântica entre Lisboa e o Rio de Janeiro. 9 Nunca exigiu direitos de patente pelo invento, satis- Travessia Aérea Lisboa-Rio de Janeiro por Gago Coutinho e Sa-
Por fim, há que mencionar um infindável fazendo-se com o reconhecimento da sua autoria. cadura Cabral, Lisboa, Academia de Marinha, 1997
10 Em 1919, Sarmento de Beires pedira autorização LEMOS; Carlos M. Oliveira e, O Almirante Gago Cou-
número de referências que a toponímia na- para efectuar um voo entre Lisboa e Pernambuco, ten- tinho, Lisboa, Instituto Hidrográfico, 2000.
cional consagra a esta incontornável figura da do-lhe sido recusada a autorização por parte dos seus MARINHO, J. Teixeira, O Almirante Gago Coutinho,
nossa História, nascida há 140 anos e falecida superiores. Em 1920, sem autorização do Ministério da Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1943
MENDES, H. Gabriel, O Geógrafo Gago Coutinho. A Ho-
há 50. E não é, decerto, por acaso que uma de- Guerra, o mesmo oficial tentara, juntamente com Bri-
to Pais, efectuar a ligação aérea Lisboa-Madeira, falha- menagem que Ainda Não Teve a Sua Mensagem Cartográfica,
las é a da avenida que desemboca no actual do a aterragem devido ao nevoeiro e acabando por ser separata do Boletim do S.C.E., nº 42. Vol. VIII, 1973
MADAÍL, Fernando, “O Aviador a Quem Chama-
Aeroporto de Lisboa, do qual partem, hoje, socorrido por um navio mercante inglês. No entanto, vam Sábio-Marinheiro”, Diário de Notícias, 28 de Ju-
voos muito menos aventurosos do que a me- a 20 de Junho de 1924, os dois aviadores conseguiram
completar o raid aéreo Lisboa Macau. Três anos de- nho de 2008
morável Travessia Aérea de 1922, mas sempre pois, Beires, juntamente com Jorge de Castilho e Ma- MOTA, Avelino Teixeira da, Elogio Histórico do Almi-
buscando novos horizontes, tal como Gago nuel Gouveia, efectuaria a travessia do Atlântico Sul rante Gago Coutinho, proferido na sessão solene de 28 de
Coutinho nunca deixou de fazer ao longo da em voo nocturno. Fevereiro de 1962, separata do Boletim da Academia das
11 Sem prejuízo de poder apoiar, também, as iniciativas Ciências de Lisboa, vol. 34, Janeiro-Fevereiro de 1962
sua longa e profícua existência. dos seus “rivais”, como sucedeu no final do raide Lisboa- MOTA, Avelino Teixeira da (org.), Obras Completas
Z Macau, em que a canhoneira “Pátria” providenciou o de Gago Coutinho. Obras Técnicas, Científicas e Históricas
J. Moreira Silva transporte de Beires e Pais entre Hong Kong e Macau. (1893-1921), vols. I (1893-1915) e II (1917-1921), Lisboa,
12 Ocorrida menos de um ano antes, mais concreta- Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1972-75
CTEN
mente a 19 de Outubro de 1921. PEREIRA, Jorge M. Ramos, Gago Coutinho, Geógrafo,
Notas 13 Por isso mesmo baptizado como “Lindy Hop”, que, Lisboa, Ministério da Educação Nacional, 1973
1 Assim consta na sua certidão de nascimento, embora na altura, deu o nome a uma dança da moda. REIS, Manuel dos, CORTESÃO, Armando, Gago Cou-
haja quem lhe atribua nascimento algarvio (S. Bartolo- 14 Refere, por exemplo a lealdade e a dedicação dos tinho Geógrafo, sep. de Memórias da Academia das Ciências
meu de Messines), apoiado, sobretudo, no facto de am- seus companheiros nativos, com os quais perdera todos de Lisboa, Tomo XIII, Coimbra, Junta de Investigações
bos os pais serem naturais de Faro e de durante muito os preconceitos e vira desmentida a alegada superiori- do Ultramar, 1969
tempo terem vivido naquela região. dade da raça branca, então muito apregoada. REIS, Ricardo, “Sarmento de Beires: a Primeira Tra-
2 Esta questão só ficou definitivamente resolvida com 15 Ocupando, na Secção de Ciências Aplicadas e His- vessia Nocturna do Atlântico Sul”, UP, Dezembro de
a morte do sultão, embora a Inglaterra tenha proposto tória das Ciências, a vaga do eminente historiador ma- 2008, p. 146
uma mediação sob arbitragem da Holanda, que Portu- rítimo Luciano Pereira da Silva. TAYLOR, John W. R., Pioneiros da Aviação, Porto, Liv.
gal recusou. 16 Na sessão em que foi proposta a promoção distin- Civilização, 1958
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