Page 20 - Revista da Armada
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Alocução do Almirante CEMA
Alocução do Almirante CEMA
m primeiro lugar saúdo os Marinheiros que neste momento parte dos meios de que dispomos, é um factor condicionante da
se encontram em missão, muito em especial os destacados nossa capacidade para bem cumprir a missão e, até, de atrairmos e
Eno Afeganistão, bem como aqueles que cumprem as suas ta- retermos os recursos humanos de que necessitamos. Por isso, tenho
refas no mar. Lembro, igualmente, todos os servidores da Marinha procurado por todos os meios ao meu alcance evidenciar a urgente
que, no seu posto de trabalho, tornam possível os desempenhos necessidade da renovação da Esquadra antes que as condicionantes
operacionais. de operação se transformem em impossibilidade.
Agradeço, também, a disponibilidade dos ilustres convidados Novos atrasos nos programas dos Patrulhas Oceânicos e nas Lan-
que nos distinguem com a sua presença nesta cerimónia. Cerimó- chas de Fiscalização Costeira, serão impeditivos do cumprimento de
nia cujo significado nos é particularmente caro, enquanto teste- algumas missões, para além de obrigarem à afectação de recursos
munho simbólico da essência da Marinha, ou seja, da afirmação financeiros e humanos desproporcionados na manutenção das cor-
da disponibilidade dos seus meios para operar quando e onde ne- vetas e dos patrulhas da classe “Cacine”. Trabalha-se para o evitar.
cessário. O meu muito obrigado pela Vossa presença. Sejam bem- Felizmente, os desafios que temos pela frente evidenciam outras
vindos à Marinha dos Portugueses. perspectivas bem animadoras. Contrastando com os que atrás aludi,
Marcamos, hoje, o início do ano operacional 2008/2009, mo- é com enorme satisfação que, passados dezassete anos desde o au-
mento propício para se fazer um balanço do ano anterior, para se mento ao efectivo das fragatas da classe “Vasco da Gama”, iremos
perspectivar a activida- receber duas fragatas de
de para o novo ano ope- igual valia militar, estan-
racional e para me diri- Foto SAJ FZ Silva do prevista para o dia 16
gir, em especial, àqueles de Janeiro de 2009 a en-
que, no mar, dão o me- trega à Marinha da pri-
lhor do seu esforço e meira, que será o N.R.P.
dedicação à Marinha, e “Bartolomeu Dias”.
portanto ao País. No passado dia 15 de
Julho, tive a honra de
Distintos convidados participar, na cerimónia
A Marinha continua a de lançamento à água do
trabalhar num conjun- submarino “Tridente”,
to muito diversificado um dos dois que vamos
de missões, contribuin- receber em 2010/2011.
do para a construção da Estes meios, de elevadís-
paz e da segurança, para sima valia operacional e
o exercício da autorida- tecnológica, representa-
de do Estado nos espa- rão um enorme avanço
ços marítimos sob sua que se traduzirá numa
soberania e jurisdição e capacidade de afirmação
para o conhecimento do mar. Ao executar acções de serviço pú- a nível político-estratégico que Portugal não pode dispensar.
blico militar, típicas das armadas e não militares, características Nos próximos dois anos, prevê-se a recepção de vinte viaturas
das guardas costeiras, de forma a potenciar sinergias, consubs- blindadas de rodas com capacidade anfíbia. Trata-se de um desen-
tancia o paradigma operacional que designamos por Marinha de volvimento de grande significado para o Corpo de Fuzileiros pelo
duplo uso. aumento da capacidade de manobra táctica em situações de ris-
É neste quadro que a Marinha pode rentabilizar os recursos que co acrescido, permitindo o emprego destas forças em situações de
lhe são atribuídos, empenhando continuamente a Esquadra (com maior exigência operacional.
as suas unidades navais, de fuzileiros e de mergulhadores) e os Na sequência do recente aumento ao efectivo de duas embar-
meios operativos da Autoridade Marítima e do Instituto Hidrográ- cações salva-vidas da classe “Vigilante”, iremos brevemente pro-
fico, ao longo de todo o ano e vinte e quatro horas por dia ao ser- ceder ao baptismo da terceira Unidade de Apoio de Mar. São três
viço dos portugueses. embarcações de elevada capacidade, integralmente concebidas e
De facto, os indicadores operacionais referidos pelo senhor Vice- construídas no Arsenal do Alfeite, que vão reforçar o dispositivo
-Almirante Comandante Naval, no que concerne ao último ano, do Instituto de Socorros a Náufragos tornando-o ainda mais ca-
são gratificantes e motivadores, traduzindo bem o produto do in- paz para cumprir a sua nobre missão de salvamento de vidas hu-
vestimento que é feito. manas no mar.
Estes resultados são, também, a face visível do esforço e dedica- Sendo certo que estes novos instrumentos nos deixam bastante
ção de todos os que diariamente superam dificuldades na manu- satisfeitos e nos permitem encarar o futuro com algum optimismo,
tenção da Esquadra, bem como os que asseguram que ela é guar- não posso deixar de referir que a nossa ambição, ainda que tem-
necida por pessoal preparado e treinado de acordo com os mais perada pelo pragmatismo das reais capacidades do país, não pode
elevados padrões internacionais. deixar de ter em conta outras necessidades que reputo imprescindí-
Temos, no entanto, que reconhecer que estes indicadores não veis. Refiro-me, em concreto, ao Navio Polivalente Logístico, o mais
são susceptíveis de sustentação, sem que se concretizem im- conjunto de todos os meios do nosso sistema de forças, e aos navios
portantes investimentos de renovação programados há anos. de combate à poluição, todos eles vectores incontornáveis à nossa
Na realidade, apesar das corvetas e dos patrulhas apresentarem circunstância de nação que deve ao mar a sua existência e que nele
ainda uma taxa de operacionalidade aceitável, a longevidade des- reconhece um elemento central da sua identidade.
tes navios, alguns com mais de 35 anos de serviço, não garante a Continuaremos pois a aguardar com serenidade o arranque des-
continuidade daquela prestação, nem oferece os níveis tecnológi- tes projectos, já previstos designadamente na Lei de Programação
cos e de habitabilidade adequados às exigências de hoje. Militar, seguros da sua imprescindibilidade para a Marinha, para as
Tenho repetidamente afirmado que a idade avançada de grande Forças Armadas e para Portugal.
18 JANEIRO 2009 U REVISTA DA ARMADA