Page 27 - Revista da Armada
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ta cerimónia, socorrendo-nos de uma breve  das pela Marinha Francesa com o “Gymno-  Fevereiro de 1890.
         resenha histórica para enquadrar o nasci-  te”, em 1893, deu-se início à construção do   A comissão de análise do projecto, pre-
         mento, a importância e o esforço titânico dos  “Gustave Zedée”, com 266 toneladas e 48,5  sidida pelo Comandante Nunes de Carva-
         camaradas pioneiros da arma submarina,  metros de comprimento. Depois de um com-  lho, emitiu contudo um parecer desfavorá-
         numa época em que a mesma acabava de se  preensivelmente lento processo de constru-  vel à respectiva concretização pratica, com
         apresentar ao mundo como arma combaten-  ção e de experiências, só em 3 de Julho de  base nas limitações técnicas identificadas
         te, dotada de condições de segurança ainda  1901, o submersível efectuou o seu primeiro  no projecto.
         muito débeis.                                                                     Finalmente em 17 de Junho
           Quando em 1910 o então                                                        de 1910, o então Ministro da
         Ministro da Marinha – Co-                                                       Marinha Comandante João de
         mandante João de Azevedo                                                        Azevedo Coutinho, sob o con-
         Coutinho, “arrostou” com a                                                      selho autorizadíssimo do almi-
         responsabilidade de mandar                                                      rante Morais e Sousa, assinou
         construir o primeiro submer-                                                    a encomenda aos estaleiros
         sível português, a arma sub-                                                    Fiat San Giorgio do primeiro
         marina estava ainda na sua                                                      submersível para a Marinha
         vacilante infância e, não se an-                                                Portuguesa – baptizado NRP
         tevia a enorme influência que                                                    “Espadarte”, de cujas caracte-
         viria a ter durante as duas GG                                                  rísticas básicas se salientam as
         e, posteriormente, nos sucessi-                                                 seguintes:
         vos eventos bélicos e de forte                                                    - deslocamento 250 tone-
         tensão mundial.                                                                 ladas;
           Como referido em diversos                                                       - comprimento 45,15 m;
         escritos da época, e cito: “exis-                                                 - velocidade máxima em
         tia em Portugal algum cepticis-  As guarnições dos submersíveis “Foca”, “Golfinho” e “Hidra” no porto de La Spezia.  imersão 7,9 nós;
         mo quanto à arma submarina, até no seio da  lançamento de torpedo de exercício, ao lar-  - casco resistente para 40 metros de pro-
         própria Marinha. Só se pensava em cruza-  go de Toulon.               fundidade;
         dores e canhoneiras”.                Por seu turno, os Estados Unidos confia-  - 2 tubos lança torpedos AV;
           Preconceito similar parece ter acompanha-  ram a construção de submarinos ao Eng.º   O lançamento à água do “Espadarte”
         do os submarinos portugueses ao longo dos  Holland, conseguindo em 1899 passar a dis-  ocorreu no dia 5 de Outubro de 1912 e, a
         tempos, contudo, bem avisados andaram  por de um submersível de 75 toneladas.   entrega oficial fez-se em La Spezia às 11.00
         aqueles que corajosamente fomentaram o   Contudo, em 1914, os americanos já pos-  horas do dia 15 de Abril de 1913, sob o co-
         desenvolvimento da arma submarina na  suíam submersíveis de 1000 toneladas de  mando do 1.º tenente Joaquim de Almeida
         nossa Marinha e a têm mantido com digni-  deslocamento.               Henriques e com uma guarnição de 3 oficiais
         dade e brilhantismo há mais de 95 anos, sem   A Alemanha, só em 1903 decidiu come-  (Com.te Almeida Henriques, 2.º tenente Fer-
         interrupção, ao serviço do País.   çar a construir o seu primeiro submarino  nando Augusto Branco e guarda-marinha
           O desempenho operacional dos nossos  de combate, adoptando os motores Diesel  Eng.º maq. O’Sullivan Simões)  e 16 sargen-
         submarinos, nas quatro esquadrilhas exis-  em 1906.                   tos e praças.
         tentes até ao presente, permitiu ainda cons-  Estamos a falar de submersíveis de peque-  A viagem do “Espadarte” entre La Spezia
         ciencializar e consolidar a importância da  no deslocamento, com pouca manobrabili-  e Lisboa, feita sem escolta, foi absolutamente
         existência de uma escola de                                                     tormentosa e temerária, tratan-
         civismo e de disciplina espon-                                                  do-se de um submersível com
         tânea, inteligentemente aceite,                                                 apenas 250 toneladas de des-
         assente num específico espírito                                                  locamento.
         de camaradagem e de solida-                                                       O “Espadarte” largou de
         riedade, entre homens irmana-                                                   La Spezia na manhã de 4 de
         dos pelos mesmos riscos nas                                                     Maio de 1913, para uma via-
         profundezas oceânicas.                                                          gem inaugural de cerca de
           Nos submarinos se forjam                                                      1.400 milhas. Após múltiplas
         carácteres e se estreitam laços                                                 avarias, reparações, arribadas
         de amizade e de colaboração                                                     e violentas tempestades, a te-
         mútua, enquadrados numa                                                         nacidade e perseverança da
         postura singular de união, úni-                                                 sua guarnição fê-lo entrar or-
         ca em todas as Marinhas.                                                        gulhoso a barra do porto de
           O submarinista sente o cas-                                                   Lisboa às 08.35 horas do dia 5
         co do seu submarino como a                                                      de Agosto de 1913, três meses
         sua segunda pele. Vive com                                                      após a data da largada.
         a máquina e para a máquina,   Os submersíveis da 2ª Esquadrilha no porto da Horta.  Este exemplo de profissio-
         numa relação biunívoca sempre com o objec-  dade, ainda sem disporem de snort e, com  nalismo e de determinação, permitiu confi-
         tivo de optimizar o respectivo produto ope-  deficientíssimas capacidades de controlo  gurar a importância da criação de uma esco-
         racional, a fim de retirar o melhor proveito  do ar ambiente, necessitando de pelo me-  la de navegação submarina que, para além
         das suas capacidades, sem se preocupar com  nos 10 minutos para entrarem em imersão  da formação técnica especializada essencial,
         a “visibilidade” das acções.       “rapidamente”.                     começasse por transmitir às futuras guarni-
           O objectivo é sempre o cumprimento da   Em Portugal também ocorreram estudos e  ções, os altos valores da competência profis-
         missão atribuída. O serviço é silencioso, tem  definiram-se propostas para a construção de  sional, do aprumo moral, da dedicação e do
         que ser silencioso por definição.     submersíveis, designadamente com o apare-  espírito de sacrifício.
           Voltemos contudo ao despontar da “arma  cimento do projecto “Fontes” da autoria do   Os submersíveis requeriam um mane-
         submarina” como navio de combate.  1.º tenente João Augusto de Fontes Pereira  jo complexo e exigiam pessoal altamente
           Após as experiências promissoras realiza-  de Mello, apresentado ao Governo em 8 de  especializado e treinado, a fim de permitir
                                                                                      REVISTA DA ARMADA U JANEIRO 2009  25
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