Page 279 - Revista da Armada
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Zambeze, no sentido de montante a demo- dos, foi o caso de Cassenha, Sungo, Lupa- deira e os restantes eram marinheiros.
ra para percorrer a mesma distância era o ta, Bandarra, Tamara, Anquási, Chiramba, Para terminar e com base nos elementos
dobro em relação à viagem em sentido con- Mutarara, onde permanecemos dois dias. recolhidos a bordo em 1962 e 1972, resumi-
trário. Efeitos da força da àgua do rio. O Em 6/6 saímos com destino a Docuta, de- rei um pouco de história daquela que foi
mesmo viria a acontecer no Chire. pois Magagade, Saíca, Malheiro, Murraça, inicialmente a lancha canhoneira e mais
A passagem da “Tete” era motivo para Chindiu e já no rio Chire: Nema; Madaua; tarde lancha de fiscalização., ou seja o prin-
admiração e festa, por parte das popula- Moane; Bona Pona; Jornar; Vila Bocage; cípio e o fim da “Tete”.
ções que habitualmente faziam batuques no Supia; Pinda; Tola Tola; Megaza; Manuel Construída por Yarrow & Cª. Ldª.,foi
local onde a lancha atracava. Domingos; Port Herald; Missangue; Chi- montada pela Companhia da Zambézia de
Muitas vezes, depois de partirmos, o romb; e Chilombo, término da viagem Fevereiro a Maio de 1920, com o custo da
pessoal da terra ainda tentava acompa- no rio Chire. Depois de termos chegado a montagem de 1.100 libras. Data de entrega
nhar-nos ao longo da margem, cantando 14/6 saímos a 16/6 voltando a passar por em 25 de Maio desse ano.
e dançando. A paisagem física e humana, Chirombo, Chatengo, Megaza, Tola Tola, Ao longo dos tempos a “Tete” sofreu vá-
diversificava-se de região para região, só o Pinda, onde estivemos dois dias, depois rias reparações e beneficiações assim como
acolhimento era sempre igual. Vila Bocage, Jornar, Bona Pona, Madaua, as duas lanchas de apoio, que continuaram
Àcerca da paisagem, há a referir a dife- Ximuara, Lacerdónia, Chupanga, Mopeia, ao serviço, tendo até uma delas sido moto-
rença entre o Zambeze e o Chi- rizada. Estas lanchas passaram
re, este último que depois de a fazer parte do apoio a uma
Tete, também foi por nós visi- que chamaremos nova lancha,
tado, até à fronteira com o Ma- pois foi o aproveitamento do
lavi (antiga Niassalândia). casco e de algumas superes-
Enquanto o Zambeze era lar- truturas de um antigo navio
go e pouco profundo, com ex- da Sena Sugar Estates, chama-
tensões que formavam peque- do “Chire” cuja transformação
nas ilhas de areia onde muitas e motorização deu origem à
vezes se viam os crocodilos NRP “Sabre” (1972-1975)
estiraçados ao sol, que só com Mas, voltando à “Tete”, que
o ruído da máquina da “Tete”, fez a sua última viagem em
(semelhante ao ruído dos anti- 1971, acabou encalhada na
gos combóios, pouca terra-pou- praia do Chinde, de onde se
ca terra), se deslocavam para retiraram ainda alguns ma-
a água. O Chire, afluente do teriais, ferramentas e equi-
Zambeze, era estreito, muito pamentos que serviram para
estreito mesmo, mas bastante equiparem o NRP “Sabre”
profundo, e com curvas forte- como foi o caso das duas peças
mente acentuadas, que às ve- de artilharia. Faço notar que as
zes faziam com que a lancha duas lanchas de apoio tinham
tocasse nas margens devido à cada uma na zona da prôa um
força da àgua quando a nave- reparo para montagem da me-
gar no sentido da vazante. tralhadora.
Vou agora tentar descrever Acabou assim a história da
como funcionava a manobra O autor com o pessoal da guarnição da Lancha na serra da Morrumbala. lancha “Tete” que navegou um
de atracação da “Tete”. Marromeu, com a chegada a 20/6 e saída pouco mais de meio século principalmente
Na lancha de apoio do bordo onde se ia em 22/6 para o Luabo, a que se seguiu Fer- no rio Zambeze
atracar, eram colocados três marinheiros à nando, Magalhães, Chacuma e finalmente Por último deixo aqui as características
proa e outros tantos à popa da dita lancha. o Chinde com a chegada a 24/6/63. principais da “Tete”.
No momento em que havia sinais de enca- A navegação só se fazia durante o dia, - Comprimento de fora
lhe, entravam em acção esses marinheiros, mesmo assim houve uma vez que se enca- a fora .................................... 26,92 metros
que saltando para terra, cada um cumpria lhou no Zambeze, porque o local de passa- - Boca máxima ................... 6,15 “
uma determinada missão. gem escondia um banco de areia, embora - Calado máximo ................ 0,85 “
Assim, um levava uma espécie de esta- o calado da “Tete” fosse sómente de 0,85 - Velocidade máxima ........ 7/8 nós
ca (não era mais do que uma ponta de um metros. O desencalhe fez-se com o auxi- - Deslocamento -
carril em aço), pronta para ser espetada lio do escaler, transportando este o ferro (Toneladas métricas) .......... 73,32
na margem. Outro levava uma marreta de fundear que se largou no local mais - Propulsão – Duas máquinas a vapor
com que dava umas marretadas na dita es- profundo ao alcance da respectiva amar- alternativas horizontais de alta-pressão.
taca para a fixar e o terceiro transportava ra. Depois com o auxilio do cabrestante e Potência cêrca de 90 C.V.,que transmitiam
o cabo, que às vezes era de aço, e enfiava da máquina propulsora (neste caso era a movimento a uma roda propulsora, mon-
a mãozinha na estaca já preparada para o roda propulsora) o navio acabou por des- tada na popa.
receber. O que era feito na proa era igual- lizar pela areia. As lanchas de apoio eram mais peque-
mente feito na popa. No que respeita à guarnição, a europeia nas e tinham as seguintes características
Como pormenor destaco que os mari- era composta por um oficial da classe de principais:
nheiros autóctones praticavam o comércio marinha, Comandante, um sargento artífi- - Comprimento ................... 18,50 metros
de troca. Do Chinde levavam açucar, coco ce condutor de máquinas, um cabo foguei- - Boca .................................... 3,75 “
e sal, que trocavam por galinhas e às vezes ro motorista, e um marinheiro artilheiro. A - Calado ............................... 0,79 “
por um ou outro cabrito. Como exemplo guarnição autóctone compreendia 20 ele- (quando carregadas)
diria que um coco no Chinde custava $50 mentos, com diferentes categorias a saber: - Deslocamento ................... 30 toneladas
e em Tete valia 5 vezes mais. um piloto; um sota-piloto; um capitão da Z
Após a saída de Tete em 1/6, voltámos máquina; um capitão da caldeira; um aju- C. Batista Velez
a passar pela maioria dos lugares já visita- dante da máquina; dois chegadores da cal- 1TEN OTT
REVISTA DA ARMADA U AGOSTO 2009 25