Page 336 - Revista da Armada
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AOS CADETES DA ESCOLA NAVAL 7
Camaradagem e Justiça
Camaradagem e Justiça
Os pilares da ética militar
Os pilares da ética militar
aros cadetes, neste artigo falo-vos dos militares que usam de deferência, de Caros cadetes, a justiça manifesta-se nas
da camaradagem e da justiça, os estima e de respeito, acrescida de amizade, recompensas públicas concedidas aos su-
Cvalores militares que sustentam a de simpatia e de cordialidade no relaciona- bordinados que se destacam pela realiza-
ética na Marinha. mento com os outros. Por fim, exterioriza- ção de obras invulgares, cujo valor exce-
Ser camarada é patentear um sentimen- -se na lealdade e na admiração, fundadas de os parâmetros convencionados. Nestas
to de amizade fraterna e aglutinante, que na fidelidade e na franqueza, complemen- circunstâncias, serve de tónico para ali-
leva cada militar a cumprir os seus deve- tadas pelo sentimento de contemplação va- mentar o desejo do militar se superar e de
res e a assumir as suas responsabilidades lorativa recíproca entre os militares. praticar novas acções meritórias e positi-
segundo os ideais do grupo. Ser justo é usar a autoridade legal e regu- vas. Para os restantes militares, serve-lhes
Na prática, a camaradagem traduz-se na lamentar que todo o militar possui, de for- de estímulo para adoptarem uma condu-
forte ligação entre os militares, de forma ma prudente, firme, sensata e enérgica. ta semelhante à daquele que foi objecto
a que os esforços da referência elo-
individuais resul- giosa. Para a Ma-
tem coesos, o espí- rinha, resulta no
rito de corpo seja Foto 1SAR FZ Pereira fomento da admi-
sólido e a eficiên- ração pelos com-
cia da Marinha se portamentos dis-
torne relevante. tinguidos, o que
Estes efeitos notá- contribui para re-
veis são possíveis forçar o espírito
porque a camara- de corpo.
dagem transfor- A omissão de
ma as ambições recompensa a
pessoais legítimas quem se fez me-
que todo o militar recedor dela é
tem, em objecti- prova de egoís-
vos colectivos que mo. Concede-la a
toda a unidade quem não a mere-
militar persegue. ce é prova de fra-
A camarada- queza. Ambos os
gem cria a união, casos revelam in-
estabelece a con- constância e tibie-
fiança, fortalece as za, fruto da inve-
tradições e conso- ja e do medo, que
lida os ideais comuns a todos os membros Na prática, a justiça traduz-se na res- provocam o sentimento de comiseração e
da Marinha. Resulta do convívio fraterno ponsabilidade patenteada pelos militares desdém dos subordinados.
e cordial entre os militares, despido de ou- na promoção da disciplina, da coesão, da Ser justo também implica punir aqueles
tros interesses que não sejam servir e ser segurança, do valor e da eficácia da Ma- que cometeram infracções às leis e aos re-
útil, num clima de sinceridade e franqueza. rinha. Estes efeitos notáveis são possíveis gulamentos estabelecidos, ou desobede-
Por isso, é incompatível com rixas, conten- porque a justiça leva os militares a man- ceram às ordens emitidas legitimamente.
das ou discussões prejudiciais à harmonia terem uma conduta esclarecida e respei- A punição destina-se a coibir o seu autor
entre os militares e deve existir na paz e na tadora da dignidade humana, das regras de futuros desvios de conduta que pro-
guerra, no mar e em terra. Porém, todos do direito e dos regulamentos. voquem consequências nefastas. Para os
sabemos que os anseios, as incertezas e os A justiça evita os ressentimentos que restantes militares, serve-lhes de referên-
perigos associados ao cumprimento de ta- desencadeiam efeitos intensos, duradou- cia para não cometerem falta semelhante
refas operacionais tornam a camaradagem ros e desviantes do comportamento dos à daquele que foi alvo da punição. Para a
magnânime e sincera. membros da Marinha. Resulta do uso de Marinha, resulta no fomento da rejeição
Caros cadetes, a camaradagem mani- precaução e solidez nas exigências formu- pelos comportamentos desviantes, o que
festa-se na ajuda e na solidariedade, liga- ladas, bem como de ponderação e vontade contribui para reforçar a disciplina.
das ao apoio, ao auxílio e ao socorro, bem nos actos praticados. Por isso, é incompa- O uso de prepotência na aplicação da
como à ternura, à piedade e à fraternida- tível com despotismos ou cumplicidades pena, avilta e acanha os seus autores,
de pelos militares que carecem de ampa- que degradam o respeito mútuo entre os para além de desvalorizar e corroer os
ro. Também se exprime na confiança e na militares, e deve existir na paz e na guer- fundamentos da ética militar. Por isso,
familiaridade daqueles militares que acre- ra, no mar e em terra. Porém, todos sabe- a justiça requer tolerância, equilíbrio e
ditam na probidade e na perfeição dos ou- mos que as exigências, as dificuldades e adequação.
tros e, pela sã convivência, desenvolvem os riscos associados ao cumprimento das Z
com eles intimidade e amizade. Traduz-se, tarefas operacionais requerem uma justiça António Silva Ribeiro
igualmente, na consideração e no afecto pronta e impoluta. CALM
10 NOVEMBRO 2009 U REVISTA DA ARMADA