Page 337 - Revista da Armada
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PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL
Contra-Almirante
Contra-Almirante
Jayme Leotte do Rego
Jayme Leotte do Rego
ascido a 1 de Dezembro de 1867, na cidade de Lagos, Jayme Afonso Costa, e é eleito deputado. Continuará a sua luta na defesa da
Daniel Leotte do Rego ingressa na Escola Naval aos 19 anos. Marinha.
NEm princípios de 1888, já guarda-marinha, embarca na corve- A Grande Guerra deflagra em Julho de 1914. No ano seguinte, em
ta “Mindelo”, tendo então o seu baptismo de fogo, em Moçambique, Maio, Leotte do Rego opõe-se à ditadura militar do General Pimenta
nas operações do Pungué, durante as quais demonstra possuir eleva- de Castro e faz parte da Junta Revolucionária que, a 14 desse mês, pro-
das qualidades de bravura, coragem e serenidade, virtudes essas rei- vocará a queda do Ministério. A Marinha, cujo papel foi decisivo na
teradas ao longo de toda a sua vida. rebelião, teve como chefe Leotte do Rego que tomou o comando do
Na maior parte da década seguinte presta serviço em navios atri- cruzador “Vasco da Gama” e de bordo liderou a intervenção dos ou-
buídos à Divisão Naval da África Oriental. Assim, comanda a lancha- tros navios revoltosos, sendo posteriormente nomeado, em acumula-
canhoneira ”Maravi” e, após a promoção a 2º tenente, em 1890, o va- ção, Comandante-Chefe da Divisão Naval de Defesa e Instrução. Em
por “Auxiliar”, sendo agraciado com o grau de cavaleiro da Ordem Julho, já como candidato independente, é eleito deputado pelo círculo
da Torre e Espada. Comanda ainda os de Lagos, a sua terra natal.
vapores “Baptista de Andrade” e “Ne- Com o começo de 1916 é incremen-
ves Ferreira”. Entretanto, em 1891, ti- tada a pressão dos Aliados sobre a Ale-
nha sido secretário de António Ennes, manha e a política nacional nesse sen-
Comissário Régio de Moçambique e tido é clara, tendo em Leotte do Rego
após a promoção a 1º tenente, em 1894, um dos seus principais defensores.
ajudante de Jacinto Cândido, Ministro Assim, em 23 de Fevereiro, são apreen-
da Marinha e do Ultramar. didos todos os navios alemães surtos
Entra o novo século no seu quinto em portos portugueses do Continente,
comando, o da canhoneira “Mandovi” Ilhas e Ultramar. A ordem do Governo
que, em Fevereiro de 1903, navega para é transmitida ao Comandante da Divi-
Moçambique, onde durante um perío- são Naval de Defesa que, a bordo do
do de oito meses efectua trabalhos hi- contratorpedeiro “Douro”, superinten-
drográficos, interrompidos para exer- de a operação durante a qual foi içada
cer as funções de ajudante de ordens do a Bandeira Nacional em 35 navios ger-
Major-General da Armada, retornando, mânicos, no rio Tejo.
em 1904, a Moçambique para novo co- A 9 de Março a Alemanha declara
mando, o da canhoneira “Bengo”. guerra a Portugal. É nessa ocasião que
De regresso a Lisboa, por designa- Leotte do Rego, dirigindo-se ao então
ção do próprio rei D. Carlos, é nome- Presidente da República, Dr. Bernardino
ado oficial às ordens de importantes Machado, profere uma frase que ficou
individualidades estrangeiras de visita para a História: “Senhor Presidente. A
a Portugal. Marinha está pronta para o combate!”.
A promoção a capitão-tenente dá-se em Junho de 1906. Faz então a Devido, fundamentalmente, ao facto de ser comandada por um oficial
sua entrada na política, filia-se no Partido Franquista, tendo-se estrea- de excepcional craveira, a Divisão Naval de Defesa irá cumprir plena-
do em S. Bento na sessão de 21 de Fevereiro de 1907, como deputado mente as missões que lhe serão atribuídas.
por Moçambique. A 5 de Dezembro de 1917 o Major Sidónio Pais chefia uma revolta,
Em Agosto desse ano é comandante da canhoneira “Diu” que lar- assume as funções de Chefe de Estado e provoca a demissão do Go-
ga, em 1908, para Moçambique onde retoma os reconhecimentos hi- verno. Leotte do Rego, exonerado do seu comando exila-se em Paris, só
drográficos. regressando à Pátria em Março de 1919, e logo nesse mesmo mês é-lhe
Em princípios de 1910 é nomeado governador de S. Tomé e Prínci- concedido o grau de comendador da Ordem da Torre e Espada que se
pe. A duração do exercício do cargo é diminuta devido a mudanças na vem juntar ao de cavaleiro, ganho em 1892. O Governo inglês entrega-
pasta da Marinha e Ultramar que comprometem o governo de Leotte -lhe as insígnias da Ordem Militar do Banho, o francês as da Cruz de
do Rego. Chamado a Lisboa, denuncia a falta de apoio da Metrópole Oficial da Legião de Honra e o rei dos Belgas a grã-cruz da Ordem Mi-
e declara que sem este apoio preferia apresentar a sua demissão, que litar da Coroa da Bélgica.
foi aceite. Para ele a luta pelo engrandecimento da Marinha constituía A nova Câmara de Deputados aprova, em Novembro de 1919, a sua
o objectivo prioritário, pois essa situação, aliada a um bom governo do promoção a contra-almirante por distinção.
Ultramar, levaria também ao fortalecimento da Pátria que, na sua opi- No intervalo de uma sessão da Câmara de Deputados, a 25 de Julho
nião, deveria estar acima de tudo e de todos. Aderiu à República no de 1923, sofre um colapso cardíaco que virá a causar o seu falecimen-
início de 1911, já que lhe pareceu que o novo regime político melhor to no dia seguinte.
poderia corresponder aos seus desejos. Desaparecia do mundo dos vivos o Contra-almirante Jayme Daniel
Em Março de 1911, após repetidas solicitações, particularmente da po- Leotte do Rego, heróico combatente das campanhas de Moçambique,
pulação de S. Tomé e Príncipe, volta a ser nomeado governador daquele esclarecido governador ultramarino, chefe militar insigne que brilhan-
arquipélago, cessando funções em Novembro desse ano. O seu governo temente comandou as forças navais na I Guerra Mundial, parlamen-
ultramarino foi curto, repartido em dois regimes políticos distintos, mas tar íntegro e, acima de tudo, um ser honrado, detentor das mais belas
as medidas que tomou viriam a marcar profundamente uma das coló- qualidades humanas com as quais serviu a Monarquia e a República,
nias onde o tratamento dispensado ao indígena era questionado. pugnando sempre pelo engrandecimento da Marinha.
Em 1913 filia-se no Partido Republicano Português, liderado por Z
REVISTA DA ARMADA U NOVEMBRO 2009 11