Page 14 - Revista da Armada
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afastadas da sua base, virtualmente em qualquer      que inclui Communication Intelligence (CO-           Foto CAB L FigueiredoC. PRINCÍPIOS DE EMPREGO
parte do globo. Por outro lado, o facto de existir   MINT), Electronic Intelligence (ELINT) e Ima-          Percepcionadas as características e as ca-
a possibilidade de um submarino se encontrar         gery Intelligence (IMINT), os submarinos são
numa dada área marítima gera um efeito dissu-        indubitavelmente valiosos porque suportam            pacidades dos submarinos, torna-se possível
asor tremendo para as forças de superfície opo-      as funções chave da intelligence6, contribuin-       determinar os princípios de optimização do
sitoras, coaginda-as e limitando-lhes a iniciativa,  do decisivamente para desenvolver elementos          seu emprego, em quatro domínios distintos:
isto é, negando-lhes parcialmente ou totalmente      essenciais à condução das operações, nome-           operações autónomas, “shaping” do teatro
o uso do mar.                                        adamente no que se refere à disponibilidade          de operações, operações no litoral e explo-
                                                     de força, à logística, à sobrevivência e à pro-      ração da surpresa7.
  A flexibilidade de resposta dos submarinos          tecção de força.
não é uma característica que se identifica so-                                                               Operações autónomas. Não obstante a inte-
mente com o espectro da conflitualidade. De             O submarino é igualmente capaz de projec-          roperabilidade crescente entre os submarinos e
facto, há exemplos que demonstram como é             tar poder que permita influenciar os eventos em       as forças conjuntas e combinadas, em grande
que os submarinos podem ser empregues em             terra. Com efeito, as operações de infiltração e      parte devido ao desenvolvimento de tecnolo-
operações de cariz não militar. No passado, o        de recolha furtiva de forças especiais nos litorais  gia e de doutrina comum, os submarinos con-
Canadá empregou os seus submarinos do tipo           podem ser executadas pelo submarino com um           tinuam a ser ideais para missões que requeiram
“Oberon” na vigilância e na recolha de infor-        grau de sucesso dificilmente igualável por qual-      uma actuação isolada e autónoma. Conjugan-
mações relativas ao exercício ilegal da activida-    quer outro meio.A projecção de poder em terra        do a sua discrição, mobilidade e autonomia, o
de piscatória. A Colômbia e a África do Sul, por     também se pode materializar através do empre-        submarino possui uma grande capacidade de
seu turno, têm usado os seus submarinos para         go de mísseis de cruzeiro, ou outros, lançados       sobrevivência em ambiente hostil, o que lhe
executar missões de surveillance                                                                          permite capacidade de dissuasão e de inter-
no âmbito do combate ao narco-                       a partir da plataforma móvel e dificilmente de-
tráfico. Portugal tem empregue                        tectável que é um submarino em imersão. Esta                        dição do espaço do adversário,
igualmente os seus submarinos                        aptidão, conjugada com a de outras unidades                         correndo menores riscos que
em acções de surveillance que                        equipadas igualmente com esse tipo de armas,                        outras forças menos habilitadas
visam percepcionar e caracte-                        confere ao comandante de uma força conjun-                          para o efeito.
rizar eventuais alterações, não                      ta e combinada uma capacidade de projecção
só das áreas de incidência, mas                      de poder esmagadora contra os alvos terrestres                         Operações de “Shaping”.
também do modus operandi dos                         inimigos.                                                           Considerando as vantagens de
traficantes de droga na ZEE por-                                                                                          pré-posicionamento, de sobrevi-
tuguesa.                                               Por outro lado, as operações em terra a par-                      vência e de flexibilidade do sub-
                                                     tir do litoral requerem habitualmente uma ac-                       marino, o comandante apoiado
  Prontidão. Uma das poten-                          ção conjugada de exploração e de controlo                           pode conduzir operações de re-
cialidades dos submarinos re-                        do mar. Neste âmbito, os submarinos podem                           colha de informações, ataques
side na sua imediata dispo-                          conduzir operações anti-superfície com um                           contra terra, guerra de minas,
nibilidade para responder a                          nível muito baixo de risco próprio. Não me-                         luta anti-superfície, bloqueios
contingências. Esta característi-                    nos relevante é a circunstância dos submari-                        a portos, de modo a moldar o
ca assume contornos relevantes uma vez que           nos também possuirem capacidade para con-                           campo de batalha e potenciar a
o tempo é um dos factores de decisão mais            duzir guerra de minas, ofensiva e defensiva,                        subsequente condução das ope-
importantes na formulação e na operaciona-           e para preparar a área de operações através          rações. Após a chegada das “follow-on-forces”
lização das modalidades de acção. No actual          da localização e mapeamento das áreas mi-            à área de operações, o submarino pode ser em-
quadro securitário, a complexidade da confli-         nadas, contribuindo deste modo para as ope-          pregue numa outra área que requeira prepara-
tualidade favorece a rápida transição de cená-       rações de “shaping” e a inserção das “follow-        ção do espaço de batalha ou ser empregue na
rios de baixa intensidade para situações de cri-     -on-forces”.                                         protecção da força apoiada.
se e de combate, o que impõe aos meios navais                                                               Operações no litoral. As forças conjuntas
a capacidade de progressão célere para uma             Paralelamente, no que se refere à negação do       e combinadas que operam num litoral hostil
postura mais combativa. Os submarinos, por           uso do mar, o submarino executa igualmente           deparam-se na actualidade com uma com-
serem um sistema de armas compacto e muito           um conjunto de missões importantes orienta-          plexidade de ameaças que podem abranger,
integrado, com períodos de aprontamento re-          das tanto para o nível estratégico, como para o      entre outras, submarinos inimigos, minas, mís-
lativamente baixos quando comparados com             nível operacional. Por exemplo, os submarinos        seis guiados de elevada precisão provenientes
outras unidades navais, e por responderem ra-        podem impor bloqueios e afectar a liberdade          de terra, do ar e do mar, bem como ameaças
pidamente a qualquer crise sem terem de es-          de circulação nas linhas de comunicações ma-         menos convencionais, por exemplo, lanchas
perar pela preparação do teatro de operações,        rítimas, com inevitável impacte nas economias        e pequenos aviões controlados por terroris-
pela logística ou pela protecção de força, ga-       dos países adversários. Ao nível operacional,        tas. No planeamento operacional e na avalia-
rantem uma elevada prontidão na resposta às          a negação do uso do mar pode ser exercida            ção do risco, o comandante da força apoiada
diferentes ameaças.                                  como parte da defesa avançada de uma força           tem a possibilidade de explorar as diferentes
                                                     ou de uma área.                                      características do submarino, articulando-as
B. CAPACIDADES FUNDAMENTAIS                                                                               com os requisitos funcionais das forças con-
  Tendo em consideração as características                                                                juntas e combinadas, nomeadamente no âm-
                                                                                                          bito da protecção de força, intelligence e joint
já referenciadas e os recursos operacionais e                                                             targeting.
tecnológicos que hoje equipam os submari-                                                                   Exploração da surpresa. O último princípio
nos, torna-se lícito deduzir que estas platafor-                                                          optimizado de emprego do submarino é o da
mas são proficientes num conjunto específico                                                                exploração da surpresa. A sua aplicação assen-
de missões.                                                                                               ta no factor tempo, impedindo a antecipação
                                                                                                          objectiva e concreta de uma acção em curso,
  Uma das missões que o submarino con-                                                                    criando por esta via uma situação para a qual
duz com perfeita mestria é a recolha efectiva                                                             o adversário não está em condições de reagir
de informações, contribuindo decisivamente                                                                eficazmente. Para a concretização da surpresa
para as operações de intelligence. Capacita-                                                              por parte do submarino contribuem, entre ou-
dos para monitorizar áreas de diversa natu-                                                               tros factores, a sua discrição, a aplicação de um
reza5 e recolher informações, essencialmente                                                              potencial de combate inesperado e uma infor-
através de fontes Signal Intelligence (SIGINT),                                                           mação e contra-informação eficientes.

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