Page 25 - Revista da Armada
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As Mulheres na Marinha                                                                          2

Conversando com...

2ºSargento C Ana Martins

RA – Enquanto acertamos o gravador diga-nos de alumínio às refeições…                            AM - (Um olhar entre incrédula e apavorada…)
há quanto tempo está na Armada?                   RA – Não são de alumínio, são de inox.         RA – Alojadas em instalações restritas, claro.. O
                                                                                                 que fizeram?
AM – Faz dez anos em Junho, dia 18.               De alumínio eram, usados ainda nos             AM – Fizemos muitos SAR e Planos de Treino.
RA – Notável! Não sei em que dia entrei para anos sessenta, um prato fundo, um copo e três       Fomos muitas vezes à Madeira - Gostei muito de
a Escola Naval.                                                                                  ir à Madeira – Fomos a Portimão pois andáva-
                                                  talheres. Era equipamento pessoal. Comia-se    mos ali a fazer Fiscalização da Pesca. Nunca fui
AM– Ah! Foi um dia inesquecível…                                                                 ao estrangeiro, só quando, mais tarde, embarco
RA – Desculpe. O seu nome?                        o prato e, no fim, a sopa, nesse mesmo prato   na “Roby”.
                                                                                                 RA – Mas entretanto…
AM– Ana Martins.                                  passado por água ou nem isso.                  AM – Depois de um ano fui para o Curso de For-
                                                                                                 mação Marinheiro. Na “Sacadura” nunca tive
                                                  AM – Que horror!                               funções da minha especialidade, Comunicações.
RA – 2.º Sargento Ana Martins (AM). De fac- RA – Era o sistema inglês, nada adaptado ao          Pelo meu Cartão de Detalhe, como era a mais
to é, depois do intróito, a primeira página das                                                  marreta, fui dada à Cozinha…
                                                                                                 RA – Devia ser o Capitão!
nossas vidas. Assentou praça….Como foi?                                                          AM – Não! Porque entretanto veio um Filho da
                                                                                                 Escola e ele é que foi o Capitão.
AM – Na Escola de Fuzileiros. Primeiro fiz o re-                                                 RA – Ficava como… Capitoa!
crutamento, ali, em Alcântara.                                                                   AM – Não porque as Mif’s não fazem as limpe-
RA – Fazem os exames, etc., até que chega a                                                      zas dos Sanitários dos homens.
                                                                                                 RA – Mas isso é… descriminação!
carta e foi apresentar-se em Vale de Zebro.                                                      AM – Não! Eu era Faxina permanente… Fazía-
                                                                                                 mos às das mulheres! Mas fizemos uma escala
Quantas mulheres?                                                                                entre nós e era rotativa. Não fazíamos isso às
                                                                                                 pessoas…
AM - Éramos 25 mulheres e muitos homens…                                                         RA – Em longas comissões, de dois anos, era
RA – Não era portanto uma recruta de Fuzilei-                                                    duro. Mas…
                                                                                                 AM – Atracada, era muitas limpezas, manuten-
ros. Agora não é, pois é muito mais puxada…                                                      ção ao navio, aos amarelos e pouco contacto com
                                                                                                 a especialidade. Dependia do meu esforço, de-
AM – Penso que na altura havia umas turmas                                                       pois dos Serviços Gerais dava um salto ao Centro
para Fuzileiros.
RA – Chegou, e…                                                                                       e tentar apanhar alguma coisa mas o Curso
                                                                                                      de Grumetes não dava para muita coisa.
AM – Sim! Lembro-me que levei uma mala                                                                RA – E creio que “casam” a parte de Sina-
cheia de roupa e até um stock de toilette… pro-                                                       leiro com a de Telegrafista.
dutos de beleza. Preparei tudo com a minha                                                            AM – Exactamente. Era um curso de três
mãe.                                                                                                  meses em que tentavam explicar tudo a
RA – Bom… (não pudemos deixar de sorrir…                                                              seguir à Recruta e ainda por cima davam-
as duas malas, pensámos).                         2ºSargento C-Ana Martins                            -nos disciplinas de matérias que entretanto
                                                                                                      tinham sido abolidas. O curso estava muito
AM – Claro que rapidamente me apercebi que nosso tipo de alimentação... No meu primeiro               desactualizado.
foi um disparate. Nem tínhamos tempo e se ti- navio, assim que pudemos, em 1962, comprá-              RA – Homógrafo? E… Morse?
véssemosnãoestávamosautorizadas.Nasema- mos pratos e copos de vidro e talheres inox                   AM – Não. Já não tivemos. Morse, só no de
na seguinte, trouxe tudo para casa.                                                                   Marinheiros e só o luminoso, pois o acús-
RA – O «Necessaire» tornou-se… “des-              para as praças… do célebre «Saco Azul». O           tico já se não utilizava. Era mais o Procedi-
                                                                                                      mento Rádio Telefónico , aprender aqueles
necessaire”                                                                                           conceitos básicos…
                                                                                                     RA – E no Curso de Formação de Mari-
AM – Completamente desnecessário (en-                                                            nheiros?
tre mais risos).                                                                                 AM – Eram nove meses e muito mais comple-
RA – Quanto tempo?                                                                               to. Tínhamos Inglês, as disciplinas necessárias
                                                                                                 à organização, muitas aulas de Morse Lumino-
AM – Mês e meio!                                                                                 so… éramos só três, um camarada que agora é
RA - A recruta custou? A família gostou

da ideia?

AM – Sim! Custou, mas… Quando aca-
bou e fui a casa, os meus pais que tinham
um bar de praia em Santa Cruz, quando
cheguei, tinham lá um bolo enorme que
dizia «Parabéns» e com velinhas… os
meus pais fizeram-me uma festa de boas
vindas, a família toda, amigos da família…
RA – Tem irmãos?
AM – Um rapaz e uma rapariga! Eu sou a      Aula na Escola de Fuzileiros

do meio.                                          tabuleiro aparece, com o Self-service, quando
RA – Depois foi um embarque?
                                                  chegam os navios dos EUA.
AM – Na “Sacadura Cabral”. Éramos 14 AM – Mais civilizado!
Mif’s no meio de cerca de uma centena de ho- RA – Sim e não. Tivemos de mandar pôr por-
mens, não mais. Lembro-me dos tabuleiros tas nas… sanitas. Em todas!

                                                                                                 25REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011
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