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O CENTRO DE INVESTIGAÇÃO NAVAL (CINAV)
INTRODUÇÃO contextos externos em mutação permanente. AS ORIGENS
A expressão “Investigação, Desenvolvi- Por fim, há a considerar a existência da Escola
Naval (EN): como instituição universitária, a Em 10 de Fevereiro de 2010, por despacho
mento e Inovação” (IDI) abrange um leque EN tem a obrigação legal de produzir inves- do Almirante CEMA, foi criado o Centro de
muito vasto de actividades distintas, de tigação científica pura, actividade sujeita a Investigação Naval (CINAV), na dependên-
natureza fundamentalmente idêntica, mas avaliações periódicas por parte do Ministé- cia do Comandante da Escola Naval, para
que exigem competências e mecanismos de rio da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior promover, coordenar e supervisionar as
gestão substancialmente diferentes. Quando (MCTES); actividades de IDI desenvolvidas na Mari-
fazemos “desenvolvimento tecnológico”, 2) Imperativos decorrentes da missão. Para além nha, com excepção das áreas já coordenadas
os objectivos e preocupações centram-se dos imperativos directos, a Marinha tem de pelo Instituto Hidrográfico (IH). É, pois, no
em conceitos como desempenho fazer IDI por várias outras razões. Uma das seio do CINAV que deverão ser executados
e fiabilidade do equipamento a funções que decorrem dos seus objectivos os projectos de IDI dos órgãos e serviços da
desenvolver; quando fazemos de Missão é a contribuição para o desenvol- Marinha, com a já referida excepção das áreas
“investigação pura”, pelo contrá- vimento económico, cultural e científico na- coordenadas pelo IH. Como unidade de IDI
rio, a atenção centra-se no poder cional; daqui resulta a necessidade de apoio que é, o CINAV possui autonomia científica,
explicativo e preditivo da teoria e participação em projectos IDI cooperativos e uma estrutura orgânica que respeita os re-
desenvolvida. São realidades comasUniversidades, Institutos, Laboratórios quisitos legais impostos pelo Regime Jurídico
diferentes. No primeiro caso, o e Centros de Investigação do Sistema Cientí- das Instituições de Investigação (Decreto-Lei
sucesso mede-se em número de fico e Tecnológico Nacional (SCTN), e empre- 125/99).
produtos e patentes; no segundo, sas da chamada Base Tecnológica e Industrial
pelo número de publicações em Foi também cometida ao CINAV, de for-
conferências e revistas científicas, Nacional (BTIN). Finalmente, e embora mui- ma explícita, a responsabilidade por promo-
e seu impacto na ciência mun- tas outras razões pudessem ser invocadas
dial. Se a isto juntarmos outras (afirmação institucional, integração na socie- ver e apoiar as actividades de
realidades, como “investigação dade civil, responsabilidades históricas, ne- IDI da Escola Naval. Embora
aplicada” ou “inovação organi- cessidade de assegurar a evolução e progres- esta responsabilidade seja, na-
zacional”, para citar apenas mais so nas áreas científicas nucleares da Marinha, turalmente, derivável da missão
dois exemplos, é fácil perceber a etc.), realçaremos aqui apenas o papel que os genérica de promoção e coorde-
imensidade de coisas diferentes fundos externos disponíveis para activida- nação da IDI da Marinha, a sua
a que nos referimos, quando falamos em IDI. des de IDI podem representar, permitindo explicitação tem a vantagem de
colmatar, com projectos e desenvolvimentos fazer realçar e tornar aparente a
A Marinha tem responsabilidades em neste âmbito, carências e lacunas que, num dupla natureza das actividades e
muitas destas áreas de IDI, por duas ordens contexto de sérias restrições financeiras, di- âmbito de actuação do CINAV.
de razão: ficilmente seriam mitigáveis de outro modo. A IDI que mais directamente
interessa às Direcções Técnicas,
1) Imperativos directos. A obrigatoriedade de A importância da IDI para a Marinha está Sistema de Forças, e outras es-
produzir investigação aplicada na área das presentemente reflectida no facto de integrar truturas da Marinha, é de na-
Ciências do Mar (área genérica que, tradi- dois dos objectivos estratégicos definidos pelo tureza marcadamente aplicada
cionalmente, abrange disciplinas que vão Almirante CEMA para os próximos três anos, e pragmática, obrigando a que
da Oceanografia Física à Geologia Marinha, na recente Directiva de Política Naval – 2011. os projectos que corram nesse
passando pela Navegação, Hidrografia, Car- âmbito tenham como objectivo
tografia e muitas outras), é uma das missões o desenvolvimento de sistemas
particulares estabelecidas para a Marinha. e técnicas de elevado TRL (technical readiness
Encontra-se também explicitamente definida, level), capazes de conduzir a implementações
como missão das Forças Armadas, a procura rápidas de resultados e produtos. Já no que
constante de melhoria dos seus produtos e respeita à investigação pura, de carácter uni-
processos, através da investigação aplicada, versitário, que a Escola Naval tem de produ-
experimentação e inovação, nomeadamen- zir, os objectivos e indicadores de sucesso são
te garantindo a sua evolução e adaptação a substancialmente diferentes. A utilidade e in-
teresse da investigação aí realizada não deve
12 ABRIL 2011 • REVISTA DA ARMADA ser aferida pelas implementações a que possa
conduzir, mas sim pelo seu efeito nos proces-
sos de ensino e aprendizagem, na evolução
académica e intelectual de alunos e professo-
res, e no impacto da ciência produzida. São,
mais uma vez, realidades diferentes, cujo
sucesso se mede com indicadores diferentes:
número e qualidade de projectos e produtos,
num caso; número e qualidade das publica-
ções científicas conseguidas, no outro.
O CINAV assume-se, assim, como her-