Page 23 - Revista da Armada
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fico e aquilo que conhecíamos dos livros e          Oakland     o pouco espaço de tempo que tivemos em
dos filmes ia ser agora confirmado.                    Tijuana  Lisboa para preparação da viagem, aliada
                                                                à nossa pouca idade, não nos permitiu fa-
   O “Afonso de Albuquerque” atracou                 Honolulu   zer praticamente nada, nem arranjar um
em Pearl Harbour, depois de passar Ho-                          dos livros de Wenceslau de Morais sobre a
nolulu. A paisagem, a cor e um urbanismo        Waikiki Beach   história do Japão.
não agressivo eram realmente fascinantes
e as flores abundavam em todos os lados.            Yokohama       Assim, numa manhã chuvosa, chegá-
                                                                mos à baía de Tóquio, onde um navio da
   A Base Naval, de grande dimensão, foi                        Marinha de Guerra Japonesa executou as
por nós visitada e todos nós perante o que                      salvas da Ordenança, a que respondeu
restava do couraçado “Arizona” evocámos                         prontamente o “Afonso de Albuquerque”.
os 2000 marinheiros americanos mortos no
ataque, naquele Domingo 7 de Dezembro                              Atracámos em Yokohama, cidade ligada
de 1941.                                                        a Tóquio, recebendo os cumprimentos das
                                                                autoridades locais e da interessantíssima
   Na estadia em Honolulu não posso dei-                        Miss Yokohama, trajando a rigor.
xar de mencionar o espectáculo que nos
foi oferecido, num anfiteatro ao ar livre,                         Entre visitas oficiais e passeios, não
na festa do 1º de Maio, o May Day, com                          posso esquecer a recepção oferecida pela
danças e canções hawaianas, com as típicas                      Marinha Japonesa, num parque lindíssimo
guitarras e em que as esculturais bailarinas                    no Centro de Tóquio, em que fomos rece-
envergavam aquelas típicas saias franja-                        bidos pelos almirantes acompanhados das
das, tão características. Os colares de flores                  esposas, estas envergando os seus riquís-
oferecidos a todos nós faziam parte já do                       simos e lindíssimos Kimonos. No recinto,
nosso uniforme...                                               um relvado de grandes dimensões, num
                                                                canto, um pouco afastado, actuava a Ban-
   Outro ponto que não pode ser esqueci-                        da da Marinha. Depois das apresentações
do foi a ida a “Waikiki Beach”. Uma praia                       e de um período de conversa, os presentes
maravilhosa, varrida por ondas não muito                        dirigiram-se em cortejo para um alpendre,
altas, e onde vimos e ensaiámos pela pri-                       no meio do relvado, onde nos esperava
meira vez as hoje muito conhecidas pran-                        uma panóplia de iguarias que íamos pro-
chas de surf. É claro que, principiantes,                       vando. Porém, a maior parte dos produtos
entrávamos por um bordo e saíamos logo                          eram crus, designadamente os mariscos e
pelo outro...                                                   os peixes, e aqui só se safaram os cadetes
                                                                originários do sul e das ilhas. Os outros fi-
   É altura de voltar a falar dos nossos                        caram a dieta!
emigrantes, presença assídua e maciça em
S. Diego, S. Francisco e Honolulu como já                          A recepção oficial no Ginza Tóquio Ho-
dissemos. Para além das recepções oficiais                      tel foi também um acontecimento marcan-
em que a sua presença era uma constante,                        te, assim como a visita à Escola Naval e o
o navio estava sempre a ser “invadido” por                      encontro com os cadetes japoneses, num
um número de emigrantes elevadíssimo,                           jardim oriental, onde almoçámos.
que nos procuravam, não só os cadetes,
mas também todos os elementos da guar-                             Uma das coisas que constatámos entre
nição e connosco conversavam. Para além                         muitas, foi o grande número de pessoas
do gosto de ouvirem falar a sua língua na-                      nas ruas de Tóquio e entre estas, as crian-
tal, tinham a enorme preocupação de mos-                        ças das escolas, todas uniformizadas, com
trar que se encontravam bem integrados                          boné e máquina fotográfica, lá seguiam em
na sociedade local, onde eram respeitados                       enormes filas acompanhadas pelos seus
e que possuíam bens, fruto do seu trabalho,                     professores.
o que constituía um imenso orgulho como
era natural e nesse sentido propunham que                          Mas Tóquio, em 1960, tinha já muitos
os acompanhássemos para ver as suas ca-                         sinais de ocidentalização, que foram apa-
sas e propriedades. Em Honolulu, a certa                        recendo após a Guerra, patentes na forma
altura fomos convidados a visitar o Hospi-                      como era apresentada a publicidade e no
tal Principal da cidade, tudo porque o Di-                      vestir de algumas mulheres e também no
rector era um luso-descendente!                                 comércio, onde produtos ocidentais eram
                                                                mostrados com frequência.
   Depois do Hawai, nova grande tirada,
a maior da viagem, para o Japão, em que                            Visitámos templos religiosos, estivemos
atravessávamos a linha de mudança de                            junto do grande Buda de KamaKura, uma
data, devidamente comemorada com uma                            escultura com 12 metros de altura e assisti-
pequena festa.                                                  mos a um espectáculo no Kokusai Theatre
                                                                de Tóquio onde cenas dramáticas de teatro
   Os dias que antecederam a chegada ao                         japonês alternavam com números de “mu-
Japão foram talvez aqueles que mereceram                        sical” nitidamente ocidentais.
uma maior reflexão. Estávamos perante
uma nova civilização, onde os costumes di-                         Saímos do Japão rumo a Hong-Kong
feriam bastante dos nossos. Efectivamente,                      pelo estreito da Formosa. A visita a este ter-
                                                                ritório, grande centro comercial e também

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