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ALEXANDRE JOSÉ BOTELHO DE VASCONCELOS E SÁ
UM MÉDICO DA MARINHA NA REVOLUÇÃO
De entre as forças organiza- Arquivo Histórico – BCM Comando de João Coutinho.
das com papel relevante na Regressa à Europa em Outubro
implantação da República
de 1903. Foi louvado e condecora-
em Portugal, é do conhecimento ge- do individualmente pelo soberano.
ral a importância da Marinha, dos Depois do gozo de licença reto-
seus navios, guarnições e a acção de- ma o seu lugar no Hospital da Ma-
cisiva de alguns dos seus membros. rinha e nos H.C.L.
A ironia da História faz com que Já diferenciado como Cirurgião,
certos nomes perdurem, designando com prestígio no meio médico
Avenidas, Praças e Ruas dispersas nacional, membro de várias socie-
pelo País, não sabendo, infelizmente, dades científicas, assume em 1908
muitos portugueses, quem foi o indi- o encargo do Depósito de Instru-
víduo que lhes completa o domicílio. mentos Cirúrgicos e da Casa de
Outros houve que entraram no Operações do Hospital da Mari-
oblívio, só sendo do conhecimento nha, o que corresponderá nos dias
de historiadores ou eruditos, não de hoje a Chefe do serviço de Ci-
obstante terem também eles sido rurgia.
actores de primeiro plano no acto Tem um papel notável na reno-
revolucionário, para além de per- vação e modernização do serviço.
cursos de vida exemplares na defesa Nesta altura é já um simpatizan-
dos seus ideais e dedicação à causa te dos ideais republicanos, conheci-
pública. muito sumariamente Vasconcelos e Sá – Médico de 2ª Classe. do nos seus círculos, não se saben-
Vamos do seguramente se terá tido algum
abordar um destes esquecidos: o Dr. De regresso a Lisboa volta ao Hos- papel atribuído na prevista e abortada
Vasconcelos e Sá. pital, sendo colocado em Setembro de tentativa revolucionária de 1909.
Alexandre José Botelho de Vasconce- 1901 na Escola de Torpedos em Paço O que se sabe é da sua participação
los e Sá, nasceu no Porto em 28 de No- de Arcos, ao mesmo tempo que inicia a activa nos preparativos do 5 de Outu-
vembro de 1872, na freguesia de Santo sua diferenciação médica no campo da bro, com a missão atribuída de mobili-
Cirurgia, nos Hospitais Civis de Lisboa. zar meios sanitários e gente preparada
Ildefonso, em classe média alta.
Assentou praça na no Hospital da Mari-
Marinha como aspi- nha, iniciando acções
rante de 1ª classe MN, logo na madrugada
em 22 de Novembro de de 4.
1894, preste a atingir os Vale a pena trans-
22 anos frequentando crever excertos do
ainda o 2º Ano do Cur- “Relatório” do 1º Ten.
so da Escola Médico Ladislau Parreira, en-
Cirúrgica de Lisboa. tão em Alcântara no
Licenciado em Quartel do Corpo:
Medicina e Cirurgia “Ainda debaixo do fogo
em Julho de 1897, é das metralhadoras [das
promovido a Médico forças que defendiam
Naval de 2ª classe em as Necessidades] tive-
Abril de 1898, tendo mos a alegria de vermos
entrado para o Hospi- entrar no quartel o médi-
tal da Marinha como co Vasconcelos e Sá, cujo
Guarda Marinha ainda papel distribuído não era
em 97. O Dr. Vasconcelos e Sá com o Presidente António José de Almeida numa visita ao ir para o corpo de mari-
É ainda com este Hospital da Marinha.
nheiros à uma hora da
posto que segue em co- noite, mas sim esperar
missão para a Divisão Naval do Índico, Interrompe para nova comissão em com automóveis o desembarque da gente dos
onde presta serviço a bordo da corveta Moçambique, onde, entre outras colo- navios na Rocha do Conde de Óbidos às duas
“Afonso de Albuquerque”, no navio cações e já promovido a Médico de 1ª da manhã, desembarque que não se fez. Este
depósito “Índia” e na Esquadrilha do classe organiza e chefia todo o apoio oficial, a quem não mandaram automóveis
sanitário à Campanha do Barué, sob o ao Hospital da Marinha e que já tinha feito
Zambeze até 1900.
18 ABRIL 2011 • REVISTA DA ARMADA