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A CHEGADA DO “ARPÃO”
Na agradável e solarenga manhã de nome da base da HDW em Kristiansand – a elevado desgaste e intensidade que ficamos
14 de Abril, pelas 11 horas, largou segunda casa de todos os navios construídos por fim a saber que devido a uma decisão su-
do cais 6 da HDW – Kiel, com des- na HDW. Esta fase do nosso treino foi realiza- perior, a Marinha iria receber o navio no dia
tino a Lisboa, o NRP Arpão. No cais, uma da no período de inverno norueguês, o qual 22 de Dezembro em Kiel, em antecipação ao
boa centena de funcionários da HDW, en- se caracterizou em 2010, como um dos mais planeamento inicial. Foi desta forma que as
quadrados pelo seu Conselho de Adminis- rigorosos de sempre, apresentando frequen- semanas de treino de mar se foram passando,
tração, despedia-se do “seu” navio. Foram tes temperaturas abaixo de zero com dois na execução de um seriado exigente e sem es-
momentos de grande significado, em que o dígitos. O frio e a reiterada falta de luz solar, paço para folgas, em ritmo crescente de inten-
sentimento fala mais alto que a razão, pen- foram, a par do exigente treino, os grandes sidade e dificuldade, obrigando a guarnição
samentos somente interrompidos pelo forte obstáculos a vencer por toda a guarnição, a a reuniões diárias para “afinar agulhas” e ga-
toque da sereia, como se o próprio navio se qual, conseguia, eventualmente ver a luz do rantir a máxima coordenação possível. Desta
despedisse do local onde nasceu. A saída sol aos fins-de-semana, ainda que os fortes forma se passaram 6 intensas semanas tendo
da barra do Kiler Fiord decorreu Foto: CAB FZ Carmo finalmente chegado o grande dia,
com normalidade, talvez porque 16 de Dezembro de 2010, o dia
o próprio navio já conhecesse “D”, o dia da avaliação final. Nes-
bem a derrota a realizar. te dia contámos com a presença de
A missão deste grupo de ho- um Oficial da equipa de avaliação
mens havia começado há muito da Marinha Alemã, o qual, junta-
tempo atrás, mais rigorasamente mente com o CMG M Proença
há 8 meses, em 23 de Agosto de Nunes (oficial do treino da PNID)
2010, data do inicio do treino de e com o chefe do treino da HDW,
sistemas. Este período que termi- levaram a cabo a avaliação final
nou a 1 de Outubro de 2010, foi tendo o navio e respectiva guarni-
passado essencialmente em am- ção atingido o certificado de “Safe
biente de sala de aula alternado to Dive”, concluindo desta forma
com visitas diárias a bordo, per- O NRP Arpão. um dos períodos mais exigen-
mitiu consolidar os conhecimen- tes da vida profissional de todos
tos adquiridos ao longo de quase dois anos nevões e as temperaturas extremas fossem quantos compõem esta equipa.
de cursos de equipamentos (2008 e 2009), que pouco convidativas a uma saída para “es- Ainda a fase do treino mal havia passado,
foram ocorrendo em diversos países (Estados pairecer”. Muitas foram as fainas de largada já nos concentrávamos, todos, no ponto alto
Unidos, Alemanha e África do Sul). Seguida- ou atracação feitas sobre frio intenso o que de todo o esforço despendido, a cerimónia
mente, entre 4 e 22 de Outubro, a guarnição contribuiu para a equipa se unir ainda mais, de entrega oficial do NRP Arpão a Portugal
passou a frequentar o treino a cais, onde sob fazendo frente aos desafios colocados. Muitas e à Marinha. Esta cerimónia, começou, des-
vigilância da guarnição da HDW (aproxi- foram as aproximações a Marvika efectua- de logo, com a enorme dificuldade de fazer
madamente 15 elementos, maioritariamente das a baixa velocidade para que as placas de deslocar a guarnição de Kristiansand para
com origem na marinha alemã e submarinis- gelo, com vários centímetros de altura, não Kiel, dado o fortíssimo nevão que caiu no
ta), foram simuladas todas as con- dia 18 de Dezembro de 2010, data
dições de navegação, avarias e for- da partida de Kristiasand. Após se
mas de condução da plataforma de ter apresentado no aeroporto local,
maneira a reproduzir, o mais fiel- a guarnição, foi informada que o
mente possível, as circunstâncias aeroporto internacional de Ams-
reais da navegação. Esta fase foi terdão se encontrava fechado a
particularmente importante para toda a navegação área, obrigando
que na fase de treino de mar, todos a retornar ao hotel Norge, o qual
estivessemos suficientemente pre- havia sido o nosso “quartel-gene-
parados para agir, rapidamente e ral” durante muitas semanas. A
sem dúvidas, pois na fase de mar situação agravou-se quando, após
tudo ocorre em ambiente real onde consulta de uma das muitas pá-
raramente os elementos perdoam ginas da internet com informação
distracções ou falhas... meteorológica, nos apercebemos
Seguramente a mais importan- Guarnição comemora a entrada pela primeira vez em águas nacionais. que muito dificilmente seria pos-
te de todo o treino, a fase de mar sível chegar ao destino em tem-
decorreu entre os dias 8 de Novembro e 17 provocassem danos na fibra que envolve po. Foi com este estado de espírito que nos
de Dezembro, com base na cidade norue- o navio, mesmo contando com o apoio do deslocamos, novamente sob forte nevão, na
guesa de Kristiansand. A área do Skagarak, navio de suporte a operações com submari- manhã seguinte, para o mesmo aeroporto,
nome dado ao mar que fica entre o norte da nos, o HDW Herkules, o qual desempenhou, tendo nesse dia sido possível voar para Oslo.
Dinamarca e o sul da Noruega, é a única área por frequentes vezes o papel de quebra gelo. Chegados a Oslo vimos uma grande parte
de toda aquela região onde é possível efectuar Muitas foram, igualmente, as vezes em que o do grupo ser impedido de voar para o seu
imersões profundas dadas as limitações em navio ficou literalmente preso no gelo a pou- destino, pois o encerramento de vários aero-
profundidade de todas as regiões circundan- cos metros do cais, numa luta titânica com portos europeus havia instalado o caos. Já a
tes. Este facto condiciona significativamente o o mesmo para que, após vencida, o navio guarnição do NRP Tridente havia enfrentado
treinoetodaaoperaçãodossubmarinoscons- ficasse paralelo ao cais e a prancha pudesse, grandes dificuldades para sair do Norte da
truidos na Alemanha, fazendo de Marvika – por fim, ser passada. Foi neste ambiente de Europa devido ao vulcão da Islândia, pelo
21REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2011