Page 14 - Revista da Armada
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Emprego da radiogoniometria por aeronaves: a linha a tracejado representa a antena de radiogoniómetro.
bordo das aeronaves. Entretanto, na déca- a auxiliar a navegação vertical, sendo co- terra, que responde ao impulso recebido,
da de ’30, os cientistas conseguiram aper- nhecido pela designação inglesa de glide emitindo um par de impulsos semelhan-
feiçoar a técnica da radiogoniometria em slope, ou em língua portuguesa “ladeira”. te. O equipamento DME de bordo recebe
VHF (Very High Frequency), que permitiu Cada um dos subsistemas transmite dois a réplica emitida pelo trans-receptor de
melhorar significativamente a precisão dos sinais, em frequências diferentes e com terra e calcula a distância correspondente.
azimutes obtidos, dado o menor compri- modulações diferentes. Os receptores de A complementaridade com o VOR levou
mento das ondas rádio nesta frequência. bordo comparam os dois sinais recebidos a que se começassem a co-localizar as es-
Esse passo levou, no final dessa década, do localizer e indicam se o avião se encon- tações VOR e as estações DME. De facto,
à invenção do sistema de navegação VOR tra à esquerda ou à direita do alinhamento enquanto o receptor do VOR fornece a di-
(VHF Omnidirectional Range). O VOR é da pista de aterragem. Semelhantemente, recção da aeronave para a estação respec-
composto por uma rede de transmissores comparam os dois sinais recebidos do glide tiva, o equipamento DME de bordo dá a
VHF, localizados em terra, os quais emi- slope e indicam se o avião se encontra aci- distância da aeronave até à corresponden-
tem sinais rádio com diferenças de fase. A ma ou abaixo do ângulo de aproximação te estação e assim, apenas com base nestes
medição das diferenças de fase dos sinais à pista de aterragem. 2 equipamentos, passou a ser possível às
recebidos permite ao equipamento insta- tripulações determinar a posição do avião
lado nas aeronaves indicar com grande O ILS foi aprovado para instalação pe- com mais rigor, deixando de ser necessá-
precisão o rumo magnético para a estação las autoridades aeronáuticas norte-ameri- rio ter que executar o cruzamento de 2, ou
VOR sintonizada. canas em 1941, vindo a ser adoptado pela mais, azimutes de diferentes estações NDB
International Civil Aviation Organization ou VOR – método usado até então.
Embora bastante mais preciso que os (ICAO) em 1949, dada a sua capacidade
NDB’s – pois, efectivamente, um piloto de guiar um avião, com alta precisão, até Cabe aqui referir que os militares desen-
pode navegar com base no VOR com uma uma altitude mínima mais baixa do que os volveram um sistema muito semelhante
exactidão de 1 grau – também este sistema, já apresentados NDB ou VOR (aumentan- ao VOR / DME, que tomou a designação
que ainda se encontra em uso, tem limita- do com isso a possibilidade de sucesso de de TACAN (TACtical Air Navigation), des-
ções. A principal é o facto de a sua utiliza- uma aproximação com visibilidade redu- tinando-se exclusivamente a utilizadores
ção estar limitada à linha de vista (line of si- zida e/ou nuvens baixas). militares.
ght em inglês). Assim, obstáculos naturais,
como montanhas, podem ser limitadores Entretanto o sistema foi-se aperfeiçoan- Desde a sua introdução, o VOR / DME
da navegação com o VOR. do e, hoje em dia, o ILS permite efectuar, tem constituído uma importantíssima rá-
em total segurança, aterragens automáti- dio-ajuda à navegação. Porém, tem alcan-
Como curiosidade refira-se que a fre- cas, com visibilidade vertical de 0 (zero) ces relativamente curtos, que na melhor
quência utilizada pelas estações transmis- metros! Também por aqui se consegue das hipóteses chegam às 200 milhas náu-
soras do VOR é a mesma utilizada pelas perceber o quanto a tecnologia de nave- ticas, o que impede a sua utilização por
estações que diariamente sintonizamos gação evoluiu. exemplo em áreas oceânicas.
nos rádios dos nossos carros ou da nossa
casa! Evidentemente, uma parte do espec- Medição de distâncias Assim, para conseguir cobrir áreas mais
tro electromagnético é reservada para uso alargadas era necessário outro princípio de
comercial e a outra para a navegação aérea. Voltando à radiogoniometria, importa funcionamento que não este, baseado na
referir que as suas características de fun- técnica do radar. Esse princípio foi ideali-
Entretanto, em 1929 tinha começado a cionamento continuavam a ser bastante li- zado na década de ’30 e consistia em medir
ser testado um novo sistema de radionave- mitativas. Cientes disto, os cientistas traba- a diferença de tempo (ou de fase) entre a
gação, exclusivamente destinado a auxiliar lharam no sentido de conceber um sistema chegada dos impulsos de pelo menos 2 es-
a aproximação e a aterragem: o Instrument de radionavegação que baseasse o seu fun- tações transmissoras, vindo a concretizar-
Landing System (ILS). Este sistema é usado cionamento na medição da distância, pois -se durante a II Guerra Mundial. Foi nessa
apenas para navegar a altitudes abaixo de nessas circunstâncias o erro não aumenta- altura que os britânicos conceberam, com
1 a 2 km, conseguindo levar a aeronave até ria significativamente com o afastamento base nesse princípio de funcionamento,
à fase final da aterragem. O sistema é basi- relativamente à estação transmissora. o sistema GEE para os aviões e o sistema
camente composto por dois transmissores Decca Navigator para os navios.
independentes, instalados junto à pista de A partir do final da II Guerra Mundial, o
aterragem: um em VHF e outro em UHF VOR começou a ser complementado com Estes sistemas designavam-se sistemas
(Ultra High Frequency). O transmissor de outro sistema destinado a dar distâncias: hiperbólicos, pois os lugares geométricos
VHF serve para navegação lateral, sendo o DME (Distance Measuring Equipment), dos pontos que recebem os sinais de um
conhecido pela designação inglesa de lo- baseado na técnica do radar, que acabara par de estações com igual diferença de
calizer, ou em língua portuguesa “locali- de ser desenvolvida. O equipamento de tempo (ou de fase) têm a forma de hipér-
zador”. O transmissor de UHF destina-se bordo envia um par de impulsos em UHF boles, cujos focos são as estações. Esta téc-
que são recebidos num trans-receptor em nica tinha a desvantagem de necessitar de
14 AGOSTO 2012 • Revista da Armada