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Emprego da radiogoniometria por aeronaves: a linha a tracejado representa a antena de radiogoniómetro.

bordo das aeronaves. Entretanto, na déca-         a auxiliar a navegação vertical, sendo co-            terra, que responde ao impulso recebido,
da de ’30, os cientistas conseguiram aper-        nhecido pela designação inglesa de glide              emitindo um par de impulsos semelhan-
feiçoar a técnica da radiogoniometria em          slope, ou em língua portuguesa “ladeira”.             te. O equipamento DME de bordo recebe
VHF (Very High Frequency), que permitiu           Cada um dos subsistemas transmite dois                a réplica emitida pelo trans-receptor de
melhorar significativamente a precisão dos        sinais, em frequências diferentes e com               terra e calcula a distância correspondente.
azimutes obtidos, dado o menor compri-            modulações diferentes. Os receptores de               A complementaridade com o VOR levou
mento das ondas rádio nesta frequência.           bordo comparam os dois sinais recebidos               a que se começassem a co-localizar as es-
Esse passo levou, no final dessa década,          do localizer e indicam se o avião se encon-           tações VOR e as estações DME. De facto,
à invenção do sistema de navegação VOR            tra à esquerda ou à direita do alinhamento            enquanto o receptor do VOR fornece a di-
(VHF Omnidirectional Range). O VOR é              da pista de aterragem. Semelhantemente,               recção da aeronave para a estação respec-
composto por uma rede de transmissores            comparam os dois sinais recebidos do glide            tiva, o equipamento DME de bordo dá a
VHF, localizados em terra, os quais emi-          slope e indicam se o avião se encontra aci-           distância da aeronave até à corresponden-
tem sinais rádio com diferenças de fase. A        ma ou abaixo do ângulo de aproximação                 te estação e assim, apenas com base nestes
medição das diferenças de fase dos sinais         à pista de aterragem.                                 2 equipamentos, passou a ser possível às
recebidos permite ao equipamento insta-                                                                 tripulações determinar a posição do avião
lado nas aeronaves indicar com grande               O ILS foi aprovado para instalação pe-              com mais rigor, deixando de ser necessá-
precisão o rumo magnético para a estação          las autoridades aeronáuticas norte-ameri-             rio ter que executar o cruzamento de 2, ou
VOR sintonizada.                                  canas em 1941, vindo a ser adoptado pela              mais, azimutes de diferentes estações NDB
                                                  International Civil Aviation Organization             ou VOR – método usado até então.
  Embora bastante mais preciso que os             (ICAO) em 1949, dada a sua capacidade
NDB’s – pois, efectivamente, um piloto            de guiar um avião, com alta precisão, até               Cabe aqui referir que os militares desen-
pode navegar com base no VOR com uma              uma altitude mínima mais baixa do que os              volveram um sistema muito semelhante
exactidão de 1 grau – também este sistema,        já apresentados NDB ou VOR (aumentan-                 ao VOR / DME, que tomou a designação
que ainda se encontra em uso, tem limita-         do com isso a possibilidade de sucesso de             de TACAN (TACtical Air Navigation), des-
ções. A principal é o facto de a sua utiliza-     uma aproximação com visibilidade redu-                tinando-se exclusivamente a utilizadores
ção estar limitada à linha de vista (line of si-  zida e/ou nuvens baixas).                             militares.
ght em inglês). Assim, obstáculos naturais,
como montanhas, podem ser limitadores               Entretanto o sistema foi-se aperfeiçoan-              Desde a sua introdução, o VOR / DME
da navegação com o VOR.                           do e, hoje em dia, o ILS permite efectuar,            tem constituído uma importantíssima rá-
                                                  em total segurança, aterragens automáti-              dio-ajuda à navegação. Porém, tem alcan-
  Como curiosidade refira-se que a fre-           cas, com visibilidade vertical de 0 (zero)            ces relativamente curtos, que na melhor
quência utilizada pelas estações transmis-        metros! Também por aqui se consegue                   das hipóteses chegam às 200 milhas náu-
soras do VOR é a mesma utilizada pelas            perceber o quanto a tecnologia de nave-               ticas, o que impede a sua utilização por
estações que diariamente sintonizamos             gação evoluiu.                                        exemplo em áreas oceânicas.
nos rádios dos nossos carros ou da nossa
casa! Evidentemente, uma parte do espec-          Medição de distâncias                                   Assim, para conseguir cobrir áreas mais
tro electromagnético é reservada para uso                                                               alargadas era necessário outro princípio de
comercial e a outra para a navegação aérea.         Voltando à radiogoniometria, importa                funcionamento que não este, baseado na
                                                  referir que as suas características de fun-           técnica do radar. Esse princípio foi ideali-
  Entretanto, em 1929 tinha começado a            cionamento continuavam a ser bastante li-             zado na década de ’30 e consistia em medir
ser testado um novo sistema de radionave-         mitativas. Cientes disto, os cientistas traba-        a diferença de tempo (ou de fase) entre a
gação, exclusivamente destinado a auxiliar        lharam no sentido de conceber um sistema              chegada dos impulsos de pelo menos 2 es-
a aproximação e a aterragem: o Instrument         de radionavegação que baseasse o seu fun-             tações transmissoras, vindo a concretizar-
Landing System (ILS). Este sistema é usado        cionamento na medição da distância, pois              -se durante a II Guerra Mundial. Foi nessa
apenas para navegar a altitudes abaixo de         nessas circunstâncias o erro não aumenta-             altura que os britânicos conceberam, com
1 a 2 km, conseguindo levar a aeronave até        ria significativamente com o afastamento              base nesse princípio de funcionamento,
à fase final da aterragem. O sistema é basi-      relativamente à estação transmissora.                 o sistema GEE para os aviões e o sistema
camente composto por dois transmissores                                                                 Decca Navigator para os navios.
independentes, instalados junto à pista de          A partir do final da II Guerra Mundial, o
aterragem: um em VHF e outro em UHF               VOR começou a ser complementado com                     Estes sistemas designavam-se sistemas
(Ultra High Frequency). O transmissor de          outro sistema destinado a dar distâncias:             hiperbólicos, pois os lugares geométricos
VHF serve para navegação lateral, sendo           o DME (Distance Measuring Equipment),                 dos pontos que recebem os sinais de um
conhecido pela designação inglesa de lo-          baseado na técnica do radar, que acabara              par de estações com igual diferença de
calizer, ou em língua portuguesa “locali-         de ser desenvolvida. O equipamento de                 tempo (ou de fase) têm a forma de hipér-
zador”. O transmissor de UHF destina-se           bordo envia um par de impulsos em UHF                 boles, cujos focos são as estações. Esta téc-
                                                  que são recebidos num trans-receptor em               nica tinha a desvantagem de necessitar de

14 AGOSTO 2012 • Revista da Armada
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