Page 15 - Revista da Armada
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2 transmissores para providenciar apenas parâmetros, como a distância às estações, recaía a responsabilidade da manutenção
1 linha de posição, pelo que se optou por as condições meteorológicas, a geometria das estações emissoras.
montar cadeias de, no mínimo, 3 estações relativa das estações e a hora do dia. De
transmissoras, em que uma delas era a qualquer maneira, em termos médios, nes- Sistemas inerciais
principal e as outras eram as escravas ou sa altura o erro não excedia 0,25 milhas.
estações secundárias. O equipamento re- Esta boa performance do Loran-C levou Entretanto, nos anos ’50, reconhecendo
ceptor media a diferença de tempo (ou de a que este sistema se impusesse sobre os as limitações dos sistemas rádio então exis-
fase) dos impulsos recebidos da estação outros sistemas hiperbólicos de navega- tentes, o Departamento de Defesa dos EUA
principal e de uma das estações secundá- ção, nomeadamente sobre o GEE (que foi começou a estudar um sistema de navega-
rias, determinando assim a linha de posi- desactivado nos anos ’60) e sobre o Decca ção autónomo, ou seja um sistema que não
ção hiperbólica em que se encontrava. Para Navigator (que, embora tenha funcionado necessitasse de quaisquer sinais exteriores
obter a posição era necessário fazer ainda até mais tarde, foi desligado em dia 31 de à própria aeronave. Com esse propósito, o
outra leitura relativa a outro par de esta- Dezembro de 1999). MIT (Massachussets Institute of Technology)
ções (sendo a principal sempre uma delas), No entanto, o Loran-C – além de não desenvolveu o primeiro sistema de nave-
obtendo dessa forma outra hipérbole, cujo permitir obter a altitude, obrigando os gação inercial, o qual não requeria nenhu-
cruzamento com a primeira in- ma emissão exterior para determinar a po-
dicava a latitude e a longitude
do navegante. sição e a direcção da plataforma.
Ainda durante a II Guerra Em termos genéricos, os siste-
Mundial, os norte-americanos
também desenvolveram um mas inerciais de navegação vão
sistema hiperbólico de nave- estimando a posição através da
gação, que baptizaram como medição do espaço percorrido
Loran-A (cujo nome é o acróni- e da direcção de deslocamen-
mo de LOng Range Navigation). to da plataforma, usando para
O Loran-A baseava-se em me- o efeito micro-acelerómetros e
dições de diferenças de tempo girobússolas. Os sistemas iner-
entre a chegada de 2 impulsos, ciais têm que ser inicializados,
transmitidos com frequências com a posição de origem, mas
entre 1750 e 1950 kHz, ou seja a partir daí são totalmente au-
na banda MF. O primeiro par tónomos, entrando em conside-
de estações Loran-A começou ração com a direcção e a velo-
a transmitir continuamente em cidade do vento para o cálculo
1942 e no final do conflito já ha- da posição. Naturalmente, os er-
via 75 estações e cerca de 75 000 ros vão crescendo com o tempo,
receptores a bordo de aeronaves sendo que uma das principais
e navios. No entanto, as suas li- fontes de erro é facto de o vento
mitações começaram a tornar- nem sempre ser o que se anteci-
-se evidentes e logo na década Linhas de posição de um sistema hiperbólico de navegação. pava. De qualquer maneira, os
sistemas inerciais de navegação
de ’50 os militares americanos começaram aviadores a complementar a sua utiliza- tornaram-se extremamente po-
a estudar a substituição do Loran-A (tam- ção com altímetros – não tinha cobertura pulares na navegação aeronáu-
bém conhecido por Standard Loran) por mundial, que era um requisito desejado tica, constituindo o sistema primário de na-
um sistema semelhante, mas mais exac- por todos os navegantes. Para se conse- vegação a bordo das aeronaves de média
to e de maior alcance. Primeiro tentaram guirem alcances que permitissem uma e grande dimensão, como por exemplo os
um sistema que usava a mesma banda cobertura mundial era necessário adoptar modernos Airbus ou Boeings. A tecnologia
de frequências do antecessor mas funcio- frequências mais baixas, pois, como regra subjacente foi evoluindo de forma bastante
nava por comparação da fase dos sinais, genérica, quanto menor a frequência maior significativa e, hoje em dia, já há sistemas
o qual tomou a designação de Loran-B. será o alcance. bastante exactos, em que o erro não excede
Este sistema revelou problemas técnicos Foi assim que surgiu o sistema Omega, 0,6 milhas por hora. Além disso, na actua-
insolúveis, pelo que nunca passou da fase que operava em VLF (Very Low Frequency) lidade, os sistemas inerciais de navegação
de testes. O mesmo não viria a suceder e que, com apenas 8 estações em todo o funcionam a maior parte das vezes integra-
à evolução subsequente, o Loran-C, que Mundo, conseguia uma cobertura global. dos com outros equipamentos de navega-
operava numa frequência mais baixa: LF. Os receptores Omega mediam a diferença ção, desde o GPS ou até mesmo o VOR ou
O Loran-C tinha melhor exactidão que o de fase entre os sinais de pares de estações, o VOR/DME. Quando esses equipamentos
seu antecessor, maior alcance de transmis- daí derivando redes hiperbólicas. O siste- conseguem determinar uma boa posição,
são e a tecnologia envolvida era mais sim- ma só ficou completo em Agosto de 1982, então essa posição é a escolhida pelo sis-
ples, o que resultava em receptores mais quando começou a funcionar a oitava e tema integrado; quando tal não seja possí-
baratos. A primeira cadeia Loran-C entrou última estação, localizada na Austrália, vel, então o sistema integrado reverte para
em funcionamento, apenas para uso mili- embora já fosse perfeitamente utilizável o modo inercial.
tar, em 1957. Como foi hábito durante a em largas porções do globo desde meados Trata-se de uma solução robusta e que
guerra fria, a ex-URSS também criou um da década de ’70. Apesar da vantagem de tem provado ser bastante fiável.
sistema muito semelhante ao Loran-C, de- permitir um posicionamento contínuo em
nominado Chayka. todo o globo, a exactidão facultada pelo
O sinal das estações podia atingir 1100 Omega era sofrível, variando entre 2 a 4 Nuno Sardinha Monteiro
milhas de dia (por onda de superfície) e milhas. O sistema Omega foi usado pela
quase o dobro à noite (graças à propaga- aviação civil, em aviões como por exem- CFR
ção via ionosfera). Relativamente aos er- plo os primeiros Boeing 737, até finais de
ros, tal como nos outros sistemas hiperbó- 1997, altura em que foi desligado pelas au- Nota
licos, eles variam em função de bastantes toridades norte-americanas, sobre quem * Este artigo corresponde ao texto de uma comuni-
cação apresentada na VIII Sessão Cultural Conjunta
Academia de Marinha – Instituto da Cultura Euro-
peia e Atlântica, que celebrou o registo dos Relató-
rios da 1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul por Gago
Coutinho e Sacadura Cabral na Memória do Mundo
da UNESCO.
Revista da Armada • AGOSTO 2012 15