Page 20 - Revista da Armada
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cipais vulnerabilidades dos navios na guerra No ar, a comparação entre os poderes com- os técnicos franceses não chegaram a explicar
anti-aérea, apesar dos novos radares de «pha- batenteseraequilibrado.AFAA(FuerzaAérea como se utilizavam os mísseis, tendo sido ne-
sed array». O HMS Glasgow detetou o inimigo Argentina) e a Armada tinham bons pilotos, cessário estudar rapidamente o seu modo de
e reportou-o insistentemente, sem que o FA- profissionais, razoavelmente preparados para emprego. Mesmo assim, com um outro mís-
AWC (coordenador da defesa aérea) a bordo o combate. As condições de emprego foram, sil afundaram o navio mercante Atlantic Con-
do Invencible classificasse a ameaça como real contudo, amplamente desfavoráveis, resul- veyor. Com bombas, a Força Aérea Argentina
(havia muitos falsos alertas…). tando num nível inaceitável de baixas. Ana- ainda viria a conseguir afundar as fragatas
Houve ainda outra importante alteração, lisando o inventário argentino encontramos Ardent e a Coventry. Os navios Sir Galahad e o
desta vez, organizacional. Os argenti- Sir Tristram também foram severamen-
nos começaram a empregar o conceito te atingidos com bombas.
de rede, uma incipiente Network Centric Os pilotos argentinos (da Marinha e
Warfare, ao colocarem aeronaves de pa- da ForçaAérea) revelaram-se extrema-
trulha marítima, como os P-2 Neptune, a mente corajosos e, por certo, o destino
definirem, à distância, o panorama ma- da guerra podia ter sido diferente se os
rítimo para depois passarem os alvos, argentinos tivessem umas três dezenas
via rádio, às aeronaves de ataque. Foi de mísseis «Exocet AM39».
assim que uma arma de meio milhão
de dólares acabaria por condenar ao LIÇÕES POLÍTICAS
afundamento um navio de cinquenta DO CONFLITO
milhões de dólares.
Do lado do Reino Unido, a grande O regime militar argentino entrou
em colapso e o país realizou eleições
novidade foram os Harriers VSTOL democráticas em 83. O plano do gene-
que permitiram a operação a partir dos ral Leopoldo Galtieri para conquistar
curtos conveses dos porta-aviões HMS apoio popular com a invasão, teve, no
Hermes e HMS Invencible e que, apesar final, o efeito contrário.
da sua limitada autonomia, providen- Do lado britânico, a vitória consoli-
ciaram proteção à força naval e alguma dou o governo da Primeira-Ministra
capacidade de ataque ao solo. Durante Margaret Thatcher. Para a comunida-
a campanha militar, o HMS Hermes che- de das ilhas, o conflito teve efeitos po-
gou a operar 16 Sea Harriers, 10 caças sitivos já que o Reino Unido renovou o
GR3 Harriers da RAF e 10 helicópteros seu compromisso para com o arquipé-
Sea Kings. O HMS Invencíble operou 8 lago e passou a investir lá. Atualmen-
Sea Harriers e 12 Sea King. te a população duplicou em relação a
Os argentinos não puderam fazer 82 e todos vivem bem, não querendo a
muito. No mar contavam com navios independência.
obsoletos e inadequados para o com- O Reino Unido deve muito à atitu-
bate naval moderno. A renovação da de exemplar do almirante Leach, que
esquadra nunca esteve entre as prioridades no Super Étendard a única e notável exceção à nos deve servir de referência. Por certo, ele
do Estado, embora tivesse sido desenhado, regra. O ataque ao HMS Sheffield, utilizando concordaria com as seguintes reflexões so-
no final da década de 70, um ambicioso pro- mísseis AM-39 Exocet, traduzia um conceito bre o conflito:
jeto de renovação. Os contratos celebrados moderno de operação, sem similar nas filei- 1. Uma Marinha só é útil se mantiver per-
com estaleiros alemães previam a aquisição ras britânicas. Concebidos para operação a manentemente a flexibilidade, prontidão e
de quatro fragatas MEKO360, seis corvetas partir de porta-aviões, os Dassault Super Éten- a capacidade de combate (eficácia da ação).
MEKO140, quatro submarinos TR1700 e dois dard entraram em serviço na Marinha france- 2. Uma Marinha não se improvisa, tem de
submarinos TR1400. Se estes navios já existis- sa em 1978, sendo adquiridos pela Marinha ser permanentemente estimulada e moder-
sem, adicionados aos existentes (fragatas tipo Argentina em 1979. Das catorze unidades nizada.
42, corvetasA69 e submarinos IKL-209) então encomendadas, apenas cinco já estavam no 3.Comoavidaútildeumnaviocombatente
ver-se-ia uma esquadra respeitável. país quando a guerra eclodiu. Todavia, para é de 30 a 35 anos (o Bérrio tem 42 …) e são ne-
Para se ter uma ideia da cessários 10 a 15 anos para
operacionalidade dos na- desenhar e construir um
vios argentinos podemos novo, os navios que progra-
lembrar o episódio da to- marmos hoje deverão ser
mada da ilha Geórgia do pensados para um horizon-
Sul.Acorveta ARAGuerrico te de 50 anos. E quem sabe
aproximou-se de terra (a 550 o que vai acontecer daqui a
m) para dar apoio aos seus 50 anos? A única coisa que
militares.Apeça de 100 mm podemos e devemos fazer é
e as armas de 20 mm encra- investir na identificação dos
varam ao primeiro disparo, desafios marítimos futuros
as peças de 40 mm ficaram e numa estratégia coerente,
inop ao fim de seis rajadas. HMS Dauntless fotografado pelo NRP Bérrio em Dakar, no Senegal, em maio 2012. integrada e modular de lon-
O navio teve de fugir rapidamente não evitan- tornar a pequena esquadrilha operacional, era go prazo que permita rentabilizar os meios ao
do o embate de disparos de armas ligeiras e de necessária a colaboração dos técnicos france- dispor do Estado.
projeteis do morteiro de 84 mm Carl Gustav. ses, chamados de volta à Europa no início das 4. A dificuldade em edificar uma Marinha
As fragatas tipo 42 argentinas (compradas hostilidades. não deve servir de desculpa para se edificar
ao Reino Unido) também não foram usadas Os argentinos dispunham apenas de 5 apenas uma Marinha minimalista. Quem
em combate, embora tenham fornecido im- mísseis «Exocet AM39» e de 5 aeronaves Su- advoga uma Marinha militar de pequena di-
portante informação sobre os diagramas de per Étendard. Não conseguiram adquirir mais mensão, confinada a capacidades específicas,
irradiação dos navios britânicos. devido ao embargo imposto. Inclusivamente, presta um mau serviço ao País, porque nega
20 AGOSTo 2012 • Revista da Armada