Page 17 - Revista da Armada
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Descobrimos também diversos objec- e defender os territórios que considera- 14 meses. Vão ser os primeiros europeus
tos que pertenceram a personalidades vam seus. a ligar a costa de Angola à costa de Mo-
fulcrais da História de Portugal e da Ma- Portugal, querendo justificar o projecto çambique.
rinha, e que foram doados ou reverteram do mapa cor-de-rosa, cria a Comissão de O Museu de Marinha conserva docu-
para este museu. Reis e diplomatas, mi- Cartografia para elaborar cartas de todas mentos dessa viagem, como os aponta-
litares e figuras da sociedade, têm aqui as colónias, nomeando os oficiais de Ma- mentos meteorológicos recolhidos ao
condecorações, documentos, relógios, longo da expedição entre outros registos
esboços e esquiços de viagens, fardas, iconográficos.
armas, entre outros objectos pessoais. Para encerrar esta agradável viagem
É em algumas destas peças e no con- no tempo, em que os fragmentos de his-
texto histórico que elas representam que tória surgem em qualquer recanto e em
nos vamos deter. Uma pequena aborda- qualquer prateleira, descrevo um artigo,
gem para divulgar este património des- curioso no mínimo, que é uma represen-
conhecido. tação da diversidade do acervo das reser-
O século XVIII é tido como um dos vas do museu.
períodos mais conturbados da História Aludo à odisseia aérea que dois oficiais
mundial, e consequentemente, da Histó- de Marinha, Gago Coutinho e Sacadura
ria Nacional. Cabral, empreenderam pelo Atlântico
Foi o século das grandes batalhas na- Sul, em 1922.
vais com navios à vela, onde Portugal Não me retenho na façanha, já muitas
como potência naval, tinha influência vezes narrada e transcrita nos mais di-
relativa nos desígnios europeus. versos meios de comunicação, centro a
Em 1798, o Almirante Marquês de Nisa atenção apenas em uma peça, das vá-
comandou uma esquadra portuguesa Ex-voto da guarnição da Nau “Rainha de Portugal”. rias que existem na casa forte sobre esta
destacada no Mediterrâneo, matéria.
onde cooperou com a esquadra Uma garrafa de vinho do porto
inglesa do Almirante Nelson, (Adriano Ramos Pinto) assinada
no cerco a Malta, nos combates pelos dois oficiais da Armada e
em Nápoles e na reconquista da que viajou de Lisboa até ao Rio
cidade, e nas negociações com de Janeiro.
os piratas em Tripoli. Apesar de Este exemplar único foi uma
pontualmente as relações entre das estrelas do stand Nacional,
as esquadras dos dois países te- na Exposição Comemorativa do
rem tido momentos menos fe- Centenário da Independência
lizes, os ingleses na pessoa do do Brasil, nesse mesmo ano, no
Almirante Nelson foram obri- Rio de Janeiro.
gados a reconhecer o mérito da O Museu de Marinha é ím-
esquadra Nacional. par entre os museus nacionais.
Todas as acções foram alvo Guarda um património que,
de troca de correspondência Caderno de Apontamentos de Viagem e Observações Meteorológicas apesar de muito específico, une
entre os dois comandantes de do Comandante Hermenegildo Capelo (3 VOL). todo um País em torno de um
esquadra, e algumas delas encontram-se passado muitas vezes notável.
à guarda do Museu de Marinha. Este artigo abre as portas a outros inte-
Assinadas pelo Almirante Marquês de ressados no tema, pois é nos bastidores
Niza e pelo Almirante Nelson, relatam dos museus que ainda permanece aquele
episódios do cerco de Malta, e além de desejo de compreender o desconhecido
documentos ímpares para a construção que move qualquer historiador, e onde,
histórica deste período, são de extraordi- por vezes, se descobrem verdadeiros te-
nária beleza. As batalhas são travadas no souros ainda não estudados.
século XVIII, de ferocidade e consequên-
cias bastante gravosas, geravam na guar-
nição um fervor religioso. A necessidade Mário Dias
de acreditar em Deus nos momentos mais 2TEN TSN
difíceis foi sempre apanágio dos homens
que andam no mar. Notas:
Disso é prova o ex-voto da Nau “Rainha 1 Jaime do Inso, in “O Museu de Marinha”,
de Portugal” um dos navios da esquadra separata do Clube Militar Naval, n.º 4 a 6 –
do Almirante Marquês de Niza. Uma Abril/Junho, 1967, Lisboa.
peça incrível e que, apesar de pequena, 2 N. Valdez dos Santos, in “O Museu de Ma-
traduz o sentimento e preces de toda uma rinha…sua História e….Perspectivas” - co-
guarnição. municação apresentada em 9 de Outubro de
Em finais do século XIX, quase um sé- 1989 ao International Congress of Maritime
culo depois da esquadra do Marquês de Garrafa de Vinho do Porto, Adriano Ramos Pinto, Museums.
transportada na travessia aérea do Atlântico-Sul,
Niza navegar pelo Mediterrâneo, de novo por Gago Coutinho e Sacadura Cabral. 3 António Carvalho extraído da Revista de
as potências europeias gladiam entre si. Marinha, n.º 546, Lisboa, 1968. Originalmen-
Apesar de a Conferência de Berlim ser rinha Hermenegildo Capelo e Roberto te publicado no Jornal “A Capital”, s.n., s.d.
assinada em 1885, há já vários anos que Ivens para uma missão específica.
as nações do velho continente se agita- Capelo e Ivens partem de Moçâmedes N.R.
vam em África, no sentido de assegurar em 24 de Abril de 1884, numa viagem de O autor não adota o novo acordo ortográfico.
REVISTA DA ARMADA • MAIO 2013 17