Page 22 - Revista da Armada
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ACADEMIA DE MARINHA

COMANDANTE ESTÁCIO DOS REIS

MEMBRO HONORÁRIO DA ACADEMIA DE MARINHA

Em 5 de fevereiro decorreu na Academia             nante da investigação em História. A partir daí,  reuniões mensais, coordenadas pelo Professor
     de Marinha uma Sessão Solene, presidida       encontrámo-nos com frequência, à medida que       Henrique Leitão, que nos permitiram trazer ao
     pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da       eu próprio fui desenhando a minha vida de his-    público seis (dentro em breve sete) volumes da
 Armada, que contou com a presença do Mi-          toriador: na Biblioteca Nacional, na Ajuda, nos   obra do matemático português do século XVI,
 nistro da Educação e Ciência, Dr. Nuno Crato.     Arquivos Nacionais e, muito naturalmente, na      concretizando um sonho português com dois
 Ao usar da palavra, o Presidente da Academia      Biblioteca Central de Marinha, que ainda hoje     séculos, protagonizado por várias instituições
 agradeceu a presença da-                          é a sua segunda casa. Cimentou-se entre nós
 quele membro do gover-                            uma amizade sólida construída nos múltiplos                           científicas nacionais e ten-
 no, “fazendo votos para                           encontros em realizações ligadas aos temas da                         tado por múltiplas outras
 que o possamos ter mais                           nossa busca comum, sobretudo no âmbito da                             comissões que deixaram a
 vezes entre nós, quer como                        História da Náutica e, mais recentemente para                         obra inacabada. Foi agora
 membro do governo, quer                           mim, da História da Ciência.                                          possível graças ao talento
 como ilustre cientista que                                                                                              do nosso confrade Henri-
 é, e que muito admiramos”.                         Desde o passado ano de 2001 que integra-                             que Leitão, num processo
                                                   mos uma Comissão constituída pela Academia                            longo onde António Está-
  De seguida, foi presta-                          das Ciências de Lisboa para a edição das obras                        cio dos Reis esteve sempre
 da uma homenagem ao                               completas de Pedro Nunes. Foram 12 anos de                            presente com o seu saber
 académico Estácio dos                                                                                                   e a sua inteligência. E foi
 Reis pela sua ascensão a                                                                                                neste frequente e prolon-
 Membro Honorário da                                                                                                     gado convívio que o vim
 Academia de Marinha. O                                                                                                  a conhecer de forma mais
 elogio público foi proferi-                                                                                             consistente.
 do pelo académico Seme-
 do de Matos, que afirmou:                                                                                                 Recordo as palavras
 “Conheci o comandante Estácio dos Reis – o                                                                              dele próprio sobre a forma
 nosso confrade António Estácio dos Reis – na                                                        como no final dos anos setenta começou a sua
 primeira metade dos anos oitenta, quando a                                                          atividade no âmbito da cultura. Diz-nos então
 sua actividade no âmbito da cultura já corria                                                       que, por alturas de 1976, quando alguém lhe
 com vento largo. Eu dava os primeiros passos                                                        anunciou que não seria promovido ao posto
 na conhecida via-sacra dos arquivos e biblio-                                                       de contra-almirante se desenhou o que foi a
 tecas, própria de quem quer saber e aprender,                                                       maior chance da sua vida – não são palavras
 quando o nosso homenageado ocupava já                                                               irónicas, mas verdadeiramente sentidas. Teve
 uma posição de destaque nos assuntos liga-                                                          a sorte – diz-nos – de lhe ter acontecido isso.
 dos à História Marítima, à História Náutica e à                                                     Foi um caso de serendipidade – como gosta de
 História da Ciência em Geral. Prestava servi-                                                       explicar –, uma coincidência de factos que pro-
 ço no Museu de Marinha, desde 1980, e em                                                            porcionou o feliz acaso de ser nomeado Adido
 1983 a XVIIª Exposição Europeia de Arte, Ci-                                                        Naval junto da Embaixada portuguesa em Pa-
 ência e Cultura contou com a sua ativa parti-                                                       ris. Nessa comissão de serviço – que durou en-
 cipação na Comissão Cultural. Esta exposição                                                        tre 1977 e 1980 –, conheceu François Bellec,
 deu o arranque para cerca de duas décadas                                                           à data director do Museu Naval em Paris. E foi
 de comemorações dos quinhentos anos da                                                              este oficial francês que lhe despertou a atenção
 grande Expansão Portuguesa, onde a sua obra                                                         para os instrumentos náuticos antigos e para o
 teve um lugar de destaque.                                                                          estudo da História em geral. Mais tarde, já em
                                                                                                     Portugal, quando se prefigurava a realização
  Se a memória não me falha, a primeira vez                                                          da XVIIª Exposição, teve a intuição de lançar
 que nos cruzámos e conversámos foi na Bi-                                                           um apelo público à busca de astrolábios náu-
 blioteca Central de Marinha, na primeira me-                                                        ticos antigos, que entendia só não serem co-
 tade dos anos oitenta, quando lhe pedi ajuda                                                        nhecidos e estarem devidamente expostos por
 para uma pequena investigação que não sa-                                                           absoluta desatenção. Parecia-lhe absurdo que
 bia como levar a cabo. Depois disso, várias                                                         um instrumento com tão intensa utilização nos
 vezes nos encontrámos nesse mesmo local e                                                           séculos XVI, XVII e XVIII, tenha desaparecido
 recordo-me com nitidez de uma situação em                                                           quase completamente, ao ponto de não haver
 que folheava um exemplar da Marinharia dos                                                          exemplares suficientes para uma exposição
 Descobrimentos, de Fontoura da Costa, pers-                                                         condigna. No dia em que, na televisão, se diri-
 crutando um capítulo em que reconhecia ter                                                          giu às pessoas, perguntando-lhes se não teriam
 havido uma gralha do autor. Foi motivo de                                                           por casa, numa arca perdida ou num sótão, um
 conversa durante uma boa meia hora, sobre                                                           instrumento como o que mostrava, recebeu o
 ele e sobre Teixeira da Mota, que vim a saber                                                       primeiro telefonema. E, graças a esta iniciativa,
 ter sido um dos responsáveis que em boa hora                                                        hoje conhecemos largas dezenas de astrolábios
 trouxe Estácio dos Reis para a actividade fasci-                                                    náuticos, perdidos durante séculos, agora estu-

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