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ACADEMIA DE MARINHA
COMANDANTE ESTÁCIO DOS REIS
MEMBRO HONORÁRIO DA ACADEMIA DE MARINHA
Em 5 de fevereiro decorreu na Academia nante da investigação em História. A partir daí, reuniões mensais, coordenadas pelo Professor
de Marinha uma Sessão Solene, presidida encontrámo-nos com frequência, à medida que Henrique Leitão, que nos permitiram trazer ao
pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da eu próprio fui desenhando a minha vida de his- público seis (dentro em breve sete) volumes da
Armada, que contou com a presença do Mi- toriador: na Biblioteca Nacional, na Ajuda, nos obra do matemático português do século XVI,
nistro da Educação e Ciência, Dr. Nuno Crato. Arquivos Nacionais e, muito naturalmente, na concretizando um sonho português com dois
Ao usar da palavra, o Presidente da Academia Biblioteca Central de Marinha, que ainda hoje séculos, protagonizado por várias instituições
agradeceu a presença da- é a sua segunda casa. Cimentou-se entre nós
quele membro do gover- uma amizade sólida construída nos múltiplos científicas nacionais e ten-
no, “fazendo votos para encontros em realizações ligadas aos temas da tado por múltiplas outras
que o possamos ter mais nossa busca comum, sobretudo no âmbito da comissões que deixaram a
vezes entre nós, quer como História da Náutica e, mais recentemente para obra inacabada. Foi agora
membro do governo, quer mim, da História da Ciência. possível graças ao talento
como ilustre cientista que do nosso confrade Henri-
é, e que muito admiramos”. Desde o passado ano de 2001 que integra- que Leitão, num processo
mos uma Comissão constituída pela Academia longo onde António Está-
De seguida, foi presta- das Ciências de Lisboa para a edição das obras cio dos Reis esteve sempre
da uma homenagem ao completas de Pedro Nunes. Foram 12 anos de presente com o seu saber
académico Estácio dos e a sua inteligência. E foi
Reis pela sua ascensão a neste frequente e prolon-
Membro Honorário da gado convívio que o vim
Academia de Marinha. O a conhecer de forma mais
elogio público foi proferi- consistente.
do pelo académico Seme-
do de Matos, que afirmou: Recordo as palavras
“Conheci o comandante Estácio dos Reis – o dele próprio sobre a forma
nosso confrade António Estácio dos Reis – na como no final dos anos setenta começou a sua
primeira metade dos anos oitenta, quando a atividade no âmbito da cultura. Diz-nos então
sua actividade no âmbito da cultura já corria que, por alturas de 1976, quando alguém lhe
com vento largo. Eu dava os primeiros passos anunciou que não seria promovido ao posto
na conhecida via-sacra dos arquivos e biblio- de contra-almirante se desenhou o que foi a
tecas, própria de quem quer saber e aprender, maior chance da sua vida – não são palavras
quando o nosso homenageado ocupava já irónicas, mas verdadeiramente sentidas. Teve
uma posição de destaque nos assuntos liga- a sorte – diz-nos – de lhe ter acontecido isso.
dos à História Marítima, à História Náutica e à Foi um caso de serendipidade – como gosta de
História da Ciência em Geral. Prestava servi- explicar –, uma coincidência de factos que pro-
ço no Museu de Marinha, desde 1980, e em porcionou o feliz acaso de ser nomeado Adido
1983 a XVIIª Exposição Europeia de Arte, Ci- Naval junto da Embaixada portuguesa em Pa-
ência e Cultura contou com a sua ativa parti- ris. Nessa comissão de serviço – que durou en-
cipação na Comissão Cultural. Esta exposição tre 1977 e 1980 –, conheceu François Bellec,
deu o arranque para cerca de duas décadas à data director do Museu Naval em Paris. E foi
de comemorações dos quinhentos anos da este oficial francês que lhe despertou a atenção
grande Expansão Portuguesa, onde a sua obra para os instrumentos náuticos antigos e para o
teve um lugar de destaque. estudo da História em geral. Mais tarde, já em
Portugal, quando se prefigurava a realização
Se a memória não me falha, a primeira vez da XVIIª Exposição, teve a intuição de lançar
que nos cruzámos e conversámos foi na Bi- um apelo público à busca de astrolábios náu-
blioteca Central de Marinha, na primeira me- ticos antigos, que entendia só não serem co-
tade dos anos oitenta, quando lhe pedi ajuda nhecidos e estarem devidamente expostos por
para uma pequena investigação que não sa- absoluta desatenção. Parecia-lhe absurdo que
bia como levar a cabo. Depois disso, várias um instrumento com tão intensa utilização nos
vezes nos encontrámos nesse mesmo local e séculos XVI, XVII e XVIII, tenha desaparecido
recordo-me com nitidez de uma situação em quase completamente, ao ponto de não haver
que folheava um exemplar da Marinharia dos exemplares suficientes para uma exposição
Descobrimentos, de Fontoura da Costa, pers- condigna. No dia em que, na televisão, se diri-
crutando um capítulo em que reconhecia ter giu às pessoas, perguntando-lhes se não teriam
havido uma gralha do autor. Foi motivo de por casa, numa arca perdida ou num sótão, um
conversa durante uma boa meia hora, sobre instrumento como o que mostrava, recebeu o
ele e sobre Teixeira da Mota, que vim a saber primeiro telefonema. E, graças a esta iniciativa,
ter sido um dos responsáveis que em boa hora hoje conhecemos largas dezenas de astrolábios
trouxe Estácio dos Reis para a actividade fasci- náuticos, perdidos durante séculos, agora estu-
22 MAIO 2013 • REVISTA DA ARMADA