Page 16 - Revista da Armada
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A operação de helicópteros orgâ- GREEN DECK
nicos reveste-se de várias par-
ticularidades, existindo uma ceção, pois se visto do hangar parece prever a deriva provocada pela compo-
panóplia de exigentes tarefas que são ser adequado para um jogo de futebol, nente de vento cruzado a baixa veloci-
colocadas no mar às suas tripulações, estranhamente, na final para aterrar, dade na final curta. Claro que tal não
atuando como extensão das capacida- aparenta ter o tamanho dum lenço de acontece seguramente numa aproxi-
des dos navios. Entre as mais exigentes papel! Quer-se com isto dizer que, efe- mação controlada pelo navio, mas esta
destacam-se a utilização do sonar para tivamente, a famosa deck landing no demora muito mais tempo a executar.
luta anti-submarina, inserção ou extra- convés de um navio do tipo fragata é
ção por guincho e colocação de equi- uma das manobras mais exigentes a O rumo de voo é calculado tendo em
pas de abordagem por serem executadas por um piloto, es- consideração as limitações impostas
“fast-rope”, muitas vezes pecialmente com determinadas condi- pela situação tática e de modo a que
para pequenas embarca- ções de mar e vento e em condições de cumpra com os Ship Helicopter Ope-
ções. A adicionar à com- voo noturnas ou de instrumentos.
plexidade deste tipo de ration Limits (SHOL), cal-
missões, devem ser ainda Uma aterragem bem sucedida começa culados para o binómio
considerados dois fatores com um posicionamento adequado na específico navio-helicóp-
particulares na operação final para aterrar, na marcação e altitu- tero. São constituídos por
de helicópteros a partir de correta face ao rumo de voo esco- diagramas que indicam os
de navios: a influência do lhido pela “mãe”. Por exemplo, numa limites de movimento Pi-
estado do mar na sua ope- situação de vários navios em cobertura tch/Roll e de vento rela-
ração e o regresso ao na- de setores, após a correlação do pano- tivo (composto pelo vento
vio-mãe em segurança e rama radar e do sistema de navegação verdadeiro e pelo segui-
em tempo oportuno face do helicóptero com a informação dis- mento do navio), confor-
à reduzida autonomia da ponibilizada pelo HC, voltar para um me o peso da aeronave no
aeronave. contacto que depois se conclui ser da momento da aterragem.
Acresce ainda a esta classe “Baptista de Andrade”, não são Embora em certas situa-
lista de dificuldades a boas notícias! A antecipação adequada ções, se opere perto dos
eventual operação no- no alinhamento para a aterragem per- limites do helicóptero,
turna. Como todos com- mite apreender tão cedo quanto possí- graças à razoável potên-
preenderão, a falta de vel o movimento do navio assim como cia disponível e à gene-
visibilidade restringe ex- rosa efetividade do rotor
traordinariamente a ope- de cauda, o Lynx MK95
ração do helicóptero e se pode geralmente aterrar
existem noites de luar em com ventos relativos for-
que temos a sensação de tes e significativamente
estar confortavelmente abertos com a proa do na-
sentados a assistir a uma vio. Os Oficiais de Quarto
sessão de cinema, outras habituam-se geralmente
existem em que não há bastante bem a esta ver-
um mínimo de lumino- satilidade do helicóptero;
sidade, nem a das estre- relembram-se as palavras
las, e entre a escuridão dum antigo comandan-
do céu e da superfície do te de destacamento que,
mar não se consegue per- após meses a treinar os
ceber minimamente qual seus Oficiais de Quarto
a atitude do helicóptero, sendo neces- em operações de voo aca-
sária uma adaptação à transição contí- bou por lhes desabafar:
nua entre o voo visual e a verificação “O SHOL não é só a linha
da informação prestada pelos instru- da periferia do diagrama,
mentos de voo. A perspetiva duma noi- podem utilizar também a parte de den-
te de céu forrado varia bastante con- tro!”. Devido ao bordo de aproximação
forme seja efetuada da asa da ponte ou normalmente utilizado – bombordo, por
do cockpit… questões da aerodinâmica do helicópte-
À chegada após uma missão noturna, ro e devido à turbulência gerada sobre
para além das várias dificuldades cria- o convés, os ventos relativos de marca-
das à operação do helicóptero, existe ção vermelha ligeiramente abertos pela
ainda um pequeno detalhe que separa proa são os mais favoráveis, o que leva
a tripulação do repasto constituído por os pilotos a ficarem extraordinariamente
pão de bordo acabado de cozer com agradecidos quando estas condições são
“discos de embraiagem” da D.A. Falta proporcionadas.
“pousar o estojo” naquele convés que, Uma final noturna para um convés
aos olhos dos pilotos mais novatos, é um misto de voo de instrumentos,
tem nitidamente um defeito de con- necessário ao controlo básico (tridi-
mensional) da aeronave e de voo vi-
sual para verificação do alinhamen-
to correto. Por essa razão, os pilotos
solicitam que a barra do horizonte e
16 JULHO 2013 • REVISTA DA ARMADA