Page 15 - Revista da Armada
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desenrolar de preparativos, o estabelecimento da      ao navio safos, controlo das emissões eletromag-      ficar em Alerta 20 no Convés de Voo (significa que,
OUTHOUSE. Esta é a posição geográfica para a          néticas efetuado e SHOLS dentro dos limites.          num máximo de 20min após a “Ação LYNX”, po-
qual helicóptero e navio se deverão dirigir em caso                                                         derá estar a descolar). Após aterrar, reabastece-se o
de perda total de comunicações e de contato radar     “VERDE NO CONVÉS”...09h00m                            helicóptero e os elementos da equipa de convés
e visual entre ambos. Este procedimento, entre o                                                            de voo prendem-no com fitas e correntes garan-
OQP, piloto e HC é constantemente verificado,          Com as condições de segurança necessárias às         tindo que este fica bem seguro ao convés de voo,
garantindo assim a sua realização em total segu-      operações de voo todas reunidas, o comandante         pois o navio terá que manobrar livremente. Para
rança até ao final das operações de voo. O OAT        do navio dá autorização à descolagem do heli-         mais tarde está prevista uma saída para busca de
passa então ao HC as “intenções de comando”           cóptero, o OQP ativa a luz verde no semáforo de       superfície destinada a investigar possíveis contatos
para a primeira saída de acordo com as instruções     STOP & GO e, através das conferências internas,       suspeitos que se encontrem na área.
divulgadas durante o briefing: “LYNX descola,         informa todas as estações desta ação. No convés
efetua circuito visual para aterrar. Aterra, passa 4  de voo e sob coordenação do FDO, a equipa de          “ALIVIAR POSTOS DA CONDIÇÃO
lashings (fitas de fixação ao convés de voo), arpão,  convés de voo aproxima-se da aeronave e retira os     ESPECIAL 2H – OPERAÇÕES COM
telebrief e prepara para descolar para 2ª saída”.     lashings que a seguram ao navio. O piloto aumen-      HELICÓPTEROS”…
                                                      ta a potência, o helicóptero descola, fica a pairar
 As intenções de comando são sempre definidas         sobre o navio e, após as indicações do FDO, afas-      Com este aviso, termina parte de um dia normal
antes da aeronave descolar. Com as intenções de       ta-se por bombordo de modo a cumprir com as           de operações de voo a bordo de uma fragata. Ape-
comando recebidas, o HC difunde-as na confe-          intenções de comando. Durante os próximos 90          sar de aliviados os postos, os elementos envolvidos
rência telebrief para a ponte, piloto e FDO. Todos    minutos serão simuladas, por parte da tripulação,     terão que manter uma prontidão de 5min, para
dão o recebido de modo a não haver dúvidas do         diversas avarias na aeronave, alterações nas con-     responder a qualquer missão não planeada.
que irá se passar. Após este procedimento, o OQP      dições de visibilidade e outro tipo de incidentes,
informa qual vai ser o rumo de voo e a velocidade     de modo a testar a capacidade de reação do na-         Ao longo dos últimos 20 anos, a integração e
do navio à descolagem.                                vio em situações de emergência. Todos têm uma         operação dos helicópteros LYNX MK95 a bordo
                                                      importante função a desempenhar e todos irão ser      das fragatas da Marinha Portuguesa desenvolveu-
“2 MINUTOS”… 08h58m                                   chamados a demonstrar os seus conhecimentos.          -se através de um conjunto de ações e procedi-
                                                                                                            mentos particularmente bem sucedidos, que se
 Quando todas as condições a bordo da aerona-         “LYNX REVERTE A ALERTA 20 NO                          tornaram parte integrante das rotinas de bordo e
ve se encontram reunidas, o piloto informa que        CONVÉS DE VOO”… 10H30M                                que permitiram dar aos navios uma dimensão ex-
está pronto a descolar em 2 minutos. Na ponte                                                               tra e fundamental às suas capacidades.
completam-se as últimas verificações: navio está-      As intenções de comando passadas antes do
vel ao rumo e velocidade, navegação e corredores      início da última saída são claras. O helicóptero irá                         J. Salvado de Figueiredo
de afastamento ou de aproximação do helicóptero                                                                                                      CMG

Por ocasião da participação da fragata                E.L.V.A. EXPEDITO                                     nevoeiro para procurar a esteira de um navio?
      Corte-Real nas comemorações do dia das                                                                 Assim, sem nunca declarar ELVA, decidi usar
      Forças Armadas em Leixões, realizou-se           sem visibilidade. O navio reportava visibilidades
no dia 23 de julho de 1993, a primeira missão          cada vez mais reduzidas, já abaixo dos limites       todos os automatismos de bordo e, sob o contro-
de voo no Lynx com uma tripulação exclusiva-           mínimos para uma aproximação normal por              lo radar do Tenente Conceição Lopes, que nos
mente portuguesa. Pretendia-se então começar a         instrumentos, que eram de meia milha náutica.        guiou com precisão para uma posição a ré da
“mostrar” o novo helicóptero da Marinha como           Impunha-se tomar uma decisão: desistimos já e        fragata, descemos em transição automática até
meio orgânico do navio.                                alternamos para o Aeródromo de Manobra Nº1           conseguirmos ver a superfície do mar e, depois,
                                                       de Ovar, perdendo-se a janela de embarque, ou,       “apanhar” a esteira do navio. Assim, calma e
  Vicissitudes várias obrigaram o embarque do          então, tentamos fazer um ELVA (Emergency Low         controladamente, fomo-nos aproximando em
helicóptero com o navio em trânsito para o por-        Visibility Approach)?                                segurança do navio, qual ponte de comando
to de Leixões, já numa posição bem a norte de                                                               sustentada a dezoito metros de altura pelo siste-
Aveiro. Havia necessidade de aterrar no navio           Tal como o nome indica, o ELVA é uma ma-            ma “doppler”. A cerca de um quarto de milha
antes da entrada na barra, já que estavam inter-       nobra considerada de emergência pelos Lynx           do navio, avistámos finalmente o tão desejado
ditas as operações de voo no porto de Leixões.         da Royal Navy em circunstâncias de visibilida-       convés de voo, onde aterrámos sem problemas.
Era, enfim, uma missão “quase” sem alternante.         de muito reduzida. Não estávamos em emer-            Estava cumprida a missão!
                                                       gência, e tínhamos um helicóptero melhor
  Quis o destino que a visibilidade estivesse má.      equipado que o Lynx da RN de então e tínha-           Foi assim, desta forma, que embarcámos o pri-
Começámos por ter grande manto de nuvens               mos uma tripulação de dois pilotos. Ou seja, na      meiro Lynx guarnecido exclusivamente por uma
por alturas da serra de Aire. Seguindo a reco-         minha perspetiva, o que para o Lynx britânico        tripulação portuguesa, poucos meses depois de
mendação do meu copiloto, o 2TEN Conceição             era uma situação de emergência, era para nós         termos iniciado a nossa conversão ao helicóptero.
Lopes, já com dois anos de experiência opera-          uma situação apenas mais exigente. Além dis-
cional em Allouette III e, portanto, habituado a       so, se estávamos treinados para descer até aos        O mais engraçado veio depois. Levado à pre-
passar “por baixo” do mau tempo, tentámos des-         60 pés sobre o mar à noite para “caçar” subma-       sença do comandante do navio, o então CFR
cer e colarmo-nos à superfície do terreno. Sem         rinos, não conseguiríamos descer num dia de          Melo Gomes, que após me dar as boas-vindas,
sucesso, estava tudo fechado à nossa frente e não                                                           explicou-me que tinha de informar Lisboa que
havia por onde passar a norte em condições de                                                               tínhamos chegado em segurança e queria saber
voo visual. Grandes males, grandes remédios, a                                                              que tipo de aproximação ao navio tinha sido por
primeira missão “portuguesa” haveria de ser em                                                              nós utilizado. Sem outras opções, não consegui
voo por instrumentos. Pedimos ao controlador                                                                fugir: “Senhor Comandante, isto foi um … ELVA
para subir para nível de voo e veio de lá a per-                                                            EXPEDITO”. E não é que a mensagem saiu com
gunta para o Lynx: “Confirme que está qualifica-                                                            essa referência. Felizmente parece ninguém to-
do para voo por instrumentos”. Éramos mesmo                                                                 mou atenção ao detalhe em Lisboa…
novidade nos céus de Portugal…
                                                                                                                                           Rui Graça Marim
  Já sobre o mar e em aproximação à Corte                                                                                                             CMG
Real, iniciámos a descida dentro de nuvens e

                                                                                                            REVISTA DA ARMADA • JULHO 2013 15
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