Page 11 - Revista da Armada
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Corria o ano de 1988 quando foi publicado O INÍCIO experiência deveria enveredar pela instalação de
em OP1 o convite para a frequência do Air capacidade própria no Centro de Instrução de
Engineer Application Course, em Inglater- DGMN onde integrámos o Grupo de Trabalho Helicópteros, o que veio a acontecer a partir do
ra, destinado a dois oficiais subalternos: um de Ma- para a Aquisição dos Helicópteros (GTAH), sob terceiro curso de praças.
rinha, especializado em Eletrotecnia e um EMQ. a direção do então CMG ECN Beirão Reis. Em
acumulação fui colocado na 4ª divisão do EMA Princípios semelhantes foram seguidos para a
Tanto quanto sei, este foi o primeiro ato de e ambos integrámos também a Comissão para a formação do pessoal de voo, tendo a Marinha
recrutamento de pessoal para o programa dos Integração dos Helicópteros na Marinha (CIHM), assumido sempre que a FAP seria a entidade
helicópteros na Marinha, numa altura em que sob direção do Sub-Cema, CALM Vieira Matias, responsável pela formação ab initio dos pilotos,
não se sabia ainda qual a decisão sobre o tipo e supervisão direta do CFR Rodrigues Leite. seguindo os mesmos padrões que aplica ao seu
de aeronave a adquirir no âmbito do programa pessoal. Desta forma, a Marinha recebia pilotos
de aquisição das novas fragatas. Decisão que se Em dezembro de 1989, por despacho do brevetados nas mesmas condições dos outros pi-
revelaria de elevado acerto e que sempre ouvi MDN, foi decidido que o helicóptero a adquirir lotos militares e só nessa altura lhes era ministra-
atribuir a uma proposta do então comandante seria o Lynx e dado início ao processo de nego- da a formação de conversão ao Lynx, após a qual
Pires Neves, que na altura prestava serviço na 1ª ciação do contrato de aquisição. se concluía a especialização em piloto naval. No
divisão do EMA. caso dos primeiros pilotos, a sua formação na
Em paralelo, iniciava-se a elaboração de todo o FAP incluiu um estágio operacional que, com
Feita a seleção, em meados de Agosto de extenso normativo da Marinha relativo à manu- benefício mútuo, permitiu aos pilotos iniciarem a
1988 rumámos a Plymouth, eu e o engenheiro tenção dos helicópteros, baseado, naturalmente, conversão ao Lynx já com cerca de 600 horas de
Gonçalves Henriques, para iniciarmos a primei- na documentação da RN que tínhamos explora-
ra fase do curso no Royal Naval En- do durante o curso. Foi também o modelo inglês voo efetuadas.
gineering College. que serviu de base aos estudos efetuados para Outra decisão que julgo ter sido
Nesta primeira fase, foram cober- apurar a organização da futura Esquadrilha de de grande importância, foi a de dar
tas as matérias teóricas relacionadas Helicópteros e o desenho da sua lotação, em es- formação igual a todos os pilotos.
com a aerodinâmica, estruturas, sis- pecial nas áreas técnicas da manutenção. Quer isto dizer que todos eles são
temas de bordo (aviónicos, hidráuli- também habilitados a desempenhar
cos, mecânicos, elétricos e motores) No que à área da manutenção diz respeito, as funções de TACO, ou seja, po-
e a muito crítica área da documenta- foram propostos e aceites superiormente alguns dem voar à direita (pilotos), ou à es-
ção das aeronaves e controlo e cer- princípios a que, pessoalmente, atribuo extrema querda (TACO), com benefícios em
tificação das ações de manutenção. relevância no sucesso da EH, nomeadamente: termos de segurança, especialmente
na resolução de emergências. Ape-
Finda a parte teórica do curso, fo- – A redução do risco na formação de técnicos sar dos maiores custos de formação
mos transferidos, em abril de 1989, de manutenção através da nomeação de candi- e de manutenção de qualificações,
para Lee-on-the-Solent, onde no datos com sólida formação técnica. Entendeu-se continuo convicto que este sistema
HMS Daedalus, durante dois me- que ensinar “aviação” a técnicos qualificados nas é o que melhor se adequa ao nosso
ses, ficámos imersos em ambiente diversas áreas daria mais garantia de sucesso do tipo de operação.
de produção, no qual os elementos que iniciar uma nova classe. É por esta razão que
do curso (7 oficiais da RN, 2 Oficiais na primeira lotação da EH aparecem 42 sargentos Outra área em que a Marinha foi
paquistaneses e os dois portugueses) artífices que se destinaram, cumprindo com ele- inovadora reside nos operadores de
rodavam diariamente no desempe- vada qualidade, a ser o núcleo da manutenção sistemas que gosto de apelidar de 4
nho dos diversos cargos existentes num serviço das aeronaves, em terra e a bordo, e permitiram a em 1. Sendo uma das missões do Lynx a luta an-
de manutenção de uma fictícia esquadra de voo. instalação de capacidades de 2º escalão em todas ti-submarina (a primária à data do contrato), um
as valências sem sobressaltos. Também as praças membro essencial da tripulação é o operador de
Ultrapassada esta fase, foram os oficiais alunos selecionadas eram todas dos QP e com experiên- sonar – mais uma vez, uma praça T convertida.
separados e mandados apresentar nas esquadras cia de embarque, fatores que aliados ao apurado Tendo o helicóptero um guincho, pareceu natural
de voo que operavam as aeronaves escolhidas de sentido das responsabilidades por todos eviden- que o operador sonar fosse qualificado também
acordo com o interesse anteriormente manifesta- ciado facilitou, sobremaneira, a sua conversão como operador de guincho e, se tem guincho e
do para obtenção do Certificado de Competência em técnicos de manutenção de aeronaves. pode transportar maca, então faria sentido ter um
(CoC). A nós, portugueses, coube marcharmos recuperador salvador. Logo, o mesmo operador
para a NAS Portland, base dos helicópteros Lynx, – A Marinha não deveria criar uma escola de sonar é também qualificado como recuperador
ficando eu na esquadra 829, parent squadron dos manutenção de aeronaves responsável pelo trei- salvador. Mais recentemente, tendo o helicóptero
destacamentos dos escoltas e do navio de apoio no da primeira guarnição, mas antes utilizar as sido dotado com a capacidade de instalar uma
na Antártida e o meu camarada Gonçalves Henri- capacidades existentes na FAP e só após adquirir metralhadora na cabine houve necessidade de
ques na esquadra 715 responsável pelo treino de qualificar operadores de metralhadora e a escolha
todos os pilotos e observadores dos Lynx. recaiu, naturalmente, no operador de sistemas, o
tal 4 em 1. Ainda há quem diga que os militares
Após quatro meses de muito trabalho e um são pouco versáteis!
exame oral perante o CoC Board, composto pelo Tendo estado ligado ao programa dos helicóp-
Commander E (Chefe do Grupo de Material) da teros de 1988 a 1996 e de 1999 a 2003, é com
Base, pelos Air Engineer Officer das Esquadras e grande orgulho que, modestamente, me associo
pelo Senior Maintenance Rating (SMR) das es- às celebrações do aniversário da EH. Desejo à
quadras, recebemos o nosso CoC, entregue pelo Esquadrilha de Helicópteros e a todos que ali ser-
Flag Officer Naval Aviation. vem o país, as maiores venturas e a manutenção
do número de aterragens igual ao de descolagens.
Por esta altura decorria em Lisboa a seleção dos
primeiros oito candidatos a piloto, dando início a V. Gomes de Sousa
um processo de formação que só terminaria em CALM
1995 com a primeira atribuição operacional de
um destacamento a bordo. REVISTA DA ARMADA • JULHO 2013 11
Regressados a Lisboa em outubro de 1989,
fomos colocados no Gabinete de Estudos da