Page 12 - Revista da Armada
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UMA MISSÃO FORA DO VULGAR...
O tempo passa e vamo-nos esque- de encontrar! Chegados ao Mar Celta – significativo. As duas equipas do convés
cendo de muita coisa; alguns entre a ponta Sudoeste de Inglaterra e a de voo, chefiadas pelos então Tenen-
acontecimentos, pelos riscos Irlanda – com vento fresco e mar cavado, tes Henriques Gomes e Oliveira Fuze-
envolvidos, novidade, especificidade ou por vezes com chuva e limitada visibili- ta, tiveram um desempenho notável e
quaisquer outras razões, perduram; é o dade, lá iniciámos as operações de voo. mereceram rasgados elogios dos pilotos
caso de uma missão fora do vulgar, exe- O navio navegava a diferentes proas, ori- de teste, o LCdr Peter Richings e o Mr.
cutada pela fragata Corte Real, há cerca ginando diferentes ventos relativos, mas Michael Allen, antigo piloto de Lynx do
de vinte anos, de que ainda me recordo o helicóptero lá levantava e pousava sem Exército Britânico.
bastante bem. dificuldade, sem parar, fruto das suas ex-
celentes características e da perícia dos No decurso desta missão, ocorreu um
Cada conjunto par “tipo de navio/tipo pilotos. Por mais de uma vez tive de dizer incidente curioso: três ou quatro dias de-
de helicóptero” tem limites de operação ao Mr. Roger Finch, o chefe do projecto pois da largada de Portsmouth, recebemos
de segurança, face à força do SHOL’s que embarcara connosco, que
vento e ao balanço do na- me parecia que as condições se estavam uma mensagem das autorida-
vio, designados em inglês por a aproximar perigosamente do limite; gra- des navais inglesas perguntan-
SHOL’s – Ship Helicopter Off cejava, referindo que só tínhamos adqui- do se estávamos a operar perto
Limits. As fragatas da classe rido cinco unidades e não queria perder o da costa, nas imediações de
Vasco da Gama e os helicóp- helicóptero que tínhamos a bordo... Lizzard Point, no sudoeste de
teros Westland Lynx MK 95 ne- Inglaterra, ao que de imediato
cessitavam, naturalmente, para Assim se realizaram com sucesso, no respondemos afirmativamente.
poderem operar em segurança, período de 1 a 11 de Novembro, 17 saí- Laconicamente, solicitaram-nos
que se determinassem os res- das do helicóptero, que originaram 453 que interrompessemos de ime-
pectivos SHOL. aterragens, em 41 horas e 30 minutos diato as transmissões do radar
de voo, tendo sido recolhida a informa- de aviso aéreo DA-08. Ao re-
A primeira guarnição desta ção necessária para elaborar os SHOL’s. gressar a Portsmouth, no dia
classe de fragatas não teve o Para a guarnição foi muito cansativo, 11, nada me foi referido; mas
destacamento de helicóptero pois ...procurávamos situações de muito vim a saber depois, que duran-
a bordo, pois o programa Lynx balanço... mas o treino conseguido foi te três dias o Reino Unido tinha
atrasou-se um pouco, o que perdido as comunicações via
até foi útil, facilitando a inte- satélite com o resto do Mundo,
gração na Marinha de tantos pois a estação terrena de onde
novos procedimentos, sistemas era estabelecido o link para os
e equipamentos. Contudo, os satélites de comunicações, lo-
navios estavam desde o início calizada junto da costa, perto
treinados e equipados para de Lizzard Point, tinha sido
operar helicópteros. Durante o interferida por emissões de um
período de treino no FOST, em radar... Uma situação seme-
1992, a Corte Real, que eu en- lhante, com um navio alemão
tão comandava, treinou os seus equipado também com o DA-08,
HC’s (helicopter controllers) e teria já ocorrido no passado.
as suas equipas de convés de No clássico estilo inglês, nada
voo (flight deck) com helicóp- me foi dito acerca deste inci-
teros da Royal Navy. dente, pois a bordo não pode-
ríamos advinhar esta situação,
Em fins de 1993 foi atribuída mas presumo que alguém em
à fragata Corte Real uma mis- terra, no staff do Comando Na-
são fora do vulgar: embarcar val local, terá sido “apertado”
um dos nossos helicópteros por não nos ter informado nem
Lynx MK 95, uma equipa de ter estabelecido uma área de
apoio de Boscome Down, in- resguardo.
cluindo dois pilotos de teste, Passados cerca de vinte anos, recordo
para realizar algumas centenas de ope- com saudade esta missão, que com o en-
rações de voo, recolhendo a informação tusiasmo e o profissionalismo de toda a
que permitisse construir os SHOL’s. O guarnição, com destaque para as equipas
navio tinha então um LIMOP: um dos do Centro de Operações e do flight deck,
dois estabilizadores estava avariado e a Corte Real executou então com todo o
não funcionava. Contudo, como o ob- sucesso. É verdade que a primeira guarni-
jectivo era procurar situações limite de ção do navio não teve um destacamento
balanço, a avaria não prejudicou a reali- de helicópteros atribuido; mas importa
zação da missão. sublinhar que fomos nós que fizémos os
SHOL’s !
Na manhã de 1 de Novembro, a nave-
gar ao longo da costa, pouco depois de H. Alexandre da Fonseca
largarmos de Portsmouth, embárcamos o VALM
“nosso” Lynx 03 e, ao contrário do que
é normal, procurámos situações de mau
tempo, o que, como se sabe, nas áreas ao
largo da costa de Inglaterra não é difícil
12 JULHO 2013 • REVISTA DA ARMADA