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REVISTA DA ARMADA | 482

QUAL É
VERDADEIRAMENTE A
IMPORTÂNCIA DA DEFESA?

Com o passar dos anos, nomeadamente         a questão fundamental foi: Qual é verda-      cidadãos respondia que no seu país o
    com o fim da Guerra-fria, a conjuntu-   deiramente a importância da Defesa?           montante do PIB dedicado à Defesa se-
ra internacional e consequentemente as                                                    ria na ordem dos 5% a 15%, o que reflete
nacionais têm vindo a sofrer alterações       O estudo concluiu sem margem para           um enorme desconhecimento dos factos
que se poderão considerar dramáticas.       dúvidas que a Defesa é realmente impor-       e da real ordem de grandeza deste tipo de
Observando a situação dos países da Eu-     tante, mas que existe uma enorme neces-       investimentos. Não será de ignorar que
ropa ocidental, verificamos que as cons-    sidade de que essa importância seja mui-      mesmo com este tipo de respostas, imen-
ciências de segurança têm hoje em dia va-   to melhor e mais amiúde explicada pelos       sas houve que afirmaram ser de manter
lores substancialmente elevados, nomea-     governos às sociedades civis e cidadãos       os atuais gastos, e as que opinaram em
damente se olharmos para os conflitos       em geral. A falta da consciencialização       favor das reduções fizeram-no face a va-
tanto presentes como do passado recen-      destes assuntos e do que é regularmente       lores de referência incorretos e extrema-
te, constatando que estes são maioritaria-  feito pelas Forças-Armadas, assim como a      mente elevados. Será importante referir
mente longe de casa. Hoje em dia, muito     sua justificação à sociedade civil torna-se   que no contexto europeu a atual média
poucas nações possuem o serviço militar     assim como a maior fonte de dúvidas exis-     dos orçamentos de Defesa apenas ronda
obrigatório, tal como acontece em Portu-    tentes, tornando-se desta forma imperio-      os 1,5% do PIB, e que relativamente aos
gal desde 2004. Este afastamento forçado,   sa a adaptação de posturas mais transpa-      países analisados, esta média é apenas ul-
ainda que desejado, das populações rela-    rentes e esclarecedoras.                      trapassada pelo Reino Unido (4%), Poló-
tivamente aos assuntos da Defesa criaram                                                  nia (2%) e Alemanha (2%). Os cortes orça-
um fosso alargado que nos dias que cor-       Para além da conclusão mais notória e       mentais têm sido efetivamente drásticos
rem se torna difícil de repor, mesmo que    já relatada, foram identificados mais qua-    e este facto não está corretamente difun-
para tal existisse vontade.                 tro itens que se torna importante ter pre-    dido e compreendido pelas diversas opi-
                                            sentes, repensar e acautelar.                 niões públicas.
   Concorrentemente, a crise financeira
que assola a maioria dos países trouxe        Em primeiro lugar foi notório um alar-        Uma Terceira conclusão refere-se à
enormes constrangimentos às suas eco-       gado respeito pelas forças militares e até    constatação da importância das indústrias
nomias, o que originou cortes aos orça-     uma razoável compreensão sobre a neces-       de Defesa. Estas são geralmente conside-
mentos e aos quais as verbas consignadas    sidade dos investimentos nas áreas milita-    radas como contribuintes muito positivos
à Defesa igualmente não puderam deixar      res. Estas constatações variaram de país      para as economias. Por outro lado, as res-
de ser afetadas.                            para país, mas apenas uma pequena mar-        postas evidenciam grave desconhecimen-
                                            gem manifestou não concordar com estes        to no que efetivamente é produzido, as-
   Estes factos trouxeram ainda mais à ri-  investimentos, ou pelo menos, a maioria       sociado a perceções erróneas de gastos
balta muitas questões e cada vez mais dú-   referiu que no presente os cortes já efe-     supérfluos, faltas de transparência e inefi-
vidas sobre a efetiva necessidade da exis-  tuados não deveriam ser aumentados.           cácias na edificação de resultados.
tência das organizações de Defesa e conse-
quentemente das Forças Armadas.               Seguidamente constatou-se um enten-           Em quarto e último lugar as respostas
                                            dimento generalizado sobre a importân-        aos questionários revelaram que efetiva-
   Nos últimos meses alguns dos mais des-   cia da segurança, liberdade e da sua di-      mente existem diferenças substanciais en-
tacados institutos de investigação de al-   reta dependência com a prosperidade de        tre as perceções norte-americanas e eu-
guns países membros da Aliança Atlântica    cada Estado, ou seja, é notória a opinião     ropeias no que à Defesa diz respeito e par-
efetuaram um estudo, denominado 2013        de que sem segurança não existe possi-        ticularmente no que à adesão a alianças
Transatlantic Trends Survey1, que se de-    bilidade de existência de prosperidade.       militares, tais como a NATO, dizem res-
bruçou sobre estas questões, analisando     No entanto, paralelamente a estas per-        peito. A perceção e sensação de seguran-
onze países2 membros da UE, os EUA e        ceções favoráveis, verificou-se não existir   ça são generalizadas nas populações da
a Turquia. Foram abordadas as perspeti-     um real conhecimento dos valores mone-        Europa ocidental e dos EUA. No entanto,
vas de diversos representantes políticos    tários afetos aos investimentos na Defesa,    enquanto que para os primeiros a adesão
assim como foram inquiridas representa-     de onde e de como esses investimentos         à Aliança Atlântica é um sinónimo de au-
ções da sociedade civil. Desta forma, fo-   são efetuados ou utilizados e finalmente      mento de proficiência e profissionalismo
ram também efetuadas diversas entrevis-     sobre quais as reais funções e atribuições    das suas Forças Armadas, para a popula-
tas a comentadores políticos, jornalistas   dos elementos das Forças Armadas quan-        ção dos EUA a NATO não acarreta vanta-
e cidadãos comuns, que expressaram as       do executam missões fora dos respetivos       gens substanciais, estando geralmente
suas opiniões sobre as questões da im-      países no âmbito da NATO, da UE ou da         até presente a ideia de que é o seu país
portância real das instituições de Defesa   ONU.                                          que subsidia a Defesa da Europa quase na
nacionais.                                                                                totalidade.
                                              Corroborando estas dúvidas, consta-
   O objetivo foi o de obter uma imagem     tou-se que a maioria dos cidadãos inda-         Assim, à luz de todos estes factos, como
real de como é vista a Defesa pela opinião  gados imaginava que as verbas dedicadas       se poderá melhorar a perceção da socie-
pública, valorizando a mesma no contex-     às questões de Defesa seriam substan-         dade civil e da opinião pública em geral
to da sociedade e da sua real efetividade   cialmente maiores que as realmente gas-       sobre os assuntos da Defesa?
e consequente importância. Entre outras,    tas; para exemplificar este facto verificou-
                                            se que quando inquiridos a maioria dos

10 FEVEREIRO 2014
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