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REVISTA DA ARMADA | 482
COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA
MUSEU DE MARINHA | 150 ANOS
A História da Aviação Naval nas
Colecções do Museu de Marinha
Passados mais de 60 anos da sua extinção, a memória da Aviação Naval perdura, em grande medida, graças ao feito
maior realizado por Gago Coutinho e Sacadura Cabral que, ao concretizarem o raid aéreo Lisboa-Rio de Janeiro, inscre-
veram a Marinha e Portugal nos anais da história da Aviação Mundial.
Contudo, para além da grande travessia de 1922, os 35 anos de existência da Aviação Naval foram marcados por uma
intensa actividade operacional, possível em grande medida pela capacidade de adaptação, inovação e superação que
aqueles que a serviram foram capazes de demonstrar.
O Museu de Marinha conserva no seu acervo importantes testemunhos materiais e documentais, em exposição perma-
nente assim como nas suas reservas, deste importante período para a história da Marinha e da Aviação em Portugal.
Esperamos que estes possam contribuir, não só para o seu estudo e melhor compreensão, como principalmente para a
perpetuação da memória daqueles que serviram e deram corpo, alguns a própria vida, à Aviação Naval.
A Criação da Aviação Hidroavião Fairey IIID F17 “Santa Cruz”. Sacadura Cabral, o qual seria o meio mais
Naval eficaz para a detecção de submarinos ini-
os primeiros que viriam a ser operados migos que impunemente atacavam por-
Com a entrada de Portugal na Primeira pela Marinha Portuguesa. Estes apare- tos e navios nacionais. Para tal era neces-
Guerra Mundial, o então Primeiro-tenen- lhos, os FBA Tipo B, conhecidos como sária a criação do Centro de Aviação Naval
te Sacadura Cabral foi o principal defen- “Shreck”, chegaram a Portugal no início (CAN) de Lisboa, instalado em Belém, com
sor da utilização de meios aéreos na Ma- de 1917. Tratava-se de biplanos de cas- vista à patrulha aérea da barra do Tejo e
rinha. Concluído o curso de piloto militar co monomotores, bilugares, destinando- faixa costeira adjacente. A sua activação
em Chartres em 1916, com a classificação -se a missões de reconhecimento costeiro foi concretizada em 14 de Dezembro des-
de trés bon pilote, por iniciativa própria e bombardeamento. E foi precisamente se ano de 1917, com a entrada na doca
Sacadura Cabral foi frequentar um estágio num destes aparelhos que Sacadura Ca- do Bom Sucesso dos dois FBA, vindos das
em hidroaviões, no centro da Aeronáuti- bral levou a voar o então Ministro da Ma- instalações de Vila Nova da Rainha sob os
ca Naval de Saint Raphael. Mas antes de rinha, Comandante Victor Hugo de Azeve- comandos dos Primeiros-tenentes Pedro
regressar a Lisboa, cooperou na aquisição do Coutinho, o qual terá ficado rendido às Rosado e Azeredo e Vasconcelos. Iniciava-
de diverso material aeronáutico para o potencialidades da utilização de meios aé- -se assim, oficialmente, a actividade ope-
Ministério da Guerra. reos na Marinha. Dava-se assim luz verde racional da Aviação Naval.
ao projecto de criação de um dispositivo
No Centro de Documentação do Mu- de vigilância aérea da costa, proposto por
seu de Marinha encontra-se diversa cor-
respondência, proveniente do espólio
pessoal do Comandante Sacadura Cabral,
relativa aos processos administrativos de
aquisição, transporte e entrega de apa-
relhos, motores, sobressalentes e varia-
do equipamento. Alguns destes destina-
vam-se também à “Aviação Colonial”, sob
encomenda do Ministério das Colónias, o
qual reconheceu a competência técnica,
eficácia e rigor de Sacadura Cabral, atri-
buindo-lhe um expressivo louvor1. Este
acervo documental, de grande relevância
para o estudo e compreensão dos primór-
dios da Aviação Militar em Portugal, é
também revelador da personalidade do
Comandante Sacadura Cabral, nomeada-
mente da sua capacidade de trabalho e
organização.
Foi também da responsabilidade do Co-
mandante Sacadura Cabral a selecção do
consórcio Franco-British Aviation (FBA)
para o fornecimento de dois hidroaviões,
14 FEVEREIRO 2014