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REVISTA DA ARMADA | 490

propósito comum europeu. Mas a ac-             recuperação do seu papel cimeiro no mapa         Um dos pontos basilares da PMI foi o
tual crise da zona euro e das dívidas so-      económico e geopolítico do século XXI, que     de propor a mudança da lógica da gover-
beranas veio “desgastar” a equação e           ventos adversos teimam em contrariar:          nação sectorial das políticas e das tute-
quanto mais os cidadãos europeus per-                                                         las, inibidora do aproveitamento das si-
cepcionarem o seu efeito nefasto no              	 (1)  PMI europeia                          nergias entre elas, oferecendo, em con-
móbil da construção europeia – coesão                                                         trapartida, uma nova visão para a gestão
e solidariedade –, mais expressarão o            Foi uma aposta com algum significado e       dos oceanos na Europa, através de uma
desencanto e a falta de confiança nesse        mérito da presidência portuguesa da Co-        política integrada, inter-sectorial e mul-
processo comunitário. Ora é aqui que o         missão Europeia (CE), dado que, à épo-         ti-disciplinar, o que se fica a dever em
mar irrompe, tanto na Europa como em           ca, a iniciativa de incluir o mar na agen-     boa parte ao trabalho de um dos grandes
Portugal. Daí que os clusters marítimos        da europeia como domínio relevante não         conceptualistas desta abordagem holísti-
estejam particularmente bem colocados          era tarefa fácil e mais difícil ainda que en-  ca, o Prof. Mário Ruivo.
para contribuírem para a realização da         trasse, de facto, nos objectivos estratégi-
Política Marítima Integrada (PMI) euro-        cos da UE e neles passasse a constar como        A PMI abrange, especificamente, as
peia, reclamante do desenvolvimento            uma prioridade.                                seguintes políticas transversais: “cresci-
do projecto de uma rede europeia de                                                           mento azul”; conhecimento e dados so-
clusters marítimos.                              Este processo de edificação da nova po-      bre o meio marinho; ordenamento do
                                               lítica demorou 3 anos, desde o pontapé         espaço marítimo e gestão costeira inte-
  Do Mar, esse imenso lençol líquido que       de saída com o “Livro Verde” até ao “Livro     grada; vigilância marítima integrada; e
afaga as costas dos países ribeirinhos, a re-  Azul”1, adoptado pela CE, em 10OUT2007,        estratégias para as bacias marítimas. O
querer a necessária e exigente acção dos       no qual se propunha uma “Política Maríti-      seu objectivo central passa pelo desen-
Estados nesses espaços marítimos sob so-       ma Integrada” (PMI) para a UE e um “Pla-       volvimento de uma cooperação estreita
berania e jurisdição nacionais. Os mares e     no de Acção” circunstanciado, aprovados
oceanos, para além da sua função regula-       pelo Conselho Europeu de 14DEZ2007.
dora do clima, podem desempenhar um
papel decisivo na recuperação económi-
ca, com o aproveitamento das potenciali-
dades da economia azul europeia.

  Do Atlântico, enquanto poderosa par-
cela daquele Oceano global e vizinho
chegado do território continental euro-
peu. A sua bacia representa uma área to-
tal de 20% da superfície da Terra e 26%
da sua superfície líquida, dimensões que
fazem deste Oceano o segundo maior e
onde se inclui o Mar-Portugal. Realce-se
que, ao contrário do que se tem ventila-
do, julgamos pertinente falar da ressur-
gência do Atlântico, se vingar a tese de
que os EUA não estarão a planear afas-
tarem-se da Europa para a Ásia, mas sim
a virarem-se para ela com a Europa, que
o desejável sucesso das negociações so-
bre um acordo de livre comércio e inves-
timento (TTI-P, na sigla inglesa) entre am-
bos, poderá ratificar.

  De Portugal, apenas para lembrar a nos-
sa incontornável relação histórica e identi-
tária com os “mares”. Ganharemos com a
consideração da unidade atlântica enquan-
to espaço geopolítico relevante da política
internacional. Eis uma via para o reforço da
centralidade e dimensão de um país cuja
circunstância geográfica o habilita a rejei-
tar o epíteto de pequeno e periférico.

  Passemos, então, à apreciação das políti-
cas e estratégias marítimas:

  a)  Europa

  A nível global, a UE tem, efectivamente,
demonstrado algum poder de iniciativa, ao
pressionar em favor de mais ambiciosas Re-
soluções sobre os oceanos, do Direito do Mar
e das pescas sustentáveis. Vejamos até que
ponto a documentação política e estratégica
da União poderá contribuir para a necessária

                                                                                              NOVEMBRO 2014 11
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