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REVISTA DA ARMADA | 490

operações expedicionárias marítimas conjuntas e que o exercício         do e controlo efetiva, permitiu atingir, muito satisfatoriamente, os
TRJR14 também serviu para testar.                                       objetivos de treino pretendidos, tendo sido considerado pela equipa
                                                                        de avaliação do SHAPE11 uma “best practice” para a NATO.
  De acordo com a definição, uma MEO refere-se à capacidade
da NATO projetar forças marítimas a fim de desencadear efeitos            Em tom conclusivo, e regressando às Maritime Expeditionary
conjuntos decisivos nos diversos domínios, operando a distâncias        Operations, o correto posicionamento e a cuidadosa sequencia-
estratégicas, com pouco ou nenhum apoio de nação hospedeira,            ção da logística marítima na resposta a crises exige uma perfeita
logística integrada e com uma pegada terrestre mínima.                  sincronização entre os planeadores das operacões e da logística.
                                                                        Forças marítimas expedicionárias são, e serão sempre, um forte
  O apoio logístico a distâncias estratégicas é complexo e dispen-      instrumento de poder flexível e logisticamente sustentável à dis-
dioso. Contudo, uma das inerentes virtudes das forças marítimas         posição do Comandante Operacional Conjunto, permitindo-lhe
é a sua capacidade para se manterem auto-sustentáveis por pro-          desencadear efeitos conjuntos nos diversos domínios militares e
longados períodos. Uma operação MEO, que seja predominan-               não-militares com uma cadência operacional ininterrupta e mais
temente organizada com forças marítimas, poderá dispensar o             significativamente, com menor risco para as suas forças e para a
requisito tradicional e doutrinário como o JLSG. Mesmo numa             missão que lhe foi superiormente atribuída.
operação com um pendor conjunto mais acentuado, onde exis-
ta o Comando sobre forças terrestres e elementos anfíbios, a                                                                                         Amaral Mota
principal função da logística operacional em terra para receber e                                                                                                CFR
sustentar as forças pode ser limitada ou mesmo inexistente. Isto
verifica-se porquanto as unidades navais têm um elevado grau                                               Chefe da Divisão de Logística da STRIKFORNATO
de capacidades orgânicas, o que fornece ao Comandante Opera-
cional Conjunto um poderoso instrumento de entrada marítima,               Notas
sem ter que depender excessivamente dum apoio logístico de re-
taguarda a fim de manter ininterruptamente a sustentabilidade              1 MEO – Maritime Expeditionary Operations: NATO’s ability to project maritime forc-
da sua força.                                                              es that can deliver decisive joint effects in the different domains, at ranges up to
                                                                           strategic distance, with little or no Host Nation Support, sustained by embedded lo-
  Importante também a realçar é o facto de as forças marítimas             gistics and communications and with a minimum military footprint ashore.
multinacionais serem muito interoperáveis e estarem muito fa-              2 Battle Staff Training, na sua expressão mais simples, é o ensaio dos diversos even-
miliarizadas com as diversas modalidades de apoio multinacio-              tos que compõem o ritmo da batalha e que informam o ciclo do processo de deci-
nal. Não menos importante é que o mar continuará a ser o meio              são operacional do Comandante.
principal de transporte de todo o tipo de cargas. Os navios são,           3 CAX – Computer Assisted Exercise.
por conseguinte, excelentes meios logísticos conjuntos e a sua             4 Artigo 5 do Tratado do Atlântico Norte requer que os Estados-membros auxiliem
disponibilidade determinará, em última análise, quando e onde              qualquer membro, que assim o expresse, e que esteja sujeito a um ataque armado,
operações militares poderão ter viabilidade.                               compromisso que foi invocado pela primeira e única vez após os ataques de 11 de
                                                                           Setembro de 2001 contra os EUA.
  Não menos relevante é a existência de navios polivalentes lo-            5 NAC – North Atlantic Council. Orgão principal de decisão política da NATO.
gísticos que encerram todas as capacidades exigidas no emprego             6 Force Commands Madrid and Heidelberg.
no ambiente conjunto, em unidade de esforço e de uma forma                 7 JLSG – Joint Logistics Support Group é o braço executor do plano logístico do Co-
ímpar maximizando os recursos disponibilizados.                            mandante Operacional no Teatro de Operações.
                                                                           8 As 5 Classes de Abastecimento na NATO (Classes of Supply). I – Água e alimenta-
  Voltando ao cenário do exercício TRJR14 e não obstante não se            ção; II – Equipamento diverso, vestuário, medicamentos, etc; III – Combustíveis e
predispor totalmente aos pressupostos das MEO (por existir mui-            lubrificantes; IV – Sobressalentes e materiais de construção; V- Munições.
ta disponibilidade de apoio de nações hospedeiras na região),              9 A/SPODs – Air/Sea Ports of Debarkation.
não deixou de levantar enormes desafios. A projeção e a sub-               10 Military Sealift Command (MSC) é o exemplo Americano com os sea based mari-
sequente sustentação logística da força em operações contínuas             time pre-positioned units.
no Mar Báltico, grande parte proveniente da costa leste dos EUA,           11 SHAPE – Supreme Headquarters Allied Powers Europe.
exigiu o estabelecimento de uma robusta infraestrutura logística
em terra e outra no mar. Em terra, a edificação de bases logísti-
cas avançadas na Dinamarca e na Lituânia, espaços de armaze-
namento dos quantitativos necessários para as várias classes de
abastecimento8, portos e aeroportos de desembarque9, estabe-
lecimento de áreas de estacionamento das forças, da sua movi-
mentação por vias rodo e ferroviárias, da sua proteção de for-
ça, de contratação local dos diversos serviços necessários, etc.,
encerraram inúmeros fatores de planeamento com um elevado
grau de complexidade.

  Não fosse a existência de vários países da NATO na região, toda
esta estrutura em terra não teria sido possível. Num ambiente
agravado por não ser permissivo, lembrando um pouco a Guerra
das Falklands em 1982, a força teria que dotar os seus meios com
mais capacidades logísticas embarcadas garantindo a sua plena
capacidade conjunta de combate. Nos dias que correm, esta é
uma realidade pelo uso de forças marítimas pré-posicionadas
para servirem de bases logísticas no mar10.

  Um significativo efetivo de quase 60.000 militares, 90 navios,
229 aeronaves e 1 Brigada Terrestre dispersos por uma área geo-
gráfica extensa criou naturais desafios.

  Contudo, o conceito logístico flexível, robusto, contingente, prote-
gendo as infraestruturas logísticas face às ameaças presentes, com
uma eficiente unidade de esforço e sob uma organização de coman-

                                                                        NOVEMBRO 2014            9
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