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operações expedicionárias marítimas conjuntas e que o exercício do e controlo efetiva, permitiu atingir, muito satisfatoriamente, os
TRJR14 também serviu para testar. objetivos de treino pretendidos, tendo sido considerado pela equipa
de avaliação do SHAPE11 uma “best practice” para a NATO.
De acordo com a definição, uma MEO refere-se à capacidade
da NATO projetar forças marítimas a fim de desencadear efeitos Em tom conclusivo, e regressando às Maritime Expeditionary
conjuntos decisivos nos diversos domínios, operando a distâncias Operations, o correto posicionamento e a cuidadosa sequencia-
estratégicas, com pouco ou nenhum apoio de nação hospedeira, ção da logística marítima na resposta a crises exige uma perfeita
logística integrada e com uma pegada terrestre mínima. sincronização entre os planeadores das operacões e da logística.
Forças marítimas expedicionárias são, e serão sempre, um forte
O apoio logístico a distâncias estratégicas é complexo e dispen- instrumento de poder flexível e logisticamente sustentável à dis-
dioso. Contudo, uma das inerentes virtudes das forças marítimas posição do Comandante Operacional Conjunto, permitindo-lhe
é a sua capacidade para se manterem auto-sustentáveis por pro- desencadear efeitos conjuntos nos diversos domínios militares e
longados períodos. Uma operação MEO, que seja predominan- não-militares com uma cadência operacional ininterrupta e mais
temente organizada com forças marítimas, poderá dispensar o significativamente, com menor risco para as suas forças e para a
requisito tradicional e doutrinário como o JLSG. Mesmo numa missão que lhe foi superiormente atribuída.
operação com um pendor conjunto mais acentuado, onde exis-
ta o Comando sobre forças terrestres e elementos anfíbios, a Amaral Mota
principal função da logística operacional em terra para receber e CFR
sustentar as forças pode ser limitada ou mesmo inexistente. Isto
verifica-se porquanto as unidades navais têm um elevado grau Chefe da Divisão de Logística da STRIKFORNATO
de capacidades orgânicas, o que fornece ao Comandante Opera-
cional Conjunto um poderoso instrumento de entrada marítima, Notas
sem ter que depender excessivamente dum apoio logístico de re-
taguarda a fim de manter ininterruptamente a sustentabilidade 1 MEO – Maritime Expeditionary Operations: NATO’s ability to project maritime forc-
da sua força. es that can deliver decisive joint effects in the different domains, at ranges up to
strategic distance, with little or no Host Nation Support, sustained by embedded lo-
Importante também a realçar é o facto de as forças marítimas gistics and communications and with a minimum military footprint ashore.
multinacionais serem muito interoperáveis e estarem muito fa- 2 Battle Staff Training, na sua expressão mais simples, é o ensaio dos diversos even-
miliarizadas com as diversas modalidades de apoio multinacio- tos que compõem o ritmo da batalha e que informam o ciclo do processo de deci-
nal. Não menos importante é que o mar continuará a ser o meio são operacional do Comandante.
principal de transporte de todo o tipo de cargas. Os navios são, 3 CAX – Computer Assisted Exercise.
por conseguinte, excelentes meios logísticos conjuntos e a sua 4 Artigo 5 do Tratado do Atlântico Norte requer que os Estados-membros auxiliem
disponibilidade determinará, em última análise, quando e onde qualquer membro, que assim o expresse, e que esteja sujeito a um ataque armado,
operações militares poderão ter viabilidade. compromisso que foi invocado pela primeira e única vez após os ataques de 11 de
Setembro de 2001 contra os EUA.
Não menos relevante é a existência de navios polivalentes lo- 5 NAC – North Atlantic Council. Orgão principal de decisão política da NATO.
gísticos que encerram todas as capacidades exigidas no emprego 6 Force Commands Madrid and Heidelberg.
no ambiente conjunto, em unidade de esforço e de uma forma 7 JLSG – Joint Logistics Support Group é o braço executor do plano logístico do Co-
ímpar maximizando os recursos disponibilizados. mandante Operacional no Teatro de Operações.
8 As 5 Classes de Abastecimento na NATO (Classes of Supply). I – Água e alimenta-
Voltando ao cenário do exercício TRJR14 e não obstante não se ção; II – Equipamento diverso, vestuário, medicamentos, etc; III – Combustíveis e
predispor totalmente aos pressupostos das MEO (por existir mui- lubrificantes; IV – Sobressalentes e materiais de construção; V- Munições.
ta disponibilidade de apoio de nações hospedeiras na região), 9 A/SPODs – Air/Sea Ports of Debarkation.
não deixou de levantar enormes desafios. A projeção e a sub- 10 Military Sealift Command (MSC) é o exemplo Americano com os sea based mari-
sequente sustentação logística da força em operações contínuas time pre-positioned units.
no Mar Báltico, grande parte proveniente da costa leste dos EUA, 11 SHAPE – Supreme Headquarters Allied Powers Europe.
exigiu o estabelecimento de uma robusta infraestrutura logística
em terra e outra no mar. Em terra, a edificação de bases logísti-
cas avançadas na Dinamarca e na Lituânia, espaços de armaze-
namento dos quantitativos necessários para as várias classes de
abastecimento8, portos e aeroportos de desembarque9, estabe-
lecimento de áreas de estacionamento das forças, da sua movi-
mentação por vias rodo e ferroviárias, da sua proteção de for-
ça, de contratação local dos diversos serviços necessários, etc.,
encerraram inúmeros fatores de planeamento com um elevado
grau de complexidade.
Não fosse a existência de vários países da NATO na região, toda
esta estrutura em terra não teria sido possível. Num ambiente
agravado por não ser permissivo, lembrando um pouco a Guerra
das Falklands em 1982, a força teria que dotar os seus meios com
mais capacidades logísticas embarcadas garantindo a sua plena
capacidade conjunta de combate. Nos dias que correm, esta é
uma realidade pelo uso de forças marítimas pré-posicionadas
para servirem de bases logísticas no mar10.
Um significativo efetivo de quase 60.000 militares, 90 navios,
229 aeronaves e 1 Brigada Terrestre dispersos por uma área geo-
gráfica extensa criou naturais desafios.
Contudo, o conceito logístico flexível, robusto, contingente, prote-
gendo as infraestruturas logísticas face às ameaças presentes, com
uma eficiente unidade de esforço e sob uma organização de coman-
NOVEMBRO 2014 9