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REVISTA DA ARMADA | 490
NRP SAGRES
MANOBRAS NO APARELHO
No âmbito dos trabalhos de manutenção decorridos no passado pelo Arsenal do Alfeite, S.A., o navio assumiu o arriar para o con-
inverno (2013-14), onde se inclui a revisão do estado da mas- vés daqueles componentes do aparelho (do Traquete e do Grande),
treação e do aparelho fixo e de laborar com substituição de algum ação executada de novo exclusivamente com meios de bordo. Após
poleame e massame, foi realizada mais uma manobra relevante os respetivos preparativos e um longo dia a terminar noite dentro,
para a operação do navio: o “acachapar de mastaréus”. Trata-se de no caso da primeira verga, foi colocada no castelo a verga do joane-
uma manobra que permite reduzir a cota máxima do navio para os te do Traquete com cerca de 771 Kg, arriando assim cerca de 32 me-
39,5m (cota aproximada da mezena) viabilizando a sua passagem tros da sua posição inicial. De destacar que havia poucos elementos
sob algumas pontes, requisito de construção dos cinco navios da a bordo que já tinham efetuado tal ação, pelo que serviu de referên-
classe “Gorch Fock” mandados construir na Blohm & Voss para a cia para o arriar da verga do joanete do Grande para o poço.
Kriegsmarine nos anos 30, um dos quais a atual Barca Sagres, via-
bilizando neste caso a navegação do Mar do Norte ao Mar Báltico Sendo o NRP Sagres um navio-escola e guardião das tradições,
através do canal de Kiel, sem ter de contornar a Dinamarca. são de extrema importância estas ações de adestramento, que
permitem preservar e transmitir às gerações mais novas de ma-
Esta manobra é fundamental que se realize periodicamen- rinheiros, as técnicas e os conhecimentos, imprescindíveis à área
te em ambos os mastros, garantindo, por um lado, que perante da Marinharia e à operação deste tipo de veleiros, com reflexos
uma real necessidade de passagem em determinado local (pas- diretos na passagem de conhecimento para os cadetes embarca-
sar sob determinada ponte) tudo esteja a funcionar, por outro dos nas viagens de instrução, garantindo que os marinheiros da
lado, a passagem de conhecimentos e treino às diversas gerações Barca são verdadeiras referências.
de pessoal da classe “manobras (e serviços)” que passam pelo
navio, sendo uma excelente aula prática de Marinharia. Colaboração do Comando do NRP Sagres
Realizada exclusivamente com os meios de bordo, implica um
conjunto de preparativos em que se destaca, entre outros, o fol-
gar de parte do aparelho fixo do navio (estais, brandais e enxár-
cias dos mastaréus) e o desligar da verga do joanete da sua ca-
lha no mastaréu, colocando-a num suporte próprio existente no
calcêz do mastro real, quer no Traquete como no Grande. Com
a passagem de cabo específico (amante) pelo gorne na base do
mastaréu, ligado à ostaga da gávea alta do respetivo mastro e en-
trando com o cabrestante, foi possível aliviar e retirar a cunha de
segurança existente no cesto do joanete. Posteriormente foram
arriados cerca de 4,5 metros no Traquete e 4 metros no Gran-
de, podendo ser arriado cerca de 6 metros, o conjunto mastaréu
com a verga do sobre e algum aparelho, que pode rondar as 2 to-
neladas, ficando então todo o navio com o galope dos três mas-
tros abaixo dos 40 metros. Tudo testado, foi realizado o processo
inverso, garantindo a prontidão para uma situação real.
Mas o treino de Marinharia foi necessário para outra tarefa no
âmbito da manutenção do aparelho. Identificada uma necessidade
de intervenção nas vergas do joanete, a ser executada em oficina
16 NOVEMBRO 2014