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REVISTA DA ARMADA | 490

A DESPEDIDA de um herói

Faleceu no dia 30 de Setembro, após               Foto 1MAR FZ Carlos Canha
    doença prolongada, o Capitão-de-
-Mar-e-Guerra Guilherme Almor de Al-              No dia 2 de Outubro celebrou-se no Mosteiro dos Jerónimos a missa de corpo pre-
poim Calvão, aos 77 anos, no Hospital                  sente do CMG Alpoim Calvão que registou uma invulgar afluência, e onde se podiam
de Cascais.                                       ver militares fardados e à civil dos três ramos das forças armadas e muitos naturais da
                                                  Guiné, numa manifestação de pesar e agradecimento por quem soube ajudar o seu país
   Era o militar da Marinha mais conde-           com distinção.
corado em combate e ostentava, entre
outras, a Ordem Militar da Torre e Es-               No cemitério dos Olivais, o cortejo fúnebre – para além das honras da ordenança
pada, do Valor, Lealdade e Mérito, com            prestadas por uma companhia de fuzileiros a três pelotões – foi ladeado por militares
Palma (Grau Oficial); a Medalha Mili-             do ativo e na reforma que assim prestaram a última homenagem a quem elevou alto a
tar de Ouro de Valor Militar, com Pal-            boina azul ferrete.
ma; duas Medalhas Militares da Cruz de
Guerra de 1ª Classe; Medalha Militar da              No dia 16 de Outubro, a bordo do NRP Corte Real, satisfazendo um pedido do Coman-
Cruz de Guerra Coletiva de 1ª Classe.             dante Alpoim Calvão, as suas cinzas foram lançadas ao mar pela família, entre torres, no
                                                  eixo da barra sul do porto de Lisboa e com a maré a vazar, numa cerimónia digna e plena
   Mais do que um homem de armas, foi             de significado e simbolismo.
um dos protagonistas da História de Por-
tugal das últimas épocas. Comandou aos                                                                                                                           Melo e Sousa
33 anos a operação Mar Verde, em que                                                                                                                                    CFR REF
foram resgatados 26 portugueses, ação
militar que hoje em dia ainda é estudada          Foto 1SAR FZ Horta Pereira
em escolas militares por todo o mundo.

   Mas o seu amor a África revela-se
quando volta mais tarde à Guiné, onde
se tinha notabilizado como combatente,
sendo recebido de braços abertos e tor-
nando-se um dos maiores empregado-
res através de uma fábrica de transfor-
mação de caju, que ergue em Bolama.

   Mas para além da faceta de estra-
tega militar, revelou-se no seu talento
como cantor de ópera e profundo co-
nhecedor de arte. Foi também um ho-
mem generoso como se comprova ao
ter sido mecenas da Fragata D. Fernan-
do II e Glória, e pela oferta ao Museu
de Marinha, entre outras peças de va-
lor, do altar portátil que viajou na es-
quadra de Vasco da Gama.

   Uma semana antes de nos deixar
cumpriu a sua última missão assinando,
já com muita dificuldade, a declaração
da entrega do seu espólio documental à
Marinha, para memória futura.

   Natural de Chaves, casado com Maria
Alda, deixa três filhos e sete netos.

                                            M.S.
    À família enlutada, a RA apresenta senti-
das condolências.

                                                                              NOVEMBRO 2014 17
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