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REVISTA DA ARMADA | 491

A EUROPA,

PORTUGAL

E O MAR

PARTE II

Numa análise crítica1, apontar-lhe-íamos       valências e actividades com potencial de      de um “… o procedimento de permanen-
     uma certa inconsistência à luz do que     desenvolvimento, num renovado concei-         te avaliação e revisão …”, oferecendo al-
se considera requisito de um quadro orien-     to de espaço e território.                    guma garantia de um sério escrutínio do
tador da acção estratégica, nomeadamen-                                                      cumprimento de objectivos e concretiza-
te no tocante aos objectivos, recursos e li-     b)  Europa                                  ção do Mar-Portugal. Recuperando a ideia
nhas de acção, segundo atributos de clare-                                                   do “mar português” como desígnio nacio-
za, precisão e coerência. Os seus traços pa-     E Portugal? É factor de esperança o facto   nal, mais relevante do que recordar o pilar
recer-se-ão muito mais próximos de uma         de ter sido aprovada recentemente a nova      que constituiu no conceito estratégico do
qualquer “declaração de intenções” do que      “Estratégia Nacional para o Mar” (ENM         passado, será alinhar algumas razões que
de uma “documentação estratégica”.             2013-2020)2, ao estabelecer um conjunto       nos façam acreditar num futuro de opor-
                                               de acções estruturadas no “Plano Mar-Por-     tunidade económica que poderá alavan-
   Sem mergulhar profundamente no con-         tugal” (PMP), plano este que abrange, de      car a revitalização económica.
teúdo da EMAA e correndo o risco de al-        forma alargada, diversas áreas de interven-
gum criticismo exagerado, mais parece que      ção no domínio do mar, desde a governa-         O mar constitui, efectivamente, um dos
saiu prematuramente da incubadora para         ção ao aproveitamento e exploração de re-     nossos maiores activos estratégicos e a
vir a tempo de ser apresentada ao público      cursos naturais, passando pelo incremento     economia do mar ou cluster marítimo, a
em Lisboa na referida conferência.             e fomento de sectores de actividade eco-      economia do futuro. Não será fácil arranjar
                                               nómica específicos, como pelo desenvolvi-     um novo rumo para Portugal sem esse mar.
   A Comissão Europeia, com a aprovação a      mento de acções com vista ao aprofunda-       É neste contexto que o Mar e a economia
13MAI2013 de um “action plan”, definidor       mento do conhecimento.                        do mar se revelam fundamentais para reo-
de prioridades de intervenção em ordem a                                                     rientar o conceito estratégico de Portugal
impulsionar a “economia azul”, preservan-        A ENM 2013-2020 apresenta o mar como        e mudar a própria economia portuguesa.
do simultaneamente o equilíbrio ambien-        um desígnio nacional, definindo, também,
tal e ecológico do oceano Atlântico, terá vi-  as políticas públicas em que o Governo        	 Opção com futuro
sado a escassez de resultados operacionais     pretende intervir: na área dos recursos vi-     É precisamente sobre as virtualidades
na região-alvo desta estratégia.               vos, em que se incluem a pesca, a aqua-
                                               cultura, a indústria do pescado e a biotec-   estratégicas e as potencialidades económi-
   Avaliámos, com confessada generalida-       nologia; e nos recursos não vivos, como a     cas do nosso mar, aglutinadas num cluster
de, no número anterior, as políticas e es-     energia e os minerais marinhos; investindo    marítimo propulsor do desenvolvimento
tratégias europeias para o mar e o Atlân-      também nos portos, transportes e logísti-     futuro, que nos propomos avaliar, de for-
tico, espaços marítimos esses concebidos       ca; potenciando o recreio, desporto e turis-  ma muito sintética.
como a seiva essencial ao bem-estar e          mo; dando prioridade às obras marítimas;
prosperidade dos europeus na oferta de         acautelando a protecção do meio marinho         Portugal fez-se com e pelo Mar. Foi por
recursos vivos e não vivos, incluindo os       e da sustentabilidade; e assumindo a inves-   mar que se expandiu a presença e língua
energéticos. Abriríamos, agora, espaço         tigação científica e a tecnologia.            portuguesas. De novo reduzido à dimen-
para o correspondente quadro nacional,                                                       são de finais da primeira dinastia, apenas
figurativo de um mar português enquan-           Destacamos um ponto que merece real-        acrescida dos Açores e Madeira, Portugal
to elemento integrador, estruturador e         ce, até porque pouco usual neste tipo de      redescobriu o conforto na adesão à Co-
impulsionador de uma rede articulada de        documentação: a explicitação na ENM           munidade Económica Europeia (CEE), es-

10 DEZEMBRO 2014
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