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REVISTA DA ARMADA | 491
quecendo-se ou desvalorizando, então, com boas perspectivas, dada a consistência que prosseguem, relativas à propositura da
que o facto de Portugal se fazer “sem ou dos ventos na nossa costa). Juntemos-lhe os extensão da PC. Algumas, poucas, empresas
com mar”, acarreta paradigmas e con- recursos energéticos a partir da descoberta internacionais já estão no terreno, assina-
ceitos estratégicos completamente dife- de reservas de gás ao largo da costa algarvia lando-se o processo de licenciamento das
rentes – país irrelevante ou central num e, no futuro, com o incremento da evolução autoridades regionais açorianas, em favor
Atlântico onde os grandes fluxos econó- tecnológica, o aproveitamento das imensas da empresa Nautilus Minerals.
micos continuam a acontecer. reservas de hidratos de metano no fundo do
nosso mar, para já não falar das expectati- iv. Sector marítimo - portos e trans-
Esta a encruzilhada em que nos encon- vas positivas, é verdade que ainda por con- porte marítimo
tramos e que nos obriga, agora sem al- firmar, nas pesquisas de hidrocarbonetos
ternativa, a olhar de novo para o mar, na em curso nos blocos do nosso deep offsho- Este sector é fundamental para o
expectativa do aproveitamento das suas re (bacias do Alentejo, Lusitânica e ao largo hypercluster da economia do mar e es-
riquezas, voltando a considerá-lo peça da zona centro – Cabo Mondego e Peniche). pinha dorsal de qualquer cluster marí-
fundamental do tal conceito estratégico. timo. Pode e deve funcionar como pólo
Hoje, mais do que ontem, Portugal tem a iii. Recursos minerais do offshore catalisador de muitos outros sectores,
responsabilidade perante as novas gera- Sublinha-se a enorme expectativa gerada actividades e empresas marítimas. To-
ções, de lhes oferecer muito mais do que davia, entre nós, tem sido fustigado pe-
um país empobrecido e endividado. pela possibilidade, num futuro próximo, de las tendências contraccionistas dos últi-
exploração dos recursos minerais já identi- mos anos e agora pelos efeitos da crise
Oportunidade de desenvolvimen- ficados nas crostas (fixadas às rochas) e nó- económica nacional e europeia. O inves-
to económico dulos polimetálicos (colónias de tapetes nos timento em infra-estruturas do sector
solos marinhos) e nos campos hidrotermais ferroviário e marítimo-portuário rece-
O fundo do mar constitui, neste tempo, o (sob forma de chaminés), nas profundezas beram recentemente um bom impulso
grande activo por explorar, com os diversos oceânicas, confirmados pelas pesquisas, (através do Plano Estratégico para os
recursos aí armazenados, a nível de mate-
riais e matérias primas destinados às indús-
trias do futuro. São componentes e fontes
energéticas (fósseis e renováveis), elemen-
tos ricos (ouro, prata, cobre, zinco, etc.), en-
zimas, organismos biológicos e outros com
enorme diversidade, essenciais para a ge-
nética e as biotecnologias do futuro (a já
denominada “biotecnologia azul”), servin-
do indústrias como as da ciências da vida,
farmacêutica, cosmética, etc., ou seja, um
autêntico "mar de oportunidades”.
Como fazer com que tal riqueza venha “à
superfície”, se materialize, uma vez que o
país já possui uma noção realista e positiva
desse potencial de activos, que desfilamos
de forma muito sintética, em base sectorial:
i. Pescas, Aquacultura e Indústria
de transformação do pescado
A maior esperança residirá na aquacultu-
ra e piscicultura, determinantes para debe-
lar o grande défice que se tem acentuado
entre os valores do consumo e da produ-
ção nacionais, à semelhança da opção to-
mada há tempo por alguns parceiros euro-
peus com condições costeiras ou de águas
interiores, iguais ou inferiores às nossas.
ii. Prospecção e exploração de re-
cursos energéticos do offshore
A energia gerada no mar (offshore) é já
hoje mais do que uma promessa, com parti-
cular ênfase nas renováveis (eólica à cabeça,
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