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REVISTA DA ARMADA | 493

las pessoas recolhidas, o que levou a         sexo feminino, variando as suas nacio-    distância a noroeste de Tripoli. O navio in-
corrigir procedimentos e a preparar as        nalidades entre, Mali, Senegal, Gâm-      verteu o seu rumo e dirigiu-se para o lo-
nossas equipas de apoio para posterio-        bia, Eritreia e Burquina Faso. Este sal-  cal. Com a pouca informação disponível, o
res resgates.                                 vamento trouxe uma nova incógnita a       trabalho de estima sobre a possível posi-
                                              esta complicada equação de calamida-      ção da embarcação de borracha veio a re-
  O navio enfrentava agora um dia de          de humana: algumas pessoas que na-        velar-se fundamental para a identificação
viagem em direção ao porto de Catânia,        vegavam nesta embarcação eram me-         desta naquele mar imenso. Ao chegar ao
com 202 imigrantes a bordo cujas nacio-       nores, entre 14 e 17 anos, sem pais, a    local da posição estimada, deparámo-nos
nalidades eram maioritariamente da Ni-        partirem à aventura e a enfrentarem o     com muitas boias de pesca, que invadiam
géria, Mali, Eritreia, Bangladeche e Gâm-     desconhecido, pagando cada uma delas      o radar de muitos contactos, o que dificul-
bia. A guarnição desdobrava-se nos seus       1500 euros. Em conversa com um des-       tava as buscas, pois tínhamos de ir a cada
afazeres de forma a que nada faltasse. A      tes jovens, questionado sobre o por-      contacto validar a sua autenticidade − se-
cozinha do navio tornava-se um dos sí-        quê de partir numa aventura com 50%       ria boia ou embarcação?
tios mais movimentados, garantindo a          de possibilidade de sobreviver, ele di-
todos a distribuição de sopa e pão.           zia: − mais vale agarrar-me a estes 50%     Do meio do nada apareceu a embarca-
                                              atravessando este mar, do que ter 10%     ção que procurávamos e, com ela, 93 pes-
  No dia 18 de novembro, o navio apor-        de possibilidade de sobreviver no meu     soas a bordo, cujas nacionalidades varia-
tou a Catânia, onde tinha à sua espera di-    país. É com esta ideia que muitos se      vam entre Mali, Gâmbia, Senegal, Nigéria
versas entidades italianas responsáveis       aventuram em busca de uma salvação,       e uma novidade, 6 homens da Guiné-Bis-
por receber os imigrantes, nomeada-           seja ela de que natureza for e o modo     sau, que vieram a ser fundamentais para a
mente, Cruz Vermelha, Direção de Saú-         como se apresente.                        recolha de informação.
de, Polícia do SEF, Polícia Judiciária e vo-
luntários que auxiliavam na distribuição        O navio seguia agora com máquinas a       Com a ajuda dos Guineenses, foi fácil
de roupas. Todo o processo de transfe-        toda a força em direção ao porto de Em-   identificar os facilitadores, local de par-
rência dos imigrantes foi conduzido pelos     pedocle para deixar estas pessoas, quan-  tida e quanto tinham pago pela viagem
inspetores do SEF e pela equipa médica        do por volta das 10 horas da manhã é de   (580 euros). A viagem destes Guineenses
do navio. O navio aproveitou, também,         novo chamado e empenhado numa se-         demorou cerca de um ano a ser efetua-
para efetuar a sua escala logística e lar-    gunda ação SAR, a cerca de 27 milhas de   da, atravessando o Mali, Gâmbia, Senegal,
gar no dia 20 de novembro para mais 7                                                   Burquina Faso e Nigéria, trabalhando em
dias de patrulha.

  No dia 25 de novembro, embarcaram
jornalistas da RTP, da SIC e da revis-
ta VISÃO, acompanhados pelo Coman-
dante Rodrigues Vicente. Os jornalistas
traziam grandes expetativas, queriam
assistir a uma operação de salvamen-
to, e não foi necessário esperar muito,
pois passadas 2 horas da sua entrada a
bordo, o patrulha Viana do Castelo re-
cebeu a informação, através do Centro
de Busca e Salvamento italiano, depois
confirmada pelo Centro de Coordena-
ção Internacional FRONTEX, que se en-
contrava uma embarcação de borracha
em dificuldade a 73 milhas a nordeste
de Tripoli. O navio chegou à posição do
evento SAR às 4 horas da manhã do dia
26 de novembro. No local encontra-

va-se um navio mercante que já tinha

identificado o bote de borracha e ago-
ra marcava a sua posição. Aquando da
chegada ao local, foi de imediato passa-
do o comando da operação ao patrulha
Viana do Castelo, tendo-se dado início
ao salvamento. A bordo desta embar-
cação seguiam 89 pessoas, sendo 3 do

8 FEVEREIRO 2015
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