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REVISTA DA ARMADA | 523
Marinha,
700 ANOS A SERVIR PORTUGAL NO MAR
PARTE II
Fotos Madalena94
o artigo anterior (RA nº 520/jul17) foi descrita a atividade da rando o transporte por esta via das cobiçadas especiarias orien-
NMarinha, desde a sua criação formal, em 1317, até à tomada de tais. Para concretizar o seu projeto levou a cabo várias medidas:
Ceuta, em 1415, primeiro passo da Expansão Portuguesa Além-Mar. prosseguiu a exploração da costa africana, em busca de uma liga-
A partir daí, os Portugueses iniciam um processo de descobrimento ção com o Índico, o que Bartolomeu Dias conseguiu em 1488;
e expansão marítima, que se materializou em diversas frentes: enviou Pero da Covilhã e Afonso de Paiva, por terra, para reco-
expansão na costa marroquina, exploração da costa africana, cada lher informações sobre o comércio oriental; promoveu o desen-
vez mais para sul, e descobrimento de diversos arquipélagos atlânti- volvimento de técnicas de navegação adequadas para as longas
cos. Neste processo foi fundamental o papel do Infante D. Henrique viagens oceânicas, tendo sido no seu reinado que se começou a
como grande dinamizador das viagens de exploração. Graças à sua usar, sistematicamente, a navegação astronómica; e organizou
tenacidade, em 1434, Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador, barreira viagens de exploração em alto-mar, para conhecer as condições
física, mas também psicológica, que impedia a navegação para além meteorológicas predominantes no Atlântico Sul. Quando conside-
desse promontório. Até final da vida do Infante, os navios portugue- rou que estavam reunidas as condições para a ligação marítima
ses chegaram praticamente até à região do Golfo da Guiné. Com a com o Oriente, começou a organizar a viagem, mas morreu em
sua morte, em 1460, a expansão conheceu um período de menor 1495, antes de conseguir concretizar a mesma. Dois anos depois,
atividade. Contudo, em 1469, D. Afonso V estabeleceu um contrato, D. Manuel enviou uma armada de quatro navios, comandada por
por cinco anos, com um mercador de Lisboa, Fernão Gomes, que Vasco da Gama, tendo atingido Calecut em 20 de maio de 1498.
ficou com direitos exclusivos sobre o comércio nas terras até então Retornando a Lisboa em 1499, Vasco da Gama trouxe notícias
descobertas mas também com a obrigação de anualmente explorar sobre o comércio de especiarias no Oriente, mas também sobre
mais 100 léguas de costa. Fernão Gomes cumpriu esta obrigação e os obstáculos que tinha encontrado ao estabelecimento de rela-
foi explorado praticamente todo o Golfo da Guiné, tendo os Portu- ções comerciais, uma vez que tal relacionamento iria prejudicar os
gueses chegado até ao Cabo de Santa Catarina, a sul do equador. interesses de todos aqueles que faziam esse comércio por uma via
Entretanto, em 1474, o príncipe D. João II passou a dirigir as ati- mista, terrestre e marítima, que passava pela península arábica e
vidades relacionadas com a expansão marítima. Estabeleceu um pelo Mediterrâneo. D. Manuel percebeu que precisava de afirmar
objetivo estratégico, de atingir a Índia por via marítima, assegu- a posição portuguesa pela via diplomática, mas mostrando tam-
16 NOVEMBRO 2017