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REVISTA DA ARMADA | 523
 Marinha,  bém que dispunha de capacidade militar para impor a sua vontade   (Castelo da Mina e Luanda) e no Brasil (a região de Pernambuco),

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          pela força, caso necessário. Para tal, organizou uma armada com
          13 navios, tendo atribuído o comando da mesma a Pedro Álvares
                                                               Com a Restauração da Independência em 1640, Portugal e Holanda
                                                              aliaram-se, contra Espanha. No entanto, esta aliança apenas se apli-
          Cabral. Por alturas da Páscoa de 1500, os navios de Cabral avista-
          ram a costa brasileira, na região de Porto Seguro, tendo batizado a
                                                              cou na Europa. Os restantes espaços, ou ficaram para sempre perdi-
          mesma como Terra de Vera Cruz. Uma das caravelas foi mandada
                                                              a reconquista de Luanda, em 1648, por uma armada comandada
          regressar ao reino, a trazer a notícia, enquanto os restantes navios   dos para Portugal, ou foram reconquistados pela força. Destacam-se
          prosseguiram viagem para a Índia. Um forte temporal, na região   por Salvador Correia de Sá; e a de Pernambuco em 1654, para a qual
          do Cabo da Boa Esperança, levou ao desaparecimento de quatro   foram decisivos os navios da Companhia Geral de Comércio do Bra-
          navios, entre eles um que era comandado por Bartolomeu Dias,   sil. Estas ações merecem especial realce pelo facto de Portugal estar
          que por ironia do destino encontrou a morte na mesma região   particularmente preocupado com a defesa da frente terrestre euro-
          onde anos antes ele comprovou que era possível navegar até ao   peia, contra uma possível invasão espanhola. A paz com Espanha,
          Índico.  Cabral  encontrou  forte  oposição,  não  tendo  conseguido   que pôs fim a essa ameaça, só ocorreu em 1668.
          estabelecer  relações  com  o  Samorim  de  Calecut.  Aproveitando
          divergências entre diversos reinos indianos, acabou por se aliar ao
          soberano de Cochim, rival de Calecut. Apesar dos diversos contra-
          tempos mencionados, a expedição de Cabral regressou a Lisboa
          com uma carga significativa de especiarias, considerando-se esta
          viagem como a fundadora da Carreira da Índia, que ligou regular-
          mente Portugal ao Oriente durante alguns séculos.
           As expedições de Vasco da Gama e de Pedro Álvares Cabral mos-
          traram que Portugal precisava de garantir a supremacia naval no
          Oriente, se pretendia controlar o comércio das especiarias. Nos
          anos que se seguiram foram enviadas armadas cujo objetivo era
          assegurar  essa  hegemonia  no  espaço  entre  a  costa  oriental  de
          África e a Índia, controlando as entradas do Mar Vermelho e do
          Golfo Pérsico. A intenção era impedir o comércio feito pelos navios
          muçulmanos,  que  transportavam  as  especiarias  pela  outra  via.
          Esta atitude dos Portugueses suscitou oposição violenta de todos
          aqueles que viam ameaçados os seus lucros. Estes incluíam diver-
          sos soberanos da Índia, os Turcos e inclusivamente os Venezianos
          que depois faziam a distribuição das especiarias para a Europa, via
          Mediterrâneo. A supremacia portuguesa foi conseguida em feve-
          reiro de 1509, na Batalha Naval de Diu. Nesta, a armada portu-
          guesa, chefiada por D. Francisco de Almeida, assegurou o domínio
          total da região, em termos navais, situação que se manteve por   Ao longo do tempo, a Marinha continuou a ser um instrumento
          várias décadas.                                     fundamental para assegurar a ligação entre as diferentes partes do
           Entretanto, a expansão portuguesa continuava também para as   território nacional, disperso por quatro continentes. Além disso,
          regiões mais orientais. Em 1511, Afonso de Albuquerque conquis-  foi também fundamental para a afirmação de Portugal, perante a
          tou Malaca, ponto estratégico que permitia controlar o acesso ao   comunidade internacional. Do século XVIII realçam-se dois desses
          Extremo Oriente. Nos anos que se seguiram, os navios portugue-  momentos de intervenção naval portuguesa, em conflitos interna-
          ses navegaram para as Molucas, importante centro de produção   cionais. O primeiro ocorreu em 1717, no Mediterrâneo Oriental,
          de especiarias, tendo igualmente tocado em Timor e chegado a   junto ao Cabo Matapão. A pedido do Papa, D. João V enviou uma
          portos chineses. Algumas décadas depois, em 1543, chegaram ao   esquadra  comandada  pelo  Almirante  Lopo  de  Mendonça,  que
          Japão, tendo sido estabelecida uma ligação comercial regular com   apoiou os navios de Veneza e da Ordem de Malta, contra os Tur-
          este país, a qual durou alguns anos. Em pouco mais de um século,   cos. Os navios portugueses participaram nos conflitos mais inten-
          Portugal estabeleceu um império marítimo-comercial, que abran-  sos, tendo sido fundamentais para a vitória das forças cristãs. No
          gia dois oceanos, o Atlântico e o Índico. O Pacífico era o «grande   final do século, em 1798, uma outra esquadra, comandada pelo
          lago espanhol», de acordo com a divisão do mundo estabelecida   Marquês de Niza, deu um importante apoio aos navios de Lorde
          pelo Tratado de Tordesilhas.                        Nelson, que no Mediterrâneo combatiam contra as tropas napo-
           Ao longo do século XVI foram surgindo outros estados com inte-  leónicas. Estas últimas tinham ocupado a ilha de Malta, tendo os
          resses expansionistas, nomeadamente a França, a Inglaterra e a   navios do Marquês de Niza realizado um bloqueio bastante eficaz,
          Holanda. A partir de 1580, com a União Ibérica, Portugal passou a   impedindo a navegação francesa de entrar ou sair da ilha. Desem-
          participar nos conflitos em que Espanha estava envolvida. Assim,   barcou ainda tropas armadas, que ajudaram a população local a
          em 1588, um grande número de navios portugueses integrou a   combater o invasor.
          Grande Armada, enviada por Espanha para conquistar a Inglaterra,   Nos séculos subsequentes, Portugal nunca mais voltou ao esplen-
          tendo-se perdido grande parte desses navios. Por outro lado, várias   dor que tinha atingido no período dos Descobrimentos. No entanto,
          províncias dos Países Baixos tinham-se rebelado contra a sobera-  a Marinha continuou a marcar uma presença relevante na resolução
          nia espanhola na região, num processo que levou à independência   dos conflitos em que Portugal se viu diretamente envolvido, mas
          da Holanda. Os Holandeses construíram um império marítimo que   também naqueles que foram considerados estratégicos para a afir-
          passou a concorrer com Portugal em diferentes espaços, condu-  mação internacional do país.
          zindo a situações de conflito pela posse dos mesmos. Muitos dos                                     
          territórios  controlados  pelos  Portugueses  passaram  para  mãos                            Costa Canas
          holandesas, tanto no Oriente (Molucas ou Malaca) como em África                                    CFR


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