Page 20 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 523







          ACADEMIA DE MARINHA


          BATALHA NAVAL DO CABO MATAPÃO




            a sessão cultural de 19 de setembro da Academia de Marinha   e uma tartana), artilhados com 448 peças de artilharia, saiu de Lis-
         Nfoi apresentada a comunicação “Batalha Naval do Cabo Mata-  boa a 25 de abril de 1717 com destino a Corfu, onde se reúne com as
          pão (julho 1717)”, pelo Prof. Doutor Nuno Gonçalo Freitas Monteiro,   armadas de Veneza, Florença, Malta, França e dos Estados Pontifícios,
          e inaugurada, na Galeria, a Exposição intitulada “Batalha Naval do   constituindo assim um conjunto capaz de se opor aos turcos. O con-
          Cabo Matapão. Participação da Marinha Portuguesa em 19 de julho   fronto e sucesso da esquadra cristã na batalha de Matapão, travada
          de 1717”.                                           a 19 de julho de 1717, são conhecidos no Diário, escrito pelo capitão
           Para o orador, a participação portuguesa na Batalha Naval do Cabo   da nau Nossa Senhora das Necessidades, e ainda por diversas outras
          Matapão concentra-se em três temas que, de forma muito clara, se   memórias.
          cruzam nas orientações da política europeia da dinastia de Bragança   O Comandante Saturnino Monteiro, na sua obra Batalhas e Comba-
          depois da participação na Guerra da Sucessão de Espanha, nos equi-  tes da Marinha Portuguesa, recorda que:
          líbrios internos e nos lugares de decisão política da monarquia e, por   “(...). Durante mais três horas a Nossa Senhora do Pilar, a Fortuna
          fim, nos recursos e nos legados institucionais da Marinha Portuguesa   Guerreira, a Santa Rosa, a Nossa Senhora da Conceição e a Nossa
          naquele contexto.                                   Senhora da Assunção bateram-se galhardamente contra um adver-
           De salientar que as relações entre Portugal e a Santa Sé no tempo   sário muito mais numeroso e igualmente determinado, provocando
          de D. João V e do Papa Clemente XI se enquadram no contexto do   a admiração entre as guarnições dos navios que não estavam em
          conflito otomano no Mediterrâneo, que levou à Batalha Naval do   ação. A dada altura, o conde de São Vicente, no desejo de se aproxi-
          Cabo Matapão. Assim, o Papa, na tentativa de neutralizar a crescente   mar ainda mais do inimigo, começou a orçar, dando ideia de se querer
          ameaça de expansão do Império Otomano, pediu auxílio aos princi-  bater sozinho com toda a armada turca! O conde de Rio Grande teve
          pais reinos cristãos da Europa. Portugal, por razões estratégicas de   de lhe fazer sinal para regressar à formatura.
          afirmação no panorama internacional, participou com uma esquadra   Durante esta fase da batalha, a mais intensa de todas, dada a
          comandada por Lopo Furtado de Mendonça, Conde do Rio Grande.   menor  distância que separava  os dois  adversários,  é natural que
           Esta força naval saiu no dia 15 de julho de 1716 rumo ao Mediter-  tenham aumentado consideravelmente os danos e as baixas sofridos
          râneo. Atrasada por ventos contrários e por uma escala no porto de   por ambos. Ao fim da tarde é muito provável que os principais navios
          Livorno, quando chegou a Corfu, para receber instruções, já os tur-  turcos, em resultado dos dois combates que haviam travado anterior-
          cos se tinham retirado. Tal facto deveu-se, possivelmente, à derrota   mente com os venezianos e do fogo nutrido que tinham feito durante
          sofrida na frente do Danúbio perante os exércitos imperiais da Áustria,   todo o dia, já estivessem a lutar com falta de munições. O certo é que
          e ao conhecimento da aproximação da armada cristã. Em novembro,   puxaram tudo para a orça e começaram a afastar-se para o mar. Aos
          a armada chegou a Lisboa, sem ter entrado no conflito, mas como   olhos da armada cristã era como se estivessem a bater em retirada,
          “singular prova de gratidão”, o Pontífice dividiu a diocese de Lisboa   corridos pelas quatro intrépidas naus portuguesas e pela sua compa-
          em oriental e ocidental, atribuindo ao arcebispo de Lisboa ocidental   nheira veneziana.”
          “o nome, título e prerrogativa de igreja patriarcal”, criando, pela bula   Em meados de agosto, a Armada Portuguesa, de regresso, passando
          In supremo apostulatos solio, de 7 de novembro de 1716, o Patriar-  por Messina, foi alvo de enorme interesse, com festejos, todos que-
          cado de Lisboa.                                     rendo  conhecer  os  vencedores  dos  Turcos,  recebendo  na  ocasião
           Continuando as ameaças sobre as possessões de Veneza, em dezem-  uma carta de agradecimento do Papa. A batalha teve, sem dúvida,
          bro de 1716, voltava o Papa a escrever ao monarca português, reno-  um papel de relevo na política externa de D. João V, com evidente
          vando o pedido de auxílio e respondendo D. João V afirmativamente.   prestígio da Armada Portuguesa, e projeção de Portugal na Europa.
           De novo sob as ordens do Conde do Rio Grande, a esquadra de                                        
          1717, agora com 11 navios (sete naus, dois brulotes, um transporte       Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA

                                                 ARMADA PORTUGUESA

                                 NAUS                                             FRAGATAS
           Nossa Senhora da Conceição – Comandante-Chefe Almirante Furtado    S. Lourenço – Capitão de Mar e Guerra freire de Araújo (350 praças, 56 peças)
           de Mendonça, Conde de Rio Grande (700 praças, 78 peças)  Rainha dos Anjos – Capitão de Mar e Guerra João Pereira de A ‘vila
           Nossa Senhora do Pilar – Almirante Conde de S. Vicente (700 praças,    (350 praças, 56 peças)
           82 peças)                                                              BRULOTES
           Nossa Senhora da Assunção – Fiscal Pedro de Sousa Castelo Branco    Santo António de Pádua – José Jorge Matias (40 praças, 8 peças)
           (500 praças, 64 peças)                             Santo António de Lisboa – Tomás Tolli (40 praças, 8 peças)
           Nossa Senhora das Necessidades – Capitão de Mar e Guerra Gillet        CHARRUAS
           du Bocage (500 praças, 66 peças)                   S. Tomás de Cantuária – Mestre Fragata António dos Santos (100 praças,
           Santa Rosa – Capitão de Mar e Guerra João Baptista Rolhano    20 peças)
           (500 praças, 66 peças)                             Tartana (?) – Mestre José Barganha (60 praças, 18 pedreiros de bronze)



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