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REVISTA DA ARMADA | 523












          da liderança e  do trabalho de
          equipa”, surgindo o treino em
          Bridge  Resource  Management
          (BRM)  para  a  Marinha  Mer-
          cante como obrigatório na cer-
          tificação das suas equipas.
           Mas em que consiste o BRM?
          O conceito de treino de equipas
          com vista à minimização do erro
          humano tem vindo a ser con-
          seguido recorrendo, por exem-
          plo, ao Crew Resource Manage-
          ment (CRM) focado na utilização
          dos  recursos  disponíveis  (pes-
          soas,  equipamentos  e  informa-
          ção, entre outros) e na melhoria
          da coordenação e do desempe-
          nho. O CRM existe desde o início
          dos anos 80 do século XX, tendo
          sido  inicialmente  utilizado  pela
          United Airlines para treinar os seus pilotos e evoluindo depois para   centro de operações ou dos mastros da “Sagres”. Integrar uma guar-
          o treino de todos os elementos da tripulação, sejam eles da cabine   nição é saber que se cumpre a função num ambiente de dinâmica
          ou não, com o principal pressuposto de que todos possuem não só   constante, sendo que a única certeza que existe é que a solução cor-
          o direito como a responsabilidade em falarem sempre que consi-  reta pode não ser sempre única, possível ou evidente para todos os
          derarem necessário, sendo os líderes treinados para encorajarem e   elementos. A Marinha tem à sua disposição todas as ferramentas
          recompensarem este tipo de comportamento. No início dos anos 90   para conseguir implementar o BRM e elevar mais ainda o padrão de
          do século XX este conceito é adaptado ao ambiente marítimo, com   desempenho dos seus navios, ainda que este não seja mandatório
          a IMO a introduzir o BRM definido como “a gestão efetiva e a utili-  para uma marinha de guerra.
          zação de todos os recursos, humanos e técnicos, disponíveis para a   Mais do que uma certificação mandatória, o BRM promove o
          equipa da ponte, para assegurar a conclusão da viagem do navio”   envolvimento de todos numa ótica da responsabilidade partilhada
          (Patraiko, 2014, p.2). Partindo da relação entre o comandante do   e da comunicação, tanto vertical como horizontal, tornando quase
          navio e o piloto de barra e focando-se depois na segurança e desem-  obrigatório que todos façam ouvir a sua voz, se disso depender o
          penho dos marítimos, o BRM, na sua essência, engloba o processo   sucesso da equipa e da missão atribuída. Ainda que não assente
          e as práticas conducentes à utilização de toda a informação disponí-  nos pilares das competências técnicas, o BRM conduz à liderança
          vel e ao apoio na tomada da melhor decisão possível, identificando   de proximidade, à compreensão dos objetivos comuns e à criação
          e mitigando os erros humanos inevitáveis antes que possam cau-  de modelos mentais partilhados indispensáveis a qualquer nave-
          sar qualquer dano. No fundo, é uma ferramenta de atitude e com-  gador, esteja ele solitário no seu veleiro no meio de uma traves-
          portamento colocada à disposição do comandante que, em comple-  sia do Oceano Atlântico ou integrado numa força naval. O BRM é
          mento às competências técnicas, contribui para a melhor gestão e   mais do que um conceito ou do que três palavras: é a chave para
          desenvolvimento do trabalho em equipa.              o sucesso assente na responsabilidade individual e coletiva, em
           Nesta senda, diversas entidades têm vindo a desenvolver cur-  que todos têm a consciência da realidade que os rodeia e em que
          sos de certificação em BRM de forma a garantir o cumprimento   todos são agentes ativos para a minimização do erro humano.
          dos requisitos apresentados pela STCW Convention & Code 2010                                        
          Manila Amendments, tanto a nível nacional como internacional.                      Sandra Campaniço Cavaleiro
          Em Portugal, esta certificação pode ser conseguida na Escola Náu-                           1TEN TSN-QUI
          tica Infante Dom Henrique.
           E numa marinha de guerra, estará presente o BRM? Olhando para   Para saber mais sobre Bridge Resource Management
          o que é feito na Marinha Portuguesa ao nível do treino de guarni-  Na Internet: International Maritime Organization – www.imo.org
          ções dos navios, não se estará já a trabalhar com vista ao BRM, ainda   HSN – University College of Southeast Norway - Curso de BRM - https://www.usn.
          que não lhe seja atribuído esse nome? Vejamos… Todos os navios   no/academics/find-courses/maritime-studies/bridge-resource-management-brm-
          realizam os seus planos de treino com grande foco no desenvolvi-  -according-to-stcw-2010/
          mento dos conhecimentos técnicos dos militares, com breves refe-  Maersk Training – Curso de BRM - https://www.maersktraining.com/bridge-resour-
                                                                ce-management
          rências à liderança, comunicação, briefing/debriefing, planeamento   Em livro:
          de missão e distribuição de tarefas pelos elementos de cada equipa.   Flin, R., O’Connor, P. & Crichton, M. (2013). Safety at the sharp end: A guide to
          A bordo de um navio, cada equipa é composta por dois ou mais   non-technical skills. 2nd edition. Hampshire: Ashgate
          indivíduos, que desempenham tarefas interdependentes com base   Patraiko, D. (2014). “Managing expectations” (p.2) in Ward, E. (Ed.) (2014). Bridge
                                                                Resource Management; Working as a cohesive team. The Navigator, Issue nº 07.
          no conhecimento que todos possuem, seja a equipa da ponte, do

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