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REVISTA DA ARMADA | 524
NRP DOURO
atípica; além da normal rendição, iria realizar-se também a cerimó- No decorrer da nossa missão, tivemos a oportunidade de firmar os
nia de inauguração do Sistema Costa Segura da Selvagem Grande, nossos conhecimentos sobre a Zona Marítima da Madeira, bem como
presidida pelo Ministro da Defesa Nacional, que efetuou o trânsito de praticar as diversas ilhas do arquipélago, mantendo uma constante
no NRP Álvares Cabral. e ativa presença junto da comunidade marítima da região. Contribuí-
A imprevisibilidade no mar é uma constante e, poucas horas mos para a manutenção da segurança e para o esforço de fiscalização
depois de largarmos, recebemos novas ordens da fragata, via uma das diversas atividades marítimas exercidas na Zona Marítima da
comunicação HF bastante entrecortada. O NRP Sagres tinha sofrido Madeira. Sendo uma plataforma versátil, em conjunto com os elemen-
uma avaria a sudoeste do arquipélago das Canárias e, devido às con- tos da Autoridade Marítima Nacional e com os Vigilantes do Parque
dições meteorológicas, estava com dificuldades em chegar ao Fun- Natural da Madeira, não só mantivemos a vigilância das áreas prote-
chal. As nossas ordens foram simples e claras: demandar o porto de gidas, como tivemos a oportunidade de apoiar diversas atividades de
Las Palmas para receber os sobressalentes necessários e efetuar a cariz científico que decorreram nas ilhas Desertas e Selvagens.
sua entrega à Sagres. Numa dessas oportunidades, apoiámos o navio científico Yersin,
Compreendidas as instruções, efetuámos a rendição dos ele- do Principado do Mónaco, pertencente à Monaco Explorations, que
mentos na Selvagem Grande e iniciámos o nosso trânsito, não pla- se encontra a efetuar uma campanha internacional com o objetivo
neado, para sul. Durante o trânsito, graças às novas tecnologias e de estudar e divulgar a biodiversidade existente nos oceanos, como
ao excelente apoio do Comando Naval, do Instituto Hidrográfico e também o impacto das atividades do “Ser Humano no Mar”.
dos camaradas no NRP Bartolomeu Dias (que estavam atracados na No âmbito da sua missão, tivemos a oportunidade de apoiar o Yer-
BNL), recebemos as cartas náuticas eletrónicas necessárias, efetuá- sin nas diversas saídas que efetuou para estudar as áreas protegidas
mos os pedidos diplomáticos e logísticos indispensáveis para prati- das ilhas Desertas e Selvagens. Na sua última missão, permanecemos
car um porto estrangeiro e preparámos a nova missão. cinco dias nas Ilhas Selvagens, onde apoiámos os diversos desembar-
Atracámos na Base Militar de Las Palmas na manhã de 2 de agosto, ques das equipas científicas do Yersin que, face às características das
depois de uma intensa noite de preparativos e a precisar de rea- suas embarcações, não conseguiriam ter sido efetuados sem o nosso
bastecer, mas, com a novidade do porto estrangeiro e a responsa- contributo. Entre os apoios às equipas científicas, foi ainda possível
bilidade de apoiar os nossos camaradas da Sagres, sentíamo-nos convidar o Comandante e a guarnição do Yersin para um almoço a
motivados e despertos. Nesse segundo dia de agosto, com o NRP bordo, que permitiu o salutar convívio entre as guarnições dos dois
Tejo em missão em Itália e nós em Las Palmas, éramos a única classe navios. Esta missão permitiu-nos, não só consolidar as competên-
com todos os seus navios em águas internacionais. cias na operação das nossas embarcações orgânicas e no profundo
Largámos ao fim do dia reabastecidos e com os sobressalentes conhecimento das diversas ilhas e ilhéus do arquipélago da Madeira,
necessários para irmos ter com a Sagres que, de acordo com a mas também operar em companhia e conhecer um navio de caracte-
última posição recebida, estava a pouco menos de 300 milhas a rísticas totalmente diferentes das nossas.
oeste de Las Palmas. Fizemos o trânsito durante a noite procu- Durante a nossa comissão, tivemos ainda a oportunidade de apoiar
rando abrigo entre as ilhas, e encontrámos a Sagres na manhã o exercício anual de fogo real, realizado pelo Regimento de Guarni-
do dia seguinte. Entregámos os sobressalentes e, não sendo mais ção nº 3 do Exército, e a manutenção das qualificações das tripula-
necessários, iniciámos o trânsito para o Funchal que, a cerca de ções da aeronave EH-101, da Força Aérea, sediada em Porto Santo.
500 milhas para norte, não se esperava fácil. O desafio de uma Terminados os dois meses de missão, com mais de 600 horas de
missão diferente, o praticar de um porto não planeado e a opor- navegação e mais de 6000 milhas náuticas percorridas, regressámos
tunidade de apoiar, no mar, um dos nossos navios, revelou-se a casa com o sentimento de missão cumprida, para a qual contribuiu
uma prova importante, que nos permitiu, não só colocar em prá- a forma amistosa com que fomos acolhidos na região e o perma-
tica os conhecimentos e valências adquiridos no treino efetuado nente apoio do Comando da Zona Marítima da Madeira.
poucas semanas antes, mas também consolidar e fortalecer
como guarnição. Colaboração do COMANDO DO NRP DOURO
10 DEZEMBRO 2017