Page 11 - Revista da Armada
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th'esse, a bordo não o dt:ixariam en/rar -se de trouxa. " Mas com aquela mão bru- ossos, lalvez a ensaiar esmagar-lhos pelo
nemftcar. Agora era respei/ar o conlralo, tal lião se brincava, e ele respondeu: simples prazer de exercer forças /laquela
e escapulir-se 011 morrer. Como lima mos- - Eu não espique ingli.fh, eu não espi- fragilidade. Depois, de repente, obrigou-o
cil/eimOSil, que se agita para escapar à ar· que! a dar meia "01/0, de cara à terra, apoiou-
madilha, /omoll a fazer esforços para se O ageme largou uma risada de gozo e -lhe a mão el/orme e espalmada nas CO.Ç/{/.Ç,
apoiar no cais, e soltou uma praga em voz tornou a sacudi-lo! e empurrou-o:
alto: - Noccspcck! No ecspcck! -Nowrun!
Tinha um Mlito quente, de tabaco e Não precisou de emender, e correu:
- Oh rais ta parla a minha sorte!
Nesse ins/ante sentiu qlle alguma coisa whisky. Na fria humidade de Dezembro, correu sem saber aonde ia, nem se o guar-
de duro, mão ou tellaz, o agarrava com um homem precisa de alguma coisa que da lhe ia dar um tiro pelas costas como a
violência pelos rins, dando-lhe a sensaçdo lhe aqueça as entranhas, para andar assim um ladrão da.~ docas que desobedece à or-
11/1111 ferro em brasa, e teve este pensamen- de ronda pelos cais deserlOS, entreg/4e aos dem de Alto!, O/I se realmeme o mandava
to de renúncia: .,Estou catrafilado!,. Mas, seus pensamentos. Depois, na noite de fes- embora, livre, sem o prender nem o forçar
é curioso, recobrou simultaneamenu a ta, de porta em poria ao longo das taber- a regressar a bordo. Correu às cegas. a
Mcrry
nas e saloons da borda-d'ógua -
calma ea esperança. Christmas, Mack! - hó sempre quem te- mastigar palavras sem tom nem som, a es-
barrar em paredes, a Irepar em caixotes,
O que quer que fosse puxou por ele
com força, e ele deixou-se levar passiva- nha uma franqueza com a Autoridade, e em fardos, em cordames, em móquinas.
a gente não é de pau, nem pode fazer uma
confuso e perdido, incapaz de encomrar a
meme, até que, com o cordão do saco a es-
trafegá-lo, conseguiu endireitar o corpo e desfeita, recusar.. A "erdade é que um salda daquele labirimo.
trago ou dois disp6em mui/as veus um
firmar-se nas pemas bambas. Aquela mIJo Foi quando o voz do polícia IIle atirou
de ferro, invislvel, arrepanhava-lhe as homem a ser mais loleral/te com as fraque- à dis/lÍllcia, pela retaguarda:
zas hum aI/as.
roupas e as carnes, macerando-o e ma- - Hcy! McrryChristmas!.
goando-o. Depois, com um safanão su- Ficaram assim 11m pedaço, frente a O dandel(il/o estaC0/4, compreenden-
premo, quase o erglll:u do chão e fê-lo dar frente, ele à espera, a contar os minutos de do vagamen/e, e só nesse instame se lemo
/4ma reviravolta. "ida, e o ageme talvez a dar balanço à si- brou que era Noite de Natal. Então com a
Levantou os olhos e viu diame de si um tuação, a macerar-lhe devagar o ombro gargama apertada, a rir e a chorar, Iral/S-
grande vulto negro, um capo/e de oleado magro na tenaz de ferro da manópula, e p6s umas calhas ferroviárias, pulO/I lima
relu unte de chuva, uma farda com bOiões repelindo a meia-voz: vedação de rede de arame, e dei/O/I a cor-
- Noeespeek, no eespceck ..
de metal e uma chapa cor de prata. O rerem campo aberto, lias trevas.
agellte da poUcia inclinou para ele o rosto PequeI/o como um murganho, a Ire- De longe, o darão agora mais vivo da
vermelho e robusto: mer de medo e frio na faliola le"e, à espera cidade guiava-Ilre os passos, como reflexo
da sentença - quem sabe até seo guarda, de misteriosa estrela oculta, ou de lareiro
- Stowaway, eh? - e sacudiu-o com enrai"ecido, não lhe ia dar um empurrdo, acesa, chamal/do·o à COI/soada.
energia, como se o quisesse despertar do atirá-lo d água? - o passageiro dandelti-
torpor. - Passageiro clandeslino? - repe- no olhava [uamellle os bOiões da farda , o (Dr: .Gr:mt de Tr:rcriru Cltl.fSf'~ . 196Z}.
til4, e riu-se. - Vou spcak English? casselele comprido e polido. COMO jndufdo nu _Amologiu do Conto
Q/4e pode um homem dizer em tais cir- O agel/te disse ainda qualquer coisa Portugu~s Con/empor(jnto •. Ediçdo do
cUllsllJncias? Til/horn-lhe recomel/dado: qlle que ele mio en/el/deu, e aper/ou-Ihe os Ins/i/Ulo dt ü /lmru e Unguu Pormgl/e-
.,Haja o que houver, não abra bico. Faça. ombros com mais força, a tactear-lhe os lU - Li5bou /984.
Justa homenagem (rectificação)
No artigo em epigrafe, publicado no n.O 1St/Outubro Trata-se, pois, de um lapso dos autores do catálogo
86 desta Revista, foi transcrita uma breve nota biográfica que assim fica devidamente rectificado.
do pintor de marinha Artur Guimarães, retirada do catálo-
go da exposição referida no artigo. Afirma-se ali: .. Para
a mesma Litografia, em 1964. executou 6 aguarelas de ..
bergantins reais que estão no Museu de Marinha, e que
foram reproduzidas para selos do correio de Moçambi-
que.» \\ \ \\ li (.,I
A este respeito procurou-nos o nosso colaborador, •
pintor Alberto Cutileiro. informando, e apresentando pro- .'
vas, de que a emissão de selos .Galeotas da Marinha
Portuguesa» (bergantins reais) feita em Moçambique é F*
sua autoria e saiu a 18 de Dezembro de 1964, impres- M , Q
sa a dez cores, aliás, como se pode ver no Catálogo de ., .......... .
Eládio dos Santos, (39.- ed., pp. 244/5), constituindo
enorme sucesso com muitas felicitações de diversas fon- fY"
tes ao autor. Os originais dos referidos selos encontram-
-se no arquivo postal do antigo Ministério do Ultramar .\\Q('.\.\\BIQUE
juntamente com outros que, para diversas províncias,
A 8m~ de selos . Galsotas dEJ Marinha Portuguesa-, da autoria do
então, pintou. pintor Alberto Cutileiro.
É possível que o pintor de marinha Artur Guimarães
lenha pintado aguarelas em 1964 para a Litografia Na-
cional, do Porto, mas nunca foram utilizadas pelos servi-
ços de valores postais do Ultramar para os correios de
Moçambique. • •••••••••••••••••••••••••••••
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