Page 12 - Revista da Armada
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A Marinha no tempo de D. João V






                 pes~r do ouro que o nosso país recebeu do Brasil ,
                 o remado de  D.JoãoV não foi  um  período áureo
           A  para as nossas forças armadas.
              Quando D. João V subiu ao trono o nosso país eslava
           envolvido n~ Guerra da Sucessão de Espanha, ao lado da
           Inglaterra, Auslria e Províncias Unidas, contra a França,
           luta dispendiosa em que se defendiam os interesses de ter·
           ceiros sem qualquer proveito  para  Portugal.  No fim  do
           reinado  anterior  as  tropas  comandadas  pelo  marquês
           de  Minas  tinham  conseguido  entrar  em  Madrid,  onde
           aclamaram  rei  de  Espanha  o  pretendente  austríaco,
           Carlos III ,  mas  foram  pouco depois obrigados  a  retirar
           por O  povo espanhol ter mais simpatia pelo pretendente
           francês. o futuro rei Filipe V.
             Mas D. João V resolveu continuar a guerra ao lado dos
           aliados.  Em  1707 estes sofreram uma grande derrota na
           batalha de Almanza mas a guerra continuou indecisa até
           1712, ano em que foi assinado o armistício.  O tratado de
           Utrecht que assinámos com a Espanha, em 1715, obrigou·
           -nos a entregar todas as praças que tínhamos tomado aos
           espanhóis, mas, em compensação, foi-nos restituída a Co-
           lónia de Sacramento, situada no Rio da Prata, em frente
          de Buenos Aires.
             Foi  de  paz  o  resto  do  longo  reinado  de  D.JoãoV
          (17~ 1 750). Todavia, em  1735, devido a um  fútil  inciden·
           te diplomático, os dois países peninsulares cortaram rela-
          ções: a casa do embaixador português em Madrid foi inva·
          dida  por soldados espanhóis que  prenderam os criados
          por estes terem tomando parte num motim  numa rua da
          capital  espanhola . Como  represália,  D.JoãoV mandou
          prender os criados do embaixador espanhol em  Lisboa e   D. João V mandou reduzir o Exército, para aliviar o erá·
          deu-lhe ordem para retirar do país. Ao mesmo tempo or-  rio.  A Infantaria, que tinha 34 regimentos de 600 praças,
          denou a mobilização geral e mandou guarnecer as praças   foi  reduzida para 20 regimentos de 500 praças e a Cavala-
          da fronteira do Alentejo. As nossas tropas não chegaram   ria, que tinha 20 regimentos de 480 cavalos, passou para
          a entrarem combate com os espanhóis na Península Ibéri-  10 de 300 cavalos. Além disso, havia os regimentos da Ar-
          ca  mas Filipe V deu instruções ao governador de Buenos   mada  Real e da  Junta  de Comércio, cada um  com  1000
          Aires, D. Miguel de Salcedo, Nr" .:\tacar .\ Colónia de Sa-  homens, eo regimento de infantaria do Porto, com 600.
          cramento.  Os espanhóis ce~caram .\  nossa colónia e du-  Os quadros voltaram a ser reduzidos em 1718 e a ln·
          rante mais de um ano impediram o seu reabastecimento.   fantaria ficou com dez mil homens.
          Durante o cerco os portugueses sofreram grandes priva-  Os oficiais excedentes dos quadros foram reformados
          ções, chegando a comer cães, gatos e cavalos, para sobre·   com meio soldo, enquanto aguardavam vacaturaspara se-
          vIVer.                                              rem readmitidos.
             Mas, uma expedição portuguesa comandada pelo coro-  Houve  mais  tarde ligeiras alterações na composição
          nel-do-mar Luís de Abreu Prego -o «Perna de Pau»-,   dos regimentos de infantaria e cavalaria.
          constituída  por 25  navios mercantes escoltados por três   Contudo, algumas reformas se fizeram neste reinado
          naus de guerra, conseguiu ..:ntrar no Rio da Prata em 1736   para melhorar a eficiência das forças armadas. D.João V
          e levou  reforços para a Colónia de Sacramento. Na via·   para  promover a  cultura das ciências militares ordenou
          gem houve recontros da nossa esquadra com duas naus es-  que em uma das companhias de cada regimento de infan·
          panholas que conseguiram fugir. Os nossos navios, refor-  taria todos os oficiais fossem engenheiros(l).
          çados com mais duas naus, cruzaram no Rio da Prata  sem   Quanto à Marinha de Guerra Coi feito um esforço, de·
          oposição  dos espanhóis, até meados de  1737, mant~ndo '   pois do tratado de  Utrecht, para aumentar a nossa frota.
          abertas as comunicações com a Colónia de Sacramento.   Na realidade, os ataques dos piratas e corsários ao nosso
          Entretanto, foi assinado em Paris O tratado de 16 de Mar-  comércio tornavam necessária uma esquadra para nos de-
          ço de 1737 que restabeleceu a paz entre Portugal e a Espa-  fendermos.
          nha, cessando então os espanhóis o cerco à Colónia de Sa-
          cramento.
                                                                 (1)  LAtjM CQf!lho,  ~Hjstória Mj/itar t  Po/(tjca dt! Ponugal dtsdt! os
             Após a  assinatura do  tratado de  Utrecht , em  1715,   Fjnsdo Stculo XVIII At" 18/4», 'omo //I.

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