Page 266 - Revista da Armada
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A medição da velocidade






                   correcta medição da velo-     Com  vento galherno pela boli-  navio  aparece  descrito  por  Wil-
                   cidade  do  navio  foi  uma  na,20-22léguas.                 liam Boume, no ccRegiment for the
            A  preocupação dos capitães          Com  vento bonança pela boli-  Seal!, publicado em 1577, mas que
            e pilotos. durante as viagens oceâ-  na, 16-17 0! léguas.           teria  sido  tardiamente  utilizado
            nicas no tempo dos Descobrimen-      Com vento calma em popa, 14-   pelos  portugueses,  pois  só  em
            tos.  De  facto,  mesmo  quando  os  -16léguas.                     1755 Xavier do Rego a ele se refere
            portugueses  começaram  a  recor-    Com  vento calma  pela bolina,   no seu cc Tratado Completo de Na-
            rer à observação da altura da Polar  12-14léguas.                   vegação».
            e do Sol para a determinação da la-  Com vento quanto a nau gover-
            titude, a  longitude s6 era possível  ne em popa, 10 léguas.           Referimo-nos  à  barca  ou  bar-
            obter-se  pela  avaliação  do  cami-  Com vento quanto a nau gover-  quinha, que ainda foi usada no sé-
            nho percorrido pelo navio.        ne pela bolina, 8léguas.          culo XX como se vê pela descrição
               Não existindo ainda os silóme-    Ter-se-á  respeito ao mar,  se é   que  apresentamos  retirada  do
            tras,  ou seja, instrumentos  desti-  chão ou picado, que detenha a nau   clCurso  Prático  de  Navegação»,
            nados a  medir a  velocidade do na-  e  ao ir velejada ou não e  também   publicado  por José  Maria  Pereira
            vio, o piloto tinha de recorrer à  sua  ao espedjr a  nau por bordo e ao ir  em  1910  e  cujo  texto  reproduzi-
            imaginação  ou  à  sua  fantasia,  mui carregada ou leve.           mos e).  SupondO  que  se  utiliza
            como então se dizia, para que a es-                                 uma  ampulheta  de  30  segundos,
            tima se aproximasse o mais possí·    o  primeiro  instrumento  desti-  facilmente se calcula, por uma re-
            vel da realidade e, assim, poder fa-  nado à  indicação da velocidade do   gra  de  três,  o  comprimento x  de
            zer uma navegaçâo correcta, que ê
            indispensável para a segurança de
            quem anda no mar. Para auxiliar a        A  barca ou  barquinha  ,;  um  instrumento que serve para se  ava-
            sua  estimativa  existiam  regras    liar  a  vcfodJ,\I..le  Jo  navIO  pelu  caminho percorriJo  n'um  pc{!ucno  espaço
            empiricas e, como é fácil de consta-  de  tempo,  em :!cra! ao"'.
                                                     Consta de  um  cylindro  de  madeira  C (fil!.  I:;~I ),  chamado  carretel,
            tar, extremamente pouco seguras,
                                                 que  ",-,Je siru em  torno  IIc  um  I:i"o  horizonlal com  Ilu.1S  I'''·I!~S 1'1", I:  no
            como as que aparecem no ccRoteiro
                                                 qual  sc  cnrol.1  a  linha da barca  L, (lue  ..:  um'l  dt;lg;III.,  corda  de  linho
            da Índia)), de Gaspar Manuel, que
                                                 J:!raJuaJa  de  um  muJu  especial (em  l/';rJ  e tcrmll1anJo  em  dULS  chicotes,
            a  seguir transcrevemos,  translite-  um  que se  prende  no batel e outro amarrado a  uma  caravelha.
            radas por Fontoura da Costa (I):         O batel ';  um sector CLrc ular de madeLra,  1/ (fi~.  ri9), lastrauo na  base
                                                 com  uma  tira  de  chumbo  cujo  peso  é  calculado de  fôrma  a conscrvar  o
            LÉGUAS  QUE  NUMA  NAU  DA            batel vertical den-
            CARREIRA  DA  ÍNDIA  PODERÁ           tro J·agua e  mer-
            ANDAR POR SINGRADURA CON-             gulhado  uns  dois
            FORME  O  VENTO  QUE  LEVAR           terçosdosell raio.
                                                  No  \·ertice do  se·
              Com  vento ventante quanto a        ctor  ha  um  orili·
           nau possa esperar em popa, 43-45       do bonde prenJe
           léguas.                                um  dos  chicotes
              Com vento quanto a nau possa        da linha da barca,
           esperar pela bolina, 38-40 léguas.     e  junto  á  base,  a
              Com vento teso em popa, 36-38       meio,  ha  out r o
           léguas.                                ordido 1/  em  que
                                                  ajusta a cara velha
              Com vento teso pela bolina, 32-
           -34 Jéguas.                            c do  outro  chicov·.  Para alguns  bateis a  linha  da  barca  termina  n'um  sô
                                                  chicote oue prende no  vertlce do batel,  e  nos extremos  da  bl5e  d'este ha
              Com  vento  esperto  em  popa,
                                                  dois orificius em  que se pré!ndem  as  extremidade~ de  uma  alça ao  meio da
           33-35léguas.                           qual se amarra a carave!ha, que v;ie  ajustar n'uma peça de madeira  fixa  na
              Com vento esperto pela bolina,      propria linha  da  barca.
           28-30 léguas.                             As  tres  peças  bafei,  linha  da  barca  e  carrtftl,  costumam Iluardar·se
              Com  vento fresco em popa,  30      lI'uma  celha especial  oblonga.
           léguas.                                   Para  empre~ar a  barca  é  ainda  neceSS<lria  uma  amPlllfleta, ou  mesmo
              Com  vento fresco  pela bolina,     um relogio que conte segundos  exactos.  A amf'lllheta A (fig. 159) consta de
           25léguas.                              doi$  reservatorio$ úe vidro, R e R', ligados e communicando um com o outro
              Com  vento galhemo em popa,         por  um  orificio  estreito,  de  fôrma  que  uma porção dc  areia  fina  contida
           24-26léguas.                           num  d'cnes  gasta  um  tempo  certo  (30"  15',  etc.) a  passar parac  o outro.

              (I)  .. A  Marinharia  dos  Descobrimen·
           tos~, 4.-edição, 1983,págs. 38617.   o desenho da barra ou barquinha, retirado do «Curso há tico de na vegação • .

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