Page 337 - Revista da Armada
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deiras queimadas (!)  anos uma esquadra portugueza não sulca-
                                                            e, como consequên-  va os mares, onde outrora não tinhamos
                                                            cia destas e doutras  rivais (24) …
                                                            considerações, fize-  A 22 de Janeiro de 1901 falecia na Ilha de
                                                            ram juizos desfavorá-  Wight a Rainha Victória de Inglaterra,
                                                            veis à competência  soberana que marcou uma época (25). No
                                                            dos oficiais…      dia 26 o navio largava para Portsmouth (26)
                                                              Passam-se uns dias  a fim de participar nos funerais. No cortejo
                                                            depois do regresso a  fúnebre, o iate real Victoria and Albert,
                                                            Lisboa, fazem-se as  transportando o féretro, passou pelos navios
                                                            reparações a bordo,  em formatura – a esquadra inglesa e muitos
                                                            facto que sucede em  navios estrangeiros. O rei D. Carlos esteve
                                                            todas as marinhas do  presente nos funerais. Após receber ordens
                                                            mundo depois de    do rei, regressou a Lisboa, onde amarrou a
                                                            uma viagem grande,  16 de Fevereiro.
                                                            feita por um navio   Em Junho, constituiu-se uma divisão
                                                            novo e o mesmo cru-  naval para transportar Suas Magestades e
                                                            zador sai para o Fe-  comitiva aos arquipélagos da Madeira e dos
       Em faina de reabastecimento de carvão em S. Vicente de Cabo Verde durante   rrol (19) .  Açores. Os navios que compunham a força
       a escolta dos transportes de tropas para Moçambique em 1915.
                                                              Esta viagem a Ferrol  naval eram, além do "D. Carlos" que levava
                                                            (20), a base naval mais  embarcados os soberanos, os cruzadores
           Em Julho desse mesmo ano é integrado na  importante da vizinha Espanha, foi a primeira  "Rainha D. Amélia" e "S. Gabriel" e o iate
         Divisão Naval de Instrução e Defesa, que  sob o comando do capitão de mar-e-guerra  real "Amélia". Nesta viagem, muito bem
         reune o que de melhor possui então a  Morais e Sousa (21). As ordens eram de pres-  documentada através de registos de impren-
         Marinha. Durante o resto do ano e até 30 de  tar homenagem aos reis de Espanha, em vi-  sa e de fotografias, o navio fundeou na Ilha
         Janeiro de 1916, o cruzador participa em  sita ao norte do seu país.  de Porto Santo, na cidade do Funchal, nas
         exercícios nas costas do continente.  Nos finais de Setembro, e sempre que o  ilhas de Santa Maria, do Faial, da Graciosa
           Não voltará a sair a barra.      navio estava no porto de Lisboa (22), deslo-  e da Terceira. O último porto de escala foi
                                            cava-se à baía de Cascais em homenagem ao  Ponta Delgada. O navio regressou ao Tejo a
         AS MISSÕES                         Rei, cujo aniversário natalício era no dia 28.  14 de Julho.
                                            Por esta ocasião os navios formavam uma  Nas duas últimas semanas de Agosto
           Como descrevemos no último artigo,  força naval e, em Cascais prestavam honras  decorreram os primeiros exercícios navais
         depois de "apresentado" ao rei, o navio efec-  aos soberanos.         em que participou o "D. Carlos". Uma força
         tuou experiências de máquinas com bons re-
         sultados, pelo que ficou disponível para de-
         sempenhar todo o tipo de missões. Como era
         o navio de comando mais antigo, passou a
         arvorar o distintivo do comando da divisão
         de reserva.
           Vamos agora relatar as principais missões                                                             Foto do arquivo do Palácio Ducal de Vila Viçosa.
         que foram atribuídas. A descrição será efec-
         tuada por ordem cronológica, ainda que, nas
         missões de carácter repetitivo, esta ordem
         não seja respeitada. No volume 29 da colec-
         ção "Três Séculos no Mar", o Cte. Marques
         Esparteiro, descreve-as com exatidão e saber
         marinheiro. Nas linhas que se seguem e com
         base em testemunhos escritos, vamos tentar
         acrescentar algum pormenor, sabendo que o
         rigor da escrita não nos permitirá contar
         estórias.
           A primeira missão de relevo atribuída ao
         cruzador "D. Carlos I", foi a de representar
         Portugal nas festas da comemoração do IV  Viagem dos soberanos à Madeira e aos Açores. A  divisão naval fundeada em Porto Santo.
         Centenário da descoberta do Brasil. Levando
         o enviado extraordinário, largou de Lisboa a  Em Outubro decorreram na cidade do  naval composta pelos quatro cruzadores e a
         9 de Abril de 1900, reabasteceu em S.  Porto as festas do centenário Henriquino,  canhoneira "Diu", efectuou exercícios nas
         Vicente de Cabo Verde e chegou ao Rio de  onde se inaugurou o monumento com que  costas Oeste e Sul, fundeando em Leixões e
         Janeiro a 29. O comandante e guarnição (18)  a invicta cidade quiz perpectuar a memoria  baía de Lagos. Aqui encontrava-se fundeada
         estiveram presentes na cerimónia de inaugu-  do seu filho dilecto, o grande iniciador e  uma esquadra inglesa composta por mais
         ração do grandioso monumento a Álvares  protector das descobertas. Suas magestades  de trinta navios de linha. O rei assistiu à
         Cabral, a que se seguiu a visita do Presidente  foram assistir ao solemne acto, partindo de  última fase dos exercícios de bordo do iate
         da República a bordo.              Cascaes em comboio. A esquadra portugue-  "Amélia", onde ofereceu um jantar aos almi-
           No regresso, fazendo eco da polémica  sa estava representada através da sua  rantes da esquadra inglesa.
         em torno do ainda muito novo cruzador e  divisão de reserva. Esta missão do cruzador  Em Maio de 1902 foi montado a bordo
         pelo facto da viagem ter sido efectuada à  "D.Carlos" tem duas particularidades e  um equipamento de telegrafia sem fios.
         velocidade económica, alguns jornais des-  ambas foram objecto de grande divulgação:  Segundo a descrição efectuada na época
         conhecedores desta regra escreveram em  o regresso dos reis a Lisboa ter sido efectua-  (27), o equipamento compunha-se de: duas
         letra gorda que o "D. Carlos" tinha as cal-  do a bordo (23) e porque ha dezenas de  partes independentes, o transmissor e o

         10 NOVEMBRO 99 • REVISTA DA ARMADA
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