Page 339 - Revista da Armada
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mentar o Presidente da República francesa a ordem de desembarque. Passados dois cruzeiro de instrução à Madeira e aos
em visita ao norte de África (31); deslocou- dias do início da insoburdinação, dirigiram- Açores. Em Julho voltou aos Açores, re-
-se ainda a Cartagena, Espanha, para, em -se para o navio três vapores para rece- gressando a Lisboa por Porto Santo e
nome de D. Carlos cumprimentar o rei berem os 483 homens da guarnição, mas os Funchal. Em Janeiro de 1909 efectuou
Afonso XIII. marinheiros içaram as escadas de portaló, novo cruzeiro de instrução às ilhas. Encon-
Em Agosto decorreram grandes manobras fecharam o navio e obrigaram os vapores a trava-se no Funchal quando recebeu
da Royal Navy na costa sul de Portugal. O retroceder. Face a estes acontecimentos, o ordens da Majoria-Geral para seguir para
cruzador rumou a Lagos onde recebeu a major general da Armada, vice-almirante Port-Said, Egipto, a fim de receber os aspi-
esquadra inglesa, neste ano presente com Ferreira do Amaral, pediu a espada e a rantes que se encontravam no cruzador
mais de 100 navios. O rei assistiu a parte bordo do cruzador intimou energicamente "Rainha D. Amélia". Amarrou em Port-Said
das manobras. os amotinados a obedecer ás ordens rece- a 27 do mesmo mês. No regresso fez escala
Em 1904, além das missões de rotina, bidas. Se não acatassem as ordens respon- na ilha de Malta, Cartagena e voltou ao
apenas foi a Cádiz a fim de prestar honras deria á violencia com violencia. A guarni- Funchal. Continuou o cruzeiro nos Açores.
ao rei Afonso XIII. O ano seguinte não foi ção rendeu-se sem condições. Soltou rumo para Lisboa a 22 de Abril.
muito diferente. Efectuaram- No resto do ano participou
se os exercícios da Royal em exercícios no âmbito da
Navy, da divisão naval, divisão naval de ins-trução.
prestou honras ao presi- Em Abril de 1910, a pou-
dente Emile Loubet da cos meses da revolução, o
república francesa. No cruzador recebeu ordens pa-
entanto, no fim do ano ma- ra representar Portugal nas
nifestou-se no Funchal um festas comemorativas do 1º
surto de peste bubónica e as centenário da independên-
autoridades mandaram in- cia da Argentina. Em Monte-
ternar, no Lazareto, as pes- videu fez fabricos para se
soas suspeitas de estarem apresentar na revista naval
infectadas e proibiram os em Buenos Aires. Na via-
navios da carreira de pas- gem de regresso voltou ao
sarem pela ilha. Estas medi- Rio de Janeiro, visitou Per-
das provocaram graves nambuco e a Ilha de Trini-
tumultos, o povo amotinou- dad – onde existia uma pe-
-se. Em face dos aconteci- quena comunidade de por-
mentos e após uma reunião O “D.Carlos” em Ponta Delgada. Em dia de sol, macas e mantas vêm para o convés. tugueses - e Ponta Delgada.
em que estiveram presentes Nesta viagem desertaram 49
o presidente do conselho, os ministros da Esta desagradável situação saldou-se em praças, das quais 29 na Argentina (37).
marinha, da guerra e do reino e o Dr. Ri- pesadas penas disciplinares, em julgamento Voltou aos Açores no mês de Agosto, na
cardo Jorge, foi decidido enviar o cruzador efectuado no Forte de S. Julião da Barra. que foi a última missão com a bandeira azul
"D. Carlos I" para auxiliar as autoridades e Em Maio foi novamente constituída a e branca de D. Manuel II e ostentando o
ajudar a manter a ordem. Durante a per- divisão naval de instrução. Neste âmbito o seu nome original – "D. Carlos I".
manência do navio no porto, a situação cruzador efectuou uma comissão aos A 1ª missão do cruzador "Almirante Reis"
degradou-se, a população amotinada Açores. Regressou passados dois meses. foi semelhante a uma já relatada. Desde
assaltou a residência do médico responsá- O navio estava operacional havia 7 anos. Outubro que se manifestava no Funchal
vel pela saúde pública, que com a sua A manutenção dos equipamentos era, de uma epidemia de cólera-morbo. O governo
família se refugiou a bordo. No dia 29 de uma forma geral, assegurada pelo seu pes- decidiu enviar o navio, que transportou
Janeiro, a sua esposa deu à luz um menino soal. Apesar do navio não ter sido sujeito a medicamentos. Regressou em Janeiro do
a que foi dado o nome de Carlos (32). A uma grande actividade operacional, o esta- ano seguinte.
calma voltou ao Funchal e o navio regres- do do material já não era o melhor e as limi- Em Julho de 1912 largou para Viana do
sou em Fevereiro. tações acentuavam-se. Foi assim decidido Castelo. Na tarde do dia 8 de Julho, o Dia
No "D. Carlos I" o ano de 1906 ficou mandar o navio para o estaleiro construtor a da Marinha, um pouco antes da baixa-mar
marcado por um grave acto de indisciplina . fim de proceder a uma extensa renovação. o navio encalhou em frente a Esposende.
A 8 de Abril encontrando-se o navio no Durante este período o navio passou ao Passadas cerca de 4 horas, a canhoneira
Tejo amarrado à bóia, a guarnição sub- estado de completo desarmamento, voltan- "Limpopo" deu um esticão e safou o navio,
levou-se, intimando o oficial de dia a seguir do às águas do Tejo em Setembro de 1907. que seguiu viagem para o porto de destino
para o Arsenal e declarar que a mari- Em finais de Setembro foi constituída a com alguns estragos (38). Em Agosto voltou
nhagem exigia a substituição immediata do divisão naval de instrução com os cruza- ao Norte.
commando do navio e ameaçando-o de o dores "D. Carlos I", navio chefe, "Vasco da Nos anos de 1913 e 14, foi constituída,
lançar ao mar se não consentisse em ser o Gama" e "S. Rafael" e canhoneira-torpedeira por algumas vezes, a divisão naval de
emissário do seu ultimato insolito. Reunidas "Tejo". Na parte final dos exercícios foi instrução e manobra, efectuando exercí-
immediatamente no Arsenal as mais altas efectuado um festival marítimo na baía de cios na costa. Em Setembro de 1914, com
patentes da marinha, com a assistencia do Cascais – a Festa da Armada – onde, a bor- Portugal ainda neutral, mas com a Europa
ministro e do chefe do governo, foi decidi- do do "D. Carlos" a Rainha entregou à Mari- já em guerra, o cruzador largou para
do decretar-se no dia seguinte a passagem nha uma bandeira nacional bordada por si África, a fim de escoltar (39) os navios de
do cruzador insubordinado a meio arma- própria (35). Esta cerimónia, revestida de transporte de tropas e material de guerra
mento, com ordem á tripulação para grande solenidade, foi precedida de um da 1ª expedição ao ultramar (40). Efectuou
desembarcar e recolher a quartel. O chefe cortejo de embarcações regionais e seguida paragens para reabastecimento em S.
da divisão de reserva o contra-almirante por regatas de remos, uma corrida de nata- Vicente, Luanda, Cidade do Cabo,
Moraes e Sousa (34) foi a bordo tentar re- ção, um torneio de water-polo e exercicios Lourenço Marques, Porto Amélia e Ilha de
solver a situação, mas os amotinados exi- de torpedeiros (36). Moçambique. Aqui iniciou a viagem de
giam a promessa de amnistia para cumprir Em Fevereiro de 1908, largou para um regresso.
12 NOVEMBRO 99 • REVISTA DA ARMADA