Page 338 - Revista da Armada
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O cruzador voltou ao Brasil, agora para
representar o nosso país na cerimónia de
posse do Presidente da República eleito, o
dr Francisco Rodrigues Alves, filho de pais
portugueses. Largou de Lisboa a 25, escalou
Cabo Verde e atracou no Rio de Janeiro a
14 de Novembro. No Guanabára estavam
fundeados, além da esquadra brasileira, 3
navios inglezes, um americano, um francez
e um argentino. Por entre elles navegou o
"D. Carlos"sempre rodeado por innumeras
embarcações, que delirantemente feste-
javam o glorioso pavilhão portuguez,
demandando o seu fundeadouro por uma
manobra tão habil que faz a admiração dos
officiaes estrangeiros e d´elles mereceu os
mais calorosos elogios o illustre marinheiro,
que commanda o "D. Carlos" … No dia 16
visitava o Presidente da Republica os navios
de guerra estrangeiros. A bordo foi S. Exa
recebido com as honras que a Ordenança
O príncipe D. Luís Filipe, comitiva, comandante Morais e Sousa e oficiais da guarnição, na viagem de Marinha prescreve para os chefes de
a Inglaterra para assistir à coroação de Eduardo VII. Estado. …Em retribuição de todos os obse-
quios offereceram os officiaes do "D.Carlos"
receptor, e d´uma parte comum, a antena. mentos familiares, o príncipe dizia a sua uma matinée a bordo. Mais de oitocentos
No transmissor, a fonte, ou antes o depo- avó … que apenas tinha enjoado durante convidados encheram a tolda, o tombadilho
sito de energia electrica, reside em 24 parte da viagem – á ida na costa de Portugal e ponte, que, todo engalanado de verduras
elementos d´accumuladores,… a chave e á volta na passagem da Biscaya, onde o e flores, estava transformado em surprehen-
de Morse para a manipulação de signaes mar estava mais agitado (30). dente bosque, que passarinhos engenhosa-
é do modelo vulgar dos manipuladores No dia 10 de Agosto, num dia calmo de mente occultos na verdura, alegravam com
telegraphicos… Nas experiências no mar, verão, estando o cruzador amarrado à bóia seus cantos e a suggestiva alegria das damas
iniciadas a 26 de Maio, apenas houve no QNG, o vapor francês Corsica durante a tornava paradisiaes … Entretanto a gente
sinal quando a cidadela de Cascais ficou manobra de atracação abateu sobre a proa modesta da colonia amontoava-se a bordo
à vista e até á distancia de 20 milhas, mas do cruzador, que lhe atravessou o costado do cruzador, sempre que lhe era permittida
a partir d´essa distancia os signaes foram com o esporão e lhe provocou um grande a entrada, e em todas as horas que o seu
recebidos d´uma maneira muito confusa e rombo. Não era por acaso que o esporão labotar diario lhe dava folga. Esta notícia,
com este insuccesso prosseguiu a nave- era considerado uma arma… publicada na revista Portugal Militar (1902),
gação até 90 milhas. No regresso os resul- Nos princípios de Outubro a divisão é bem característica da sua época. A missão
tados ainda foram peiores. O engenheiro naval, que andava em exercícios na costa, terminou em Lisboa em Janeiro de 1903,
alemão vendo que nada podia conseguir entrou no Tejo e fundeou em Belém para, depois de escalar os portos de Pará, Belém
participou ao commandante que dava por com a sua presença, abrilhantar a inaugu- e S. Vicente.
finda as experiencias… ração do monumento a Afonso de Albuque- No ano de 1903 efectuou quatro missões
Mais uma vez numa viagem de repre- rque. À noite os navios da divisão naval ilu- de representação, uma ao Funchal para
sentação, e nesta missão acompanhado minaram de gala com luz eléctrica, facto receber o ministro inglês Chamberlain; para
pelo cruzador "Rainha D. Amélia", largou que teve grande impacto na população. prestar honras ao rei Eduardo VII que visita-
para Portsmouth conduzindo o príncipe Depois de suspender, a esquadra voltou às va Portugal a bordo do Victoria and Albert
real D. Luiz Filippe, representando seu manobras, onde todos os navios efectuaram saíu a barra e escoltou o iate real na entrada
augusto pae e a nação portugueza na ceri- tiro de artilharia e lançamento de torpedos. do Tejo; deslocou-se a Argel para cumpri-
monia da coroação do rei Eduardo VII de
Inglaterra, seu primo.
Como devido a doença do novo sobera-
no inglês, as cerimónias da coroação foram
adiadas (28), o navio largou de Portsmouth
a 28 de Junho. Na viagem de regresso o
navio communicou que ventos contrarios,
que o acompanharam no Golfo da Byscaia,
lhe retardaram a marcha… Não foi assim
possível evitar algumas horas de atraso e
por forma a efectuar a recepção ao
príncipe, foi dada ordem para que o rebo-
cador "Bérrio" largasse hontem para fora da
barra, a fim de prevenir o commandante do
cruzador, para regular a marcha do seu
andamento na entrada do Tejo, por forma
que o desembarque de sua alteza o principe
real se effectue ás 10 horas da manhã (29).
O rei deslocou-se a bordo para receber o
seu filho, tendo a rainha e a rainha D. Maria
Pia ficado no Arsenal. Ainda nos cumpri- Pessoal do cruzador em baldeação a seguir a uma faina de carvão. ✎
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 99 11