Page 92 - Revista da Armada
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mente, desde 1850 (19), apesar dos nativos terem informado as
autoridades do sultanato de que a região, a Norte e a Sul do rio
Meningane, estava na posse da coroa portuguesa.
Um guarda-marinha é impedido de desembarcar e a corveta, sem
usar da força, volta à ilha de Moçambique, donde regressa com o
governador-geral da província a bordo.
No quarto de alva de 13 de Agosto, sob o comando de Wenceslau
de Moraes, larga um escaler a remos, armado em guerra, com o go-
vernador e o comandante do navio, aguardados por 20 soldados
árabes das tropas irregulares do sultão e um grupo de indígenas (20).
Moraes desembarca ás costas dum nativo e, talvez, «o à-vontade, o
destemor e o semblante simpático do nosso jovem segundo-tenente»
tenha concorrido para o relativo êxito da missão. Todos, excepto o
«sultão de Moçambique» e o comandante, podem ir a terra (21).
Perante tal, regressam a Moçambique.
No fim desse ano, à informação anterior, é acrescentado: «Muito
digno a todos os respeitos e altamente disciplinador.»
A 27 de Março, depois de transportar o Destacamento de Caça-
dores nº 4 para Lourenço Marques, segue a 28 de Maio para Zanzibar
onde o comandante, na qualidade de ministro plenipotenciário de S.
M. El-rei, procederá à ratificação mútua dos tratados de 1879.
A cerimónia, em 18 de Junho, decorreu com grande pompa e sal-
Corveta “Duque de Palmela”.
vas de 21 tiros da corveta e dum navio do sultão.
-marinhas, ser submetido a exame para segundo-tenente. Saídos, em Porém, a 27, será mandado regressar ao reino pela Junta de Saúde
24 de Janeiro de 1880, a cruzar exclusivamente à vela, incluindo as da província.
entradas e as saídas, por imperativo legal dos exames, sobem o Tejo Após um mês de viagem a bordo do paquete «Assíria» passa no
em 3 de Fevereiro, sendo, a 12, promovidos a oficiais. Wenceslau de Lazareto de Lisboa (22) a 19 de Agosto e entra de licença.
Moraes em … segundo lugar! As antigas paixões mantém-se. Uma platónica, a outra … nada.
Nesse dia, reza o diário da apaixonada professora de francês, sua Obtidos mais 60 dias de licença, inicia a sua colaboração com os
vizinha; «1er jour oú je me suis trouvée seule en voiture avec B…» de Anais do Clube Militar Naval e a 23 de Janeiro de 1884 assume
Blondire, o pseudónimo que a sua «petite maruan» lhe atribuira (14). funções de vogal dos Conselhos de Guerra.
E às segundas-feiras foram um do outro. Mas os problemas foram Após o Registo do Porto de Lisboa embarca, a 23 de Junho, na «Rio
excessivos em sua casa, sobretudo, e também no … prédio (15)! Ave» que viera ao Tejo para retomar a fiscalização aduaneira do
Depois da «Quanza», surta no Tejo, passa à «Mindello» a 3 de Algarve (23).
Março de 1881 para ir servir na Estação Naval de Moçambique. No início de Dezembro an-
No dia 6 de Junho, Maria Isabel, angustiada, ainda o procura na tes de destacar confirma-se,
Casa da Balança sem, no entanto, lhe conseguir falar. Ele, sem nada que «…é hábil comandante
dizer, partia deixando-a grávida. de quarto… dedicado ao ser-
Logo em Aden recebe a notícia telegráfica de que o filho nascera viço e como tal muito útil».
morto. Apesar do drama subjacente o romance … subsistiu. A 23 de Março de 1885,
Daí, a 20 de Julho, partem em plena monção de sudoeste, com com o futuro comandante da
uma carga suplementar de 120 toneladas de carvão, no convés, e a «Rio Lima», de que vai ser ofi-
missão de averiguar o comportamento do navio. cial imediato, segue, em vapo-
Vencido o golfo de Aden em duas singraduras e dobrado o cabo res da «Royal Mail» (24), até
Guardafui é então o navio sujeito a ventos duros de su-sudoeste Moçambique onde aguardam
vendo, ao 6º dia, a singradura reduzir-se a escassas 45 milhas náuti- a canhoneira.
cas. O inquietante caturrar, o fazer água e o consumo de carvão (16) A 6 de Julho ambos assu-
determinaram, ouvido o Conselho de Oficiais, que se arribasse a mem funções e a 15, seguem
Aden, onde fundearam a 30, depois de um incêndio, de carvão, na para a Estação Naval de Ma-
casa da máquina e outro, de lenha, na das caldeiras. A estes cau, via Timor, transportando a
infortúnios juntou-se, em Aden, o abalroamento de um brigue de Zanzibar o cônsul de Portugal
guerra italiano que impôs ao comandante uma eficaz intervenção que, no dia 20, foi ao palácio
para obrigar a autoridade inglesa a assumir as suas responsabilidades. do sultão apresentar credenci-
Reparadas as avarias, largaram a 13 de Outubro, tocaram Zanzibar ais na companhia do coman-
a 31 e nove dias depois estavam já na capital; Moçambique. dante, do futuro governador do
Nesse fim de ano é avaliado: distrito de Timor e, a reforçar o
«a) Oficial inteligente, de esmerada educação e bastante militar; prestígio da função, de todos os O 2º Tenente Wenceslau de Moraes.
faço dele um óptimo juízo; oficiais.
b) Hábil e cuidadoso como oficial de quarto; reputo-o apto a Depois de Colombo, Singapura, Batávia e Macassar, a 26 Setembro
comandar o navio; surdem em Dili.
c) Dedicado muito ao serviço e aos estudos da sua arma; Ainda não será desta feita que Macau o fascinará. A Junta local
d) De comportamento civil e militar excelente (17).» impõe-lhe 60 dias para recuperar a saúde em … Lisboa.
Isto faz-nos admitir que o lamentável desfecho do seu caso A viagem durará de 21 de Outubro a 13 de Janeiro de 1886 !
amoroso não era conhecido ou, segundo uma tradição do mar (18) Terminada a licença que a JSN (25) confirmara, é, a 30 de Abril, na
considerado da sua estricta vida privada. Repare-se que a colocação fragata «D. Fernando», promovido a primeiro-tenente e seis dias
da palavra muito faz crer numa vontade de realçar, em tempo, esta depois regressa à corveta couraçada «Vasco da Gama».
sua faceta profissional. Na capital do reino terá continuado o «homem bom, generoso, reser-
Em 11 de Fevereiro de 1882 a «Mindello» faz-se ao Norte e atinge vado, prudente, incapaz de resistir aos encantos das mulheres» (26).
a baía de Tungue a 20. Aí a bandeira de Zanzibar tremula abusiva- Mas o seu romance com a professora, que se mudara, terá visto o
18 MARÇO 99 • REVISTA DA ARMADA