Page 88 - Revista da Armada
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A viagem ao Canadá
A viagem ao Canadá
Projecto Creoula - “De novo na Terra Nova”
projecto de levar o Aveiro). Os instruendos seriam anos. Após três dias de estadia dela fizesse parte. Suspendeu-se
“Creoula” de novo aos divididos em duas bordadas, em Aveiro com várias cerimó- no outro dia de madrugada e
O mares canadianos nas- uma para a ida e outra para o nias e festividades chegou o dia antes das 11 horas da manhã
ceu originalmente de uma ideia regresso, metade portugueses e da partida. Um mundo de gente atracou-se em Ponta Delgada.
da Sr.ª Embaixadora do Canadá metade canadianos em cada acorreu ao cais dos bacalhoeiros Portugueses e canadianos,
em Portugal, a Sr.ª Patricia Dole bordada. para dizer adeus ao “Creoula”, todos sem excepção, ficaram
cuja terra natal é precisamente a Para Director de Treino foi aos seus jovens que embarca- maravilhados com as belezas
Terra Nova. A Sr.ª Embaixadora, escolhido o Sr. Capitão Fran- vam e para cumprimentar o Sr. naturais e gastronómicas (o
como ela própria contou a bordo cisco Marques : efectivamente Presidente da República, que se cozido nas furnas foi largamente
do “Creoula”, costumava ver na quem melhor que o velho “lobo deslocou propositadamente a apreciado) da maior ilha açorea-
sua meninice os veleiros por- do Mar”, último Capitão do Ílhavo para também ele se des- na e foi com vontade de re-
tugueses da pesca do bacalhau à “Creoula” enquanto bacalhoeiro, pedir dos jovens que embar- gressarem para umas férias mais
linha atracados em St. Jonh’s. para acompanhar os jovens cavam nesta aventura. O navio prolongadas que se despediram
Então porque não aproveitar o instruendos e candidatos a nave- largou e dezenas de embar- de S. Miguel após dois dias de
ultimo representante da famosa gadores no regresso do lugre às cações de todos os tipos acom- estadia.
“Frota Branca” (como eram águas da Terra Nova, 25 anos panharam-no até à saída da Um dia de navegação, pas-
então conhecidos na Terra Nova volvidos desde a última campa- barra (é caso para dizer que tudo sagem nocturna pelo canal entre
estes veleiros portugueses) nha do navio comandada por o que flutuava andava na Ria) e o Pico e S. Jorge e a 17 de Agos-
actualmente ainda a navegar em ele próprio?! algumas mesmo até bastante to atracou-se na Horta. Aqui a
Portugal, como pano de fundo grande ansiedade dos instruen-
para um estreitamento das dos era ir beber um gin tónico no
relações entre Portugal e o conhecido Peter’s. A recepção
Canadá? Encontrar as instituições da parte da Câmara Municipal
e as pessoas certas que pudes- foi bastante calorosa tendo esta
sem levar em frente e concretizar oferecido um jantar aos instruen-
este projecto foi o passo seguinte dos e guarnição, animado por
da Sr.ª Embaixadora. um grupo folclórico da ilha. O
Efectivamente, após se congre- tempo estava bom e convidava à
garem essas intenções formaram- praia e aos passeios, foi mais
-se então duas Comissões Execu- uma vez com rapidez que os
tivas, uma Portuguesa (Amigos dois dias na Horta passaram.
do Museu de Ílhavo; Câmara Ia-se iniciar agora a maior tira-
Municipal de Ílhavo; Universi- da da viagem, 10 dias de mar
dade de Aveiro) outra Canadiana entre a Horta e St. John’s, a qual
(Department of Tourism, Culture parecia assustar alguns dos
and Recreation; Heritage Fonda- instruendos. Acabaram por se
tion of New Foundland and La- fazer apenas 8 dias de navega-
vrador; Canadian National ção pois o navio fundeou dia 26
Defense; Marine Institute; Consul Capitão Francisco Marques. de Agosto na pequena baia a Sul
General for Portugal - Toronto; A viagem começou para o fora. Nas margens havia gente de St. John’s, chamada Fresh-
Core Consulting, Inc.). Cada uma navio a 5 de Agosto, largando da até à ponta dos molhes acenan- water Bay. Durante estes 8 dias
das Comissões teve a seu cargo a Base Naval com destino a Aveiro do ruidosamente à passagem do no mar, para além dos serviços
execução prática do projecto no transportando já os instruendos navio. já rotineiros realizados por instru-
respectivo País: arranjar patrocí- canadianos que iriam fazer a Com um vento bonançoso de endos e guarnição, desenvolve-
nios, seleccionar os instruendos, viagem de ida. A chegada foi no Norte o velho lugre seguiu a ram-se mais algumas actividades
organizar as estadias do navio, dia seguinte tendo o navio sido todo o pano rumo a Ponta que, para além de interessantes,
entre muitos outros aspectos alvo de uma calorosa recepção Delgada, primeira escala desta iam mantendo toda a gente acti-
práticos. logo a partir da entrada da barra, viagem. vamente ocupada. Foram feitas
com várias embarcações a Na viagem todos os ins- palestras sobre Astronomia
Os instruendos canadianos acompanharem o navio até ao truendos se adaptaram bem ao Náutica e sobre Navegação
foram seleccionados entre os cais dos bacalhoeiros. No molhe navio, registando-se muito pou- Astronómica as quais foram
jovens da Terra Nova e Lavrador ao lado encontrava-se atracado o cos enjoos. Com bom tempo e seguidas atentamente, quer pelos
e quatro deles, dentre os filhos navio gémeo do “Creoula”, o vento favorável o “Creoula” instruendos portugueses, quer
de emigrantes portugueses em “St.ª Maria Manuela”, aguardan- acabou por chegar à ilha de S. pelos canadianos e até por al-
Toronto. Os instruendos por- do pacientemente a chegada do Miguel com quase um dia de guns elementos da guarnição.
tugueses foram seleccionados seu navio irmão e que o colo- antecedência. Após quatro dias Outra actividade que absorveu
em terras de gente da pesca, en- quem novamente a navegar... de viagem aproveitou-se o ense- bastante os instruendos e princi-
tre os jovens com parentes liga- No cais já se encontravam os jo para fundear junto ao ilhéu de palmente o “Primo Chico” ( as-
das à pesca do bacalhau à linha futuros instruendos portugueses Vila Franca do Campo, desfrutar sim como “Tio” e “Avô” este foi
(Viana do Castelo, Vila do Con- e o Director de Treino saudando de um bom banho de mar e da um dos tratamentos carinhosos
de, Póvoa de Varzim, Figueira da efusivamente a chegada do paisagem magnífica em que o ao Capitão Francisco Marques
Foz e especialmente Ílhavo e navio e dos instruendos canadi- próprio navio se inseria como se que se começou a generalizar
14 MARÇO 99 • REVISTA DA ARMADA