Page 93 - Revista da Armada
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fim. Ele assume «o seu temperamento neuropata e com a
vida que tem levado…» e ela regista: «Mon enfant era um
pobre moço doente, fraco, distraído, sonhador … um
louco, enfim!».
Em Setembro larga para a Divisão Naval da África
Oriental e Mar das Índias a bordo da canhoneira «Douro».
Com escalas em Gibraltar, Malta, Port Said, Aden,
Seichelles chega a Moçambique a 14 de Novembro.
Depois de uma ida a Quelimane é, no fim do ano, avaliado
«…pela sua muita aptidão, verdadeiro conhecimento das
coisas do mar, ilustração e por ser um perfeito cavalheiro.»
Em Janeiro segue, via Ibo e Tungue, a reforçar em
Zanzibar as forças navais do, agora, governador Augusto de
Castilho que negociava com o sultão a fronteira norte de
Moçambique.
De regresso ao Tunge, pronta a impedir qualquer desem-
barque de forças do sultanato, recebe o apoio da corveta
«Afonso de Albuquerque» e, a 16 de Fevereiro, aprisionam Oficiais da corveta “Mindelo” na ilha de Malta, a caminho de Monçambique, cerca de Junho
o vapor zanzibarista «Kilwa» e, após cerrado bombardea- de 1881. Moraes é o primeiro de pé à esquerda.
mento, a 23 desembarcam forças de Marinha e do Exército que ocu- que eu desejaria passar o resto da minha vida ...» escreveu na
pam Meningane que, até 27, reage. Como a construção do forte de primeira carta para aquela irmã.
Palma tivesse sido ameaçada a 26 de Março, nova força militar Depois de Kobe, Yokoama, donde visita Tóquio. O regresso a
desembarca em três escaleres sob o comando de Wenceslau de Macau segue o itinerário inverso.
Morais. Em Hong-Kong agradecem os pêsames pelo falecimento de D. Luís
A 24 de Abril regressam a Moçambique com o problema de e vão a Cantão.
Tungue resolvido, mas a 3 de Maio, pela terceira vez, a saude No fim desse ano, ao destacar para a «Tejo» como imediato do
ressente-se. novo chefe da Estação Naval, averba; «Desempenha com distinção
Em Lisboa, a rotina e o mais, como sempre. os seus diversos encargos».
De novo no «África» vai a Luanda depois de escalar S.Vicente, Em Março de 1890 assume o comando interino da «Tejo» com a
Santiago, S. Tomé, Cabinda e Banana (27). Depois duma movimen- missão de ir a Bangkok saber da «colónia portuguesa».
tação de tropas entre Moçâmedes e Cabinda, retorna ao reino onde Vencidas as incertezas da cartografia, fundeia diante do Consulado
entrou em 16 de Dezembro para logo sair com tropas para a Madeira. (28), indaga dos 50 portugueses e dos 120 chins nossos protegidos, é
A bordo do «Índia» segue por S. Vicente, Santa Helena, Cabo, recebido, na ausência do rei, por um seu irmão e faz um sagaz ba-
Lourenço Marques e Moçambique rumo a Colombo e Singapura até lanço sócio-económico do Sião. Confirmado o marinheiro, revela-se
que em 7 de Julho de 1888 entra no delta do rio das Pérolas. o diplomata.
Finalmente o Oriente! O Comandante Geral da Armada (29) lerá: «Se me é lícito exprimir
Macau toca a sua sensibilidade de artista. No dia seguinte assume opinião pessoal acerca do valor daquelle documento, direi a V. Exª
funções de imediato na «Rio Lima» que vai receber fabricos em Hong- que o acho excelentemente redigido, muito interessante e correspon-
Kong e que, de caminho, transporta o governador cessante e família. dendo integralmente às instruções recebidas pelo comandante da
Será neste ano que «toma» Atchan, uma muito jovem chinesa de Tejo» que «…É muito morigenado, de trato muito agradável, de apre-
pai inglês. sentação distinta. Merece-me … o melhor conceito. Reputo-o apto
As informações desse ano dão-no por «assíduo e incansável no para a promoção ao posto imediato».
serviço … bastante inteligente, zeloso, e modelo de boas qualidades, O novo governador ao deixar o comando da «Tejo» a Wenceslau
civis e militares». de Moraes, novamente interino, num confidencial refere «… a dedi-
Em Janeiro vai, por Singapura, a Timor levar os 19 pronunciados no cada coadjuvação de … tão brioso oficial» e o chefe da Estação tam-
assassinato do governador que transportara e regressa, com 18 conde- bém não lhe regateia encómios antes de o dar por «…óptimo oficial».
nados, via Macassar e Manila. Por 60 dias é Comandante interino da Estação, nesse início de
Envia uma importância à sua dilecta irmã mais nova e a corres- 1891. Um louvor do Governador assinala a «eficaz cooperação».
pondência com os entes queridos, como sempre, mantem-se viva. Terminada a comissão nos mares da China, a «Tejo», sob o
Após limpeza de fundo, em Maio, ficam ainda em Hong-Kong para comando de Moraes, larga a 11 de Abril.
o aniversário da rainha Vitória. O meticuloso plano da viagem considerou «A canhoneira, navio
Volta a este porto um mês depois para aprontar para a ida aos por- velho e cansado e de caldeiras em mau estado, (que indeferidas justas
tos do Norte da China e Japão. Em Foo-Chow e em Xangai são rece- requisições de pessoal e material), seguia viagem com guarnição
bidos por colonos Macaenses. Metida água em Tien-Tsin e carvão em reduzidíssima.» e … trinta passageiros.
Chefoo larga para Nagasaqui, na ilha de Kiu-Siu, onde tudo o deslum- E tudo o mais que era de temer!
bra: «Estou n’um paiz delicioso, o Japão. Era aqui, em Nagazaqui, A cartografia, a meteorologia e a complexa logística decorrente das
necessidades de frescos, água e carvão.
No mar, procurou ventos favoráveis para andar folgado de carvão,
entrou em portos criteriosamente escolhidos, dividiu as tiradas
maiores, privou-se de pilotos malaios onde podia para poder recorrer
a fogueiros egípcios onde devia, enfrentou com segurança as muitas
avarias, resolveu sem hesitação as inúmeras contrariedades, não se
poupou a si e nem por isso se coíbiu de dar adequado descanço a
uma guarnição de quem muito tinha de exigir.
Em terra, visitou e recebeu os nossos representantes, as autoridades
locais e os comandos dos navios de guerra surtos. Onde os interesses
portugueses pudessem receber o seu concurso, aí estava; em
Singapura participa, com toda a guarnição, na celebração dominical
Corveta “Mindelo”. da Missão Portuguesa, em Mahé, assinala o interesse em novos ✎
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