Page 124 - Revista da Armada
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“Quando a China acordar
“Quando a China acordar
abanará o mundo!”
abanará o mundo!”
Napoleão Bonaparte
içar da bandeira chine- Macau e, quem sabe, no futuro
sa em Macau e o dis- também Taiwan (Formosa)).
O curso do presidente Identifica-se também nesta civi-
chinês Jiang Zemin, em que dis- lização Singapura, um estado,
se que tinha sido dado "outro predominantemente chinês, ca-
importante passo para a reunifi- da vez mais orientado para Pe-
cação da China", levaram-me, quim. Populações de enorme in-
como terão levado muitos de fluência na Tailândia, Vietname,
nós, a reflectir sobre o futuro da Malásia, Indonésia e Filipinas e
China. Será que, depois de Ma- sociedades não chinesas (Coreia
cau, a China tentará "recuperar" do Norte e do Sul, Vietname) que,
Taiwan? Que papel espera a não obstante, partilham muito da
China vir a ocupar na cena in- cultura confucionista da China.
ternacional nos próximos anos? Os 9.571.300 Km2 da RPC,
Será que a China quer substituir uma área superior à da Europa,
a ex-URSS como superpotência? permitem classificá-la como a
Embora não saibamos o que terceira maior extensão territorial
o futuro nos reserva, podemos, do mundo, depois da Federação
no entanto, prever que os A grande Muralha da China, edificada para proteger a China dos bárbaros. Russa e do Canadá. A RPC pas-
grandes acontecimentos do sou a partilhar com a Federação
século XXI se irão dar na Ásia. A Europa A “GRANDE CHINA” Russa um espaço considerável no Heartland
encontrou a estabilidade política, estuda o (o Coração da Terra), em especial depois do
alargamento a leste, estabelece novas fron- A que China se refere Jiang Zemin? Será a controlo da Mongólia. A China está protegida
teiras de interesses e segurança. A América uma grande China antiga, ou a uma China a Norte e Sudoeste por barreiras naturais de
do Norte continuará, por muito tempo mais, contemporânea? desertos e montanhas e estende-se até às ter-
na vanguarda da civilização. A Africa Historicamente quando se fala da grande ras marítimas do Rimland, (orla marítima
China antiga consideram-se três onde se confrontam os interesses dos grandes
grandes zonas: a «zona sínica», poderes continentais com os das potências
a «zona asiática interior» e a marítimas) configurando um poder anfíbio.
«zona exterior». A primeira zona Os seus 1,2 biliões de habitantes, um quin-
corresponde à China Continen- to da população mundial, levam a classificá-
tal englobando ainda a actual -la como a maior potência demográfica da
Coreia, o Vietname, as ilhas Liu Terra. Cerca de 80% da população vive num
Chiu e, em certas épocas, o terço do território. A China é dominada pela
Japão. A segunda zona corres- etnia Han que, embora represente 93% da
ponde a uma área de não chi- população, ocupa apenas 40% do território
neses (Manchus, Mongóis, da RPC.
Uigures, Turcos e Tibetanos), A geografia da China, devido aos imensos
que tinham de ser controlados contrastes em população, clima, relevo,
pelos chineses por razões estra- riqueza do solo viabilizou ao longo da
tégicas de segurança. A «zona história várias "Chinas". O combate persis-
exterior» corresponde a uma tente por "uma só China" iniciou-se com o
zona de bárbaros. fim do predomínio europeu.
A civilização chinesa con-
temporânea, embora com vér- A CHINA DAS DINASTIAS
tice em Pequim, extrapola
muito o espaço ocupado pela Para entendermos o que Jiang Zemin quer
Mapa da China RPC (República Popular da dizer com "reunificação da China" temos de
China). Contam-se as provín- estudar a história da China, em especial, o
provavelmente não encontrará neste século cias chinesas afastadas, que gozam de uma último século.
o rumo certo e as Américas Central e do Sul autonomia considerável, as províncias que Um olhar pelo passado mais distante
irão entender-se e juntar-se em uniões fazem legalmente parte da RPC, mas são ha- mostra-nos que, embora tradicionalmente os
económicas e comunidades militares por bitadas maioritariamente por povos não chi- chineses estivessem voltados para as
forma a tirarem proveito do interesse dos neses (Tibete, Xinjiang), e as sociedades chi- ameaças vindas do norte, de onde vieram
seus vizinhos do norte. nesas com autonomia especial (Hong-Kong, muitas invasões, também se voltaram, de
14 ABRIL 2000 • REVISTA DA ARMADA