Page 128 - Revista da Armada
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nistro da Marinha, Comandante Azevedo  Não restam dúvidas que Sacadura
                                            Coutinho, que Sacadura levou a voar num  Cabral era o impulsionador da ideia da
                                            FBA, o qual também ficou entusiasmado  aviação marítima, como se confirma,
                                            com as possibilidades do avião.    quando é mandado apresentar na
                                                                               Majoria General da Armada, onde fica
                                            INICIATIVAS VISANDO A CRIAÇÃO      como adjunto, a partir de 20-06-1917 até
                                            DA AVIAÇÃO DA ARMADA               24-10-1917, afim de continuar a organização
                                                                               dos Serviços de Aviação da Armada”.
                                              O facto de a Marinha ter continuado a
                                            enviar oficiais para o estrangeiro para se CONVENÇÃO LUSO-FRANCESA
                                            formar em piloto, durante o ano de 1917:  DE PATRULHA DA COSTA
                                            Azeredo e Vasconcelos, Adolfo Trindade,  PORTUGUESA
                                            Santos Moreira e Pedro Rosado demons-
                                            tra que as entidades superiores da Ar-  A concretização de uma Aviação da Ar-
                                            mada tinham em mente criar uma aviação  mada vai receber um importante impulso
                                            privativa da Armada. Não tenho dúvidas  pelo facto de o Governo Francês desejar
                                            que Sacadura estaria por detrás desses  estabelecer com o Governo Português um
                                            planos. Ele refere que o Ministro da Ma-  esquema de protecção da navegação mer-
                                            rinha (Azevedo Coutinho), em Setembro  cante, que em comboios, transitava frente
         Sacadura Cabral usando um meio de transporte adequado.  de 1916, lhe pedira para escolher um local  à costa portuguesa, circulando entre o
                                            para a instalação de um centro de aviação  Golfo da Biscaia e o Mediterrâneo. Com a
                                            marítima. Aliás insere-se nessa linha de
           Depois do curso, pilotou além do                                    entrada de Portugal na guerra (Março de
         “Maurice Farman” utilizado no curso de  pensamento a sua sugestão, quando ainda  1916) os submarinos alemães tinham
         pilotagem, outros aviões como o    estava a frequentar o curso de pilotagem  eleito a nossa costa como área de ataque à
         “Blériot” e o “Caudron G3”. A seu pedido  em França, para a aquisição dos dois  navegação aliada, dada a nossa manifesta
         foi frequentar um estágio em hidroaviões  FBA’s.                      incapacidade naval.
         no Centro da Aéronautique Navale de S.t  O FBA era um hidroavião que tinha si-  Assim a França começou por instalar
         Raphael, onde terminou a sua preparação  do concebido como um projecto anglo-  um grupo de patrulhas a operar com
         de piloto, regressando em Julho  de 1916.   -francês e equipava a Aéronautique Nava-  base em Leixões para dar escolta aos
           Durante o período que permaneceu em  le, efectuando patrulha marítima. Era um  referidos comboios e enviou um piloto
         França cooperou na aquisição de material  hidroavião de coque central, de contrapla-  naval , o Tenente Larrouy para negociar
         aeronáutico para o Ministério da Guerra e  cado, asas de madeira revestida a tela,  um acordo que permitisse dar também
         sugeriu ao Ministério da Marinha a aquisi-  equipado com um motor rotativo poste-  cobertura aérea  ao longo da nossa costa.
         ção de dois hidroaviões FBA. Estas diligên-  rior “Gnome” de 100HP. Tinham sido en-  Sacadura foi o negociador pelo lado por-
         cias permitiram-lhe estabelecer contactos  viados pela Marinha Francesa em finais  tuguês. Foi então assinada a Convenção
         com os principais fabricantes franceses de  de 1916. Foram recebidos em Vila Nova  Luso-Francesa, de 21-06-1917, que esta-
         aviões e de motores, conhecimento esse  da Rainha, onde foram montados e opera-  belecia que ficaria a cargo da aeronáutica
         que irá utilizar futuramente para outras  vam, descolando no rio Tejo.   naval francesa a patrulha da costa por-
         aquisições.                          Conserva-se no Museu de Marinha, um  tuguesa a norte de S. Martinho do Porto
                                            desses aviões, que além de ser o mais anti-  e que para sul deste ponto tal obrigação
                                            go avião existente em Portugal, mantém  competia à aviação portuguesa. Para tal
         INSTRUTOR DA ESCOLA                as marcas de identificação nacionais com
         AERONÁUTICA MILITAR                dois círculos concêntricos – vermelho e  seriam criados três centros de aviação:
                                                                               Em Aveiro (S. Jacinto) a cargo dos fran-
                                            verde (só em 1919 foi adoptada a Cruz de  ceses; em Lisboa e no Algarve, a cargo
           Em Outubro de 1916, entrou em    Cristo, inscrita num círculo branco, como  da nossa aviação. Além disso previa-se a
         funcionamento a Escola de Aeronáutica  marca nacional).               instalação de um centro de dirigíveis na
         Militar (EAM) e Sacadura, ainda apre-                                 área de Lisboa.
         sentado no Ministério da Guerra, foi
         nomeado director do primeiro curso de                                 CRIAÇÃO DA AVIAÇÃO
         pilotagem. Era o primeiro curso realiza-                              MARÍTIMA
         do em Portugal e era constituído por tre-
         ze alunos, dos quais dois de Marinha, os                                Para concretizar a instalação dos cen-
         segundo tenentes Adolfo Trindade e o                                  tros de aviação que competiam a Portu-
         Azeredo e Vasconcelos.                                                gal a Majoria General da Armada encar-
           Anteriormente, a formação dos pilotos                               regou Sacadura de escolher os locais
         militares era feita no estrangeiro: França,                           mais apropriados (segundo o próprio Sa-
         Inglaterra e EUA. A Marinha continuou a                               cadura já em Setembro de 1916 o Minis-
         enviar os seus candidatos a pilotos para o                            tro da Marinha o tinha encarregado de
         estrangeiro, nomeadamente para França,                                semelhante tarefa). Na área de Lisboa fo-
         onde também faziam a adaptação aos                                    ram estudados os seguintes locais: Alfei-
         hidroaviões.                                                          te (preferido por Sacadura), Montijo e
           Durante a sua estadia na EAM, em Vila                               doca do Bom Sucesso. Foi sobre este lo-
         Nova da Rainha, Sacadura recebeu e                                    cal que recaiu a escolha. Quanto ao Al-
         levou a voar dois convidados especiais. O                             garve decidiu-se pela ilha da Culatra,
         primeiro foi o seu antigo chefe em África,                            onde se chegaram a efectuar constru-
         Gago Coutinho, que efectuou com ele dois                              ções, mas o respectivo centro nunca foi
         voos em 23-02-1917  num “Maurice Far-                                 activado. O centro de dirigíveis também
         man 1912” (“Casta Suzana”), que o deli-                               nem foi estudado por opinião negativa
         ciaram. Outro convidado foi o então Mi-  Sacadura Cabral na Missão Geodésica de Angola.  de Sacadura.

         18 ABRIL 2000 • REVISTA DA ARMADA
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