Page 130 - Revista da Armada
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S. Jacinto (1918) - hidroaviões franceses.

         necessário adquirir aviões para formar  Portugal. Para avaliar e receber o mate-  Aveiro. Com notável esforço são postos
         uma esquadrilha em Angola, para apoio  rial deixado pelos franceses foi nomea-  a voar os antigos aviões deixados pelos
         ao Exército no sul de Angola. O Minis-  da, em 26-11-1918, uma comissão presi-  franceses e são efectuadas diversas ope-
         tério das Colónias reconheceu o empe-  dida por Sacadura Cabral. Foram rece-  rações aéreas, desde Águeda até ao
         nho e a eficácia com que Sacadura Cabral  bidos 8 “DD’s” (3 em mau estado) e 2  Porto, mais com a finalidade de atingir o
         desempenhou estas comissões, atribuin-  “Tellier’s” e 2 “GL’s”, dois hangares e  moral dos revoltosos do que para causar
         do-lhe um expressivo louvor.       diverso material. Tratava-se agora de  baixas. Sacadura Cabral que exercia
                                            manter este Centro de Aviação Naval de  nesta conjuntura o cargo de Director dos
         REORGANIZAÇÃO                      Aveiro operacional, embora os recursos  Serviços de Aeronáutica Naval foi louva-
         DA AERONÁUTICA NAVAL               humanos disponíveis fossem muito   do, pelo seu empenho na pronta reparação
                                            escassos. Nos Açores foi nomeado para  dos hidroaviões e pelo seu envolvimento
           Os Serviços de Aviação da Armada fo-  dirigir o Centro de Aviação da Horta o  directo nas operações (15-10-1919).
         ram reorganizados pelo Decreto n.º 3743,  Tenente Adolfo Trindade, que efectuou  Este episódio infeliz da nossa história
         de 05-01-1918 que criou a Direcção dos Ser-  a transferência do material para Ponta  teve a participação activa da Marinha e
         viços de Aeronáutica Naval, regulamenta-  Delgada e foi aos EUA adquirir quatro  da sua Aviação Naval na defesa das
         da pelo Decreto n.º 3815, de 02-02-1918,  hidroaviões “Curtiss – HS 21” que  instituições da República.
         que já previa a instalação de centros de  ficaram naquele centro a prestar serviço.
         aviação naval.                       Desde o início de Dezembro de 1918  AS VIAGENS TRANSATLÂNTICAS
           Mercê das diligências de Sacadura Ca-  Sacadura Cabral tinha assumido o cargo
         bral foram adquiridos, em França, como  de Director dos Serviços de Aeronáutica  Terminada a guerra, em quase todos os
         já vimos, diversos hidroaviões que se  Naval e foi a ele que coube a tarefa de  países com aviação, surge a época dos
         destinavam a efectuar a patrulha maríti-  reorganizar um serviço que contava com  “raids” e dos recordes de distância com
         ma (6 “DD’s” e 2 “Tellier’s”), o que per-  três centros de aviação, 24 aparelhos e  aviões.
         mitiu lançar a referida patrulha a partir  escassos pilotos, somente sete. Por outro  A primeira tentativa séria de efectuar a
         de meados de Maio de 1918, ao mesmo  lado as infra-estruturas eram igualmente  travessia aérea do Atlântico Norte foi em-
         tempo que os franceses a iniciavam a  insuficientes e de caracter precário, em  preendida, durante o ano de 1919, pela Ma-
         partir de S. Jacinto, no norte.    especial os hangares. Foram abatidos  rinha Americana. Estacionando navios de
           Neste serviço iria perder a vida um pi-  diversos aviões ( entre eles os FBA’s) e 3  guerra, de 60 em 60 milhas, os hidroaviões
         loto da nossa Marinha, o tenente Azeredo  “DD’s”. Especial atenção foi dedicada  partem da Terra Nova e alcançam os
         e Vasconcelos e o seu mecânico, por se ter  aos serviços de manutenção aeronáutica,  Açores, em Ponta Delgada, embora com
         perdido ao largo do Cabo da Roca, em  constituindo-se oficinas que mantiveram  algumas perdas. Coube ao Tenente Read
         23-08-1918, no seu avião, o “Tellier 5”.  excelente qualidade ao longo de toda a  efectuar, a 28-05-1919, no NC-4, a etapa
           Nos Açores a Marinha americana tinha  existência da Aviação Naval.  Ponta Delgada – Lisboa, tendo aqui con-
         sido autorizada a operar com base na                                  tactado Sacadura Cabral no Centro do
         Horta  hidroaviões de patrulha maríti- A REVOLTA MONÁRQUICA           Bom Sucesso. A travessia foi concluída
         ma, a partir de Março de 1918.     DO NORTE DE PORTUGAL               com a tirada Lisboa – Plymouth (Ingla-
           O Governo Francês reconhecendo a                                    terra).
         importante intervenção de Sacadura Ca-  Em Janeiro de 1919 deu-se, sob o co-  Esta viagem deve ter tido grande in-
         bral na cooperação aeronáutica luso-  mando de Paiva Couceiro uma incursão  fluência na decisão de Sacadura Cabral
         -francesa resolveu agraciá-lo com o grau  de tropas leais ao Rei, tendo sido procla-  tentar efectuar uma travessia transatlânti-
         de cavaleiro da Legião de Honra, tendo  mada a monarquia do Norte. A Presi-  ca, ainda mais ousada.
         o Ministro da Marinha autorizado em  dência da República, exercida pelo Al-
         12-07-1918 a usar a respectiva insígnia.   mirante Canto e Castro apelou à Mari-
           A Grande Guerra terminou a 11-11-1918  nha, que enviou um batalhão de mari-
         com o Armistício e de imediato franceses  nha, sob o comando de Afonso Cer-              Abílio Cruz Júnior
         e americanos decidiram desactivar os  queira e accionou os seus meios aéreos,                     V. ALM
         centros de aviação que operavam em  através do Centro de Aviação Naval de                 (Piloto aviador naval)

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