Page 270 - Revista da Armada
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Maurício de Oliveira
Maurício de Oliveira
Grande amigo da Marinha
á muito tempo, há quem diga Armadas de Portugal e da Espanha, eram apenas lixo. Depois da construção
que foi já no século passado, o comparação que achava alarmante, e quase simultânea dos quatro cruzadores
HContra-Almirante Roque Mar- data dessa época a sua segunda paixão: (três no estrangeiro e um em Portugal)
tins, Ilustre Director da Revista da a Marinha. Tinha apenas 18 anos. Esta em fins do século XIX por iniciativa do
Armada, convidou-me para escrever paixão havia de o acompanhar por toda ministro Jacinto Cândido pouco ou nada
para a sua revista um artigo sobre a sua vida. se fizera de consistente para a nossa
Maurício de Oliveira, fundador da A Marinha, ou melhor alguns jovens Marinha de Guerra. A nossa Primeira
"Revista de Marinha", personali- República legislava muito (era
dade que alguns sectores da Ma- necessário pois mudara-se de
rinha de Guerra acham não ter regime) mas fazia pouca obra.
tido por parte da corporação a Hoje em dia pretende-se justi-
devida consideração pelo traba- ficar esse abandono dos interes-
lho que fez em prol da nossa Ma- ses militares dada a vida agitada
rinha. da jovem República com várias
Como sou director da RM há revoltas, incursões monárquicas
vinte e quatro anos parecia ser a e a nossa entrada em guerra o
pessoa indicada para o fazer. Só que deveria até conduzir a uma
que eu nunca o conheci. Não lhe atitude contrária. A nossa expli-
sucedi no cargo pois faleceu em cação é muito diferente e temos
1972 e só tomei conta da RM em até exemplos bem recentes: a
1976. Pelo meio ficou como di- seguir a uma revolta militar que
rector interino Mimoso Moreira, muda o regime os políticos ten-
também já falecido, e que fora dem a desprezar os autores da
seu colaborador desde 1942 co- revolta que acham incómodos.
mo chefe da redacção do "Jornal A única iniciativa de vulto foi
da Marinha Mercante", revista a encomenda de três submarinos
semelhante à RM e que Maurício em 1915 na altura do ministro
de Oliveira também fundara nes- Azevedo Coutinho. Os quatro
se ano. contratorpedeiros começados a
Maurício de Oliveira, de seu construir no Arsenal da Ribeira
nome completo Maurício Carlos das Naus ainda no tempo da
Paiva de Oliveira, nasceu em Monarquia só se acabaram 12
Abrantes em 20 de Outubro de anos depois. Quando o último
1909, filho de um oficial do exér- ficou operacional já o primeiro
cito Agostinho Barreto Rodrigues estava velho. O ultimo da série, o
de Oliveira e de D. Carolina da "Tâmega" esteve 8 anos em car-
Purificação Trindade Paiva de reira, de 1914 a 1922, e já era
Oliveira. Este oficial do exército velho quando ficou operacional.
ascendeu no fim da sua carreira A canhoneira "Tejo" que perdera
ao generalato como Brigadeiro do 11 metros de proa por encalhe
Estado Maior. nas Berlengas em 1910 mas cuja
Maurício de Oliveira logo que reconstrução fora aprovada,
acabou o seu curso no Liceu Camões, oficiais dessa altura, desdenhavam do esteve cinco anos em fabricos vendo
apenas com 17 anos, ingressou no jor- jornalista ou achavam que um paisano passar vários ministros pela pasta da
nalismo que seria a paixão da sua vida. não podia perceber e muito menos es- Marinha.
Começou como repórter do jornal "O crever sobre assuntos de marinha. Nessa Era sobre isto, sobre a necessidade de
Rebate" donde transitou em 1929 para o época ainda não se dava a devida conta haver uma política naval coerente que
"Diário de Lisboa" no qual exerceu todas ao poder dos jornais. falava Maurício de Oliveira nos seus
funções desde repórter, a redactor e por Pouco tempo depois , em 1929, passou vários artigos que não se limitavam ao
fim a Secretário Geral. Passou neste jor- a desenvolver a sua acção no "Diário de "Diário de Lisboa". Escrevia também no
nal os melhores anos da sua vida, cerca Lisboa" onde, o seu mestre de jornalis- "Século", no "Povo", na "Tarde", no
de 36 anos, saindo em 1967 para fundar mo Joaquim Manso "… recebeu e aca- "A.B.C.", no "Notícias Ilustrado" entre
com outros colegas "A Capital" na sua rinhou entusiasticamente a campanha outros.
segunda fase. Em 1971 foi convidado pela Marinha, da qual eu era então, na Em 1930 o "Diário de Notícias", o
para director do "Jornal do Comércio" Imprensa Diária, o único pioneiro, da primeiro jornal português, abre-lhe as
onde veio a falecer prematuramente classe civil, pelo menos." como mais suas colunas. Segundo mais tarde es-
com 62 anos. tarde escreveu no seu livro "A Armada creveu Maurício de Oliveira "Eduardo
Foi no "Rebate" que em 1927 começou Gloriosa". Shwalbach (director do DN), espírito de
a escrever uma série de artigos sobre o Tínhamos de facto atingido o zero alta cultura, dava a sua adesão valiosís-
estado comparativo do valor das naval. Os navios de que dispunhamos sima à nobre cruzada da Marinha". Não
16 AGOSTO 2000 • REVISTA DA ARMADA